domingo, 1 de julho de 2018

Paulo, apóstolo de Cristo: um olhar sobre o filme


Tive o prazer de assistir a algumas semanas atrás o filme que esteve em cartaz no Brasil com o título Paulo, apóstolo de Cristo.[1] Assim como fiz com o filme sobre Maria Madalena, gostaria de compartilhar com você que nos acompanha minhas impressões sobre esse filme.
A história se passa no período do imperador romano Nero, que governou entre os anos de 54 a 68 d.C.. Mais precisamente, o filme está ambientado no momento logo após o episódio do incêndio que destruiu quase metade da cidade de Roma em 64 d.C..
Nero acusou os cristãos como causadores do incêndio e incitou uma perseguição na cidade de Roma contra seus membros. Ele organizou espetáculos no Circus Maximus onde colocava os cristãos para serem estraçalhados por feras famintas, crucificou outros e queimava publicamente os cristãos à noite transformando-os em tochas humanas.
É nesse contexto que encontramos Paulo, já idoso e preso por Nero, aguardando sua execução. Também encontramos o personagem de Lucas, o “querido médico”, discípulo de Paulo que vem encontra-lo na prisão. Vários personagens são citados ou tem algum espaço no filme dos quais conhecemos apenas os nomes ou poucas informações por meio das cartas de Paulo: o casal Áquila e Priscila, Timótio é citado várias vezes, Pedro também é citado, Teófilo, entre outros nomes.
O filme apresenta, de modo fictício, como Lucas teria escrito o livro dos Atos dos Apóstolos. O filme coloca Lucas conversando com Paulo na prisão, procurando registrar a memória e o testemunho de sua vida missionária desde sua conversão até sua última viagem como prisioneiro para Roma.
É uma narrativa envolvente e que apresenta os cristãos como um grupo com altos ideais de amor e solidariedade sendo perseguidos por um sistema cruel e desumano. Também a película tenta colocar os dilemas morais de como se posicionar diante de tanto sofrimento, mortes injustas, medo e grandes perdas. Temos na comunidade cristã o conflito ético e moral entre os defensores de uma mensagem de amor e perdão, de um lado, e os que acham que deveriam reagir a perseguição e lutar contra o Nero, por outro lado.
Cena do filme: Paulo, apóstolo de Cristo
Não é um filme que traga polêmicas envolvendo seus personagens principais, ou que faça uma tentativa de leitura crítica da história do cristianismo desse período.
O que encontramos é um filme com uma mensagem do tipo edificante, apresentando modelos de fé e de perseverança diante das dificuldades e sofrimentos. Várias falas do personagem Paulo são tiradas de suas cartas do Novo Testamento, colocadas dentro de um contexto para dar um significado mais contundente e reafirmar a figura de Paulo como um grande apóstolo.
O filme não se preocupou em tratar das tensões entre Paulo e a corrente judaizante dos cristãos, ou polêmicas em torno de interpretações de alguns de seus textos como, por exemplo, é o caso daqueles que foram considerados base para uma visão discriminatória em relação às mulheres na Igreja.
O centro do filme é dar ao telespectador a experiência da beleza da fé cristã, dos seus altos valores espirituais, da força de sua mensagem.
O que eu poderia dizer de positivo e de não tão positivo nesse filme?
Positivamente, ele apresenta uma forte característica do cristianismo nascente que era sua presença junto aos pobres. Mesmo havendo pessoas ricas que aderiam à fé cristã, a maioria dos membros da comunidade provinha dos pobres, escravos e camponeses. O filme apresenta isso de forma idealizada, enfatizando a solidariedade da comunidade cristã para com os pobres e os que sofrem, porém não deixa de ser algo concreto essa característica das primeiras comunidades, o que atraiu muito a atenção das pessoas e gerou muitas conversões.
Outra coisa é o respeito pela figura de Paulo. Realmente ele ganhou notoriedade entre os cristãos ao ponto de suas cartas serem lidas e compartilhadas entre as comunidades tornando-se uma fonte de instrução e orientação. Mesmo o filme não tratando diretamente dessa questão, fica evidente a importância da palavra de Paulo como fonte de orientação na vida das comunidades.
Sobre sua morte, o filme conserva os dados da tradição cristã, já que não temos outras informações. Porém, também idealiza esse momento, mostrando um Paulo firme e tranquilo, enquanto seus algozes parecem diminuir diante dele mesmo nesse momento.
O que eu poderia chamar a atenção para o que considero não tão positivo é justamente a forma idealizada como Paulo, Lucas e a comunidade são tratados em alguns momentos do filme. Acredito que isso empobrece a complexidade que era ser cristão naquele contexto específico. Mesmo as tentativas de criar momentos de crise acabam passando de forma muito superficial, não fazendo com que se sinta que realmente havia uma dificuldade significativa, pois facilmente se vislumbrava qual o caminho de solução que iria ser apresentado no processo.
Outro problema é o anacronismo presente em vários momentos do filme, refletindo nossa compreensão atual da mensagem cristã e projetando-a para as primeiras comunidades. Ideais que espiritualizam a mensagem evangélica de modo diferente do que realmente eles provavelmente pensavam devido o contexto e cultura distintos do nosso. É difícil não projetar nossos dilemas e interpretação da mensagem de Jesus para dentro do filme, já que também hoje continuamos a enfrentar sofrimentos, problemas, desafios que testam o valor e a constância da fé cristã. Porém, entendo que essa projeção empobrece nossa compreensão de como a fé cristã esteve presente e se desenvolveu nesse período, fazendo o público acreditar que a mensagem cristã sempre foi entendida do mesmo modo.
Cena do filme: Paulo, apóstolo de Cristo
Por fim, entre os prós e os contras, considerei essa obra cinematográfica um bom filme. Ele tem momentos que são tocantes e com uma mensagem positiva de fé e esperança. Vale a pena assistir para animar em nosso coração o ideal da vida cristã enquanto horizonte que nos convida a buscar uma vida virtuosa e elevada, que o filme desenha nas entrelinhas de sua narrativa para seu público. Mesmo não enfrentando de modo mais realista as contradições da vida cristã em meio aos conflitos e dores da história, o filme oferece um horizonte para olharmos e afirma que o cristianismo tem uma mensagem que pode transformar os ser humano, que pode torna-los melhores, que oferece um caminho para construirmos um mundo mais fraterno e justo.




[1] Nome: Paulo, Apóstolo de Cristo
Nome Original: Paul - Apostle of Christ
Cor filmagem: Colorida
Origem: EUA
Ano de produção: 2018
Gênero: Religioso, Drama
Duração: 108 min
Classificação: 12 anos
Direção: Andrew Hyatt
Elenco: James Faulkner, Jim Caviezel

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