Tive o prazer de assistir a
algumas semanas atrás o filme que esteve em cartaz no Brasil com o título Paulo,
apóstolo de Cristo.[1]
Assim como fiz com o filme sobre Maria Madalena, gostaria de compartilhar com
você que nos acompanha minhas impressões sobre esse filme.
A história se passa no período
do imperador romano Nero, que governou entre os anos de 54 a 68 d.C.. Mais precisamente,
o filme está ambientado no momento logo após o episódio do incêndio que
destruiu quase metade da cidade de Roma em 64 d.C..
Nero acusou os cristãos como
causadores do incêndio e incitou uma perseguição na cidade de Roma contra seus
membros. Ele organizou espetáculos no Circus Maximus onde colocava os
cristãos para serem estraçalhados por feras famintas, crucificou outros e
queimava publicamente os cristãos à noite transformando-os em tochas humanas.
É nesse contexto que encontramos
Paulo, já idoso e preso por Nero, aguardando sua execução. Também encontramos o
personagem de Lucas, o “querido médico”, discípulo de Paulo que vem encontra-lo
na prisão. Vários personagens são citados ou tem algum espaço no filme dos
quais conhecemos apenas os nomes ou poucas informações por meio das cartas de
Paulo: o casal Áquila e Priscila, Timótio é citado várias vezes, Pedro também é
citado, Teófilo, entre outros nomes.
O filme apresenta, de modo
fictício, como Lucas teria escrito o livro dos Atos dos Apóstolos. O filme
coloca Lucas conversando com Paulo na prisão, procurando registrar a memória e
o testemunho de sua vida missionária desde sua conversão até sua última viagem
como prisioneiro para Roma.
É uma narrativa envolvente e que
apresenta os cristãos como um grupo com altos ideais de amor e solidariedade
sendo perseguidos por um sistema cruel e desumano. Também a película tenta
colocar os dilemas morais de como se posicionar diante de tanto sofrimento,
mortes injustas, medo e grandes perdas. Temos na comunidade cristã o conflito
ético e moral entre os defensores de uma mensagem de amor e perdão, de um lado,
e os que acham que deveriam reagir a perseguição e lutar contra o Nero, por
outro lado.
Cena do filme: Paulo, apóstolo de Cristo |
Não é um filme que traga
polêmicas envolvendo seus personagens principais, ou que faça uma tentativa de
leitura crítica da história do cristianismo desse período.
O que encontramos é um filme com
uma mensagem do tipo edificante, apresentando modelos de fé e de perseverança
diante das dificuldades e sofrimentos. Várias falas do personagem Paulo são
tiradas de suas cartas do Novo Testamento, colocadas dentro de um contexto para
dar um significado mais contundente e reafirmar a figura de Paulo como um
grande apóstolo.
O filme não se preocupou em
tratar das tensões entre Paulo e a corrente judaizante dos cristãos, ou
polêmicas em torno de interpretações de alguns de seus textos como, por exemplo, é o caso daqueles que foram considerados
base para uma visão discriminatória em relação às mulheres na Igreja.
O centro do filme é dar ao
telespectador a experiência da beleza da fé cristã, dos seus altos valores
espirituais, da força de sua mensagem.
O que eu poderia dizer de
positivo e de não tão positivo nesse filme?
Positivamente, ele apresenta uma
forte característica do cristianismo nascente que era sua presença junto aos
pobres. Mesmo havendo pessoas ricas que aderiam à fé cristã, a maioria dos
membros da comunidade provinha dos pobres, escravos e camponeses. O filme
apresenta isso de forma idealizada, enfatizando a solidariedade da comunidade
cristã para com os pobres e os que sofrem, porém não deixa de ser algo concreto
essa característica das primeiras comunidades, o que atraiu muito a atenção das
pessoas e gerou muitas conversões.
Outra coisa é o respeito pela
figura de Paulo. Realmente ele ganhou notoriedade entre os cristãos ao ponto de
suas cartas serem lidas e compartilhadas entre as comunidades tornando-se uma
fonte de instrução e orientação. Mesmo o filme não tratando diretamente dessa
questão, fica evidente a importância da palavra de Paulo como fonte de orientação
na vida das comunidades.
Sobre sua morte, o filme
conserva os dados da tradição cristã, já que não temos outras informações.
Porém, também idealiza esse momento, mostrando um Paulo firme e tranquilo, enquanto
seus algozes parecem diminuir diante dele mesmo nesse momento.
O que eu poderia chamar a
atenção para o que considero não tão positivo é justamente a forma idealizada
como Paulo, Lucas e a comunidade são tratados em alguns momentos do filme.
Acredito que isso empobrece a complexidade que era ser cristão naquele contexto
específico. Mesmo as tentativas de criar momentos de crise acabam passando de
forma muito superficial, não fazendo com que se sinta que realmente havia uma
dificuldade significativa, pois facilmente se vislumbrava qual o caminho de
solução que iria ser apresentado no processo.
Outro problema é o anacronismo
presente em vários momentos do filme, refletindo nossa compreensão atual da
mensagem cristã e projetando-a para as primeiras comunidades. Ideais que
espiritualizam a mensagem evangélica de modo diferente do que realmente eles provavelmente
pensavam devido o contexto e cultura distintos do nosso. É difícil não projetar
nossos dilemas e interpretação da mensagem de Jesus para dentro do filme, já
que também hoje continuamos a enfrentar sofrimentos, problemas, desafios que
testam o valor e a constância da fé cristã. Porém, entendo que essa projeção empobrece
nossa compreensão de como a fé cristã esteve presente e se desenvolveu nesse
período, fazendo o público acreditar que a mensagem cristã sempre foi entendida
do mesmo modo.
Cena do filme: Paulo, apóstolo de Cristo |
Por fim, entre os prós e os
contras, considerei essa obra cinematográfica um bom filme. Ele tem momentos
que são tocantes e com uma mensagem positiva de fé e esperança. Vale a pena
assistir para animar em nosso coração o ideal da vida cristã enquanto horizonte
que nos convida a buscar uma vida virtuosa e elevada, que o filme desenha nas
entrelinhas de sua narrativa para seu público. Mesmo não enfrentando de modo
mais realista as contradições da vida cristã em meio aos conflitos e dores da
história, o filme oferece um horizonte para olharmos e afirma que o
cristianismo tem uma mensagem que pode transformar os ser humano, que pode
torna-los melhores, que oferece um caminho para construirmos um mundo mais
fraterno e justo.
[1]
Nome: Paulo, Apóstolo de Cristo
Nome Original: Paul - Apostle of Christ
Cor filmagem: Colorida
Origem: EUA
Ano de produção: 2018
Gênero: Religioso, Drama
Duração: 108 min
Classificação: 12 anos
Direção: Andrew Hyatt
Elenco: James Faulkner, Jim Caviezel
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