domingo, 2 de dezembro de 2018

Conversando sobre a Escola sem Partido

Na semana passada fui convidado para conversar um pouco sobre o tema "Escola sem partido". A conversa aconteceu no programa Dinâmica do Direito na TV AD Mossoró.
Não fui como especialista, mas como professor, educador, que está acompanhando essa discussão.
Pela complexidade e pelo tempo para falar sobre o assunto não foi possível uma discussão mais profunda, porém foi possível tratar de alguns pontos importantes e trazer algumas provocações para que as pessoas se interessem mais pelo assunto.
Assistam ao vídeo:




FONTE ORIGINAL: Dinâmica de Direito

domingo, 18 de novembro de 2018

O combate ao clericalismo e as reformas de Francisco



FONTE DESTE TEXTO: Instituto Humanitas Unisinos 

“Este artigo não é anticlerical. Ele é contra o clericalismo, que necessita dos padres e dos leigos, duas categorias que não existem uma sem a outra.”
A opinião é do teólogo francês Bernard Paillot, professor do Centro de Teologia Universitária de Rouen, na França, em artigo publicado por Baptises.fr, 28-10-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

“Nem todos morriam, mas todos eram atingidos” (“Os animais doentes de peste”, La Fontaine)
Não se trata de voltar à invectiva de Gambetta (“Le cléricalisme, voilà l’ennemi”, discurso de 4 de maio de 1877), mas de avançar com o nosso papa quando ele escreve: “O clericalismo, favorecido tanto pelos próprios sacerdotes quanto pelos leigos, gera uma divisão no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que hoje denunciamos”. Três cartas recentes do nosso papa, uma das quais destinada “ao povo de Deus”, levaram-me a redigir este texto [1].
Tento propor aqui uma reflexão teológica evocando alguns desvios nos quais se baseia o clericalismo.
Duas considerações preliminares:
- Este artigo não é anticlerical. Ele é contra o clericalismo, que necessita dos padres e dos leigos, duas categorias que não existem uma sem a outra. O denominador comum de todas as facetas do clericalismo é uma relação desigual entre padres e leigos, sendo os padres e os leigos corresponsáveis quando aceitam livremente essas relações insalubres (evidentemente, não se trata de condenar as vítimas, que, ao contrário, sofrem a relação!);
- também não se trata, aqui, de focar nos abusos sexuais, embora a revelação desse escândalo mundial tenha sido a ocasião das recentes cartas de Francisco. Muitos já se ocupam disso. Reconhecemos, com o nosso papa, que o clericalismo foi uma das condições da sua existência, da sua difusão e da sua impunidade até tempos recentes. Mas o clericalismo tem outros efeitos bem diferentes sobre as inteligências e as consciências. “Ele não só anula a personalidade dos cristãos, mas também tem uma tendência a diminuir e desvalorizar a graça batismal que o Espírito Santo pôs no coração do nosso povo”, escreve Francisco.
Eu escreverei sucessivamente sobre:
- o desvio de sentido de certas expressões;
- certos erros relativos ao sacramento da ordem;
- certas deformações do ministério presbiteral.

1. O clericalismo se aproveita de certas expressões mal compreendidas ou utilizadas erroneamente

Uma dessas expressões é “alter Christus” e “in persona Christi” ou a sua variante “in persona Christi capitis” que, não traduzidas, são facilmente percebidas por alguns com uma aura de mistério, como uma espécie de “transfiguração” que contribui, erroneamente, para sacralizar o padre.
De acordo com a origem etimológica, em referência ao teatro grego antigo, devemos compreender “persona” como “papel”. Trata-se do papel desempenhado pelo padre nos sacramentos.
Assim, nas assembleias eucarísticas, o padre faz, “in persona Christi”, o relato da Última Ceia e pronuncia as palavras de Jesus, mas é Cristo que age através do padre, e não o padre que faz Cristo “aparecer”. Essa representação não se aplica aos atos e palavras não sacramentais do padre. Na vida religiosa atual e para as atividades profanas, o pároco não encarna Cristo na sua paróquia, nem o bispo na sua diocese.

2. Dois erros concernentes ao sacramento da ordem

A associação entre a ordenação e um grau superior de santidade
A associação entre a ordenação e um grau superior de santidade está em muitas mentes há muito tempo. Não era incomum ouvir: “Ele se tornou padre para salvar a sua alma”!
No decreto do Vaticano II sobre o ministério e a vida dos padres, lemos um enunciado (Presbyterorum ordinis §12) que pode parecer ambíguo, porque, mesmo que o artigo comece recordando que certos padres “já pela consagração do Batismo receberam com os restantes fiéis o sinal e o dom de tão insigne vocação e graça para que, mesmo na fraqueza humana, possam e devam alcançar a perfeição”, acrescenta: “Fazendo todo o sacerdote, a seu modo, as vezes da própria pessoa de Cristo, de igual forma é enriquecido de graça especial para que, servindo todo o Povo de Deus e a porção que lhe foi confiada, possa alcançar de maneira conveniente a perfeição d’Aquele de quem faz as vezes”. Mas a graça do sacramento da ordem é uma graça para os outros.
A ordenação não é um superbatismo, que constitui uma classe de supercristãos. Os Padres do Concílio Vaticano II expressam firmemente: “Comum é a dignidade dos membros (do povo de Deus), pela regeneração em Cristo; comum a graça de filhos, comum a vocação à perfeição; uma só salvação, uma só esperança e uma caridade indivisa. Nenhuma desigualdade, portanto, em Cristo e na Igreja” (Constituição sobre a Igreja, Lumen gentium, LG § 32).
Afirmamos muito claramente que a santidade não depende do estado de cada um – celibatário, casado, viúva, padre –, mas da sua resposta pessoal à graça que é concedida a todos, porque Deus quer que todas as pessoas sejam salvas.
A ordenação e seus limites
O batismo é a única fonte de toda a vida cristã. Os sacramentos posteriores à iniciação cristã conferem uma “qualificação” própria. A ordem, assim como o matrimônio, consagra caminhos diferentes da vida batismal comum e confere àqueles que recebem o sacramento uma atitude nova e um lugar determinado na comunidade. Trata-se de uma modificação do modo de ser-para-os-outros, mas não de uma modificação da essência. Novamente, não existem super-humanos!
Francisco recorda isso em sua carta ao cardeal Ouellet: “Nossa primeira e fundamental consagração afunda suas raízes em nosso batismo. Ninguém foi batizado padre nem bispo”.
No entanto, Pio X, na sua encíclica Vehementer nos (1906), descreveu a Igreja como uma “sociedade de essência desigual que compreende duas categorias de pessoas”. E continuava: “Essas categorias são tão claramente distintas entre si que só no corpo pastoral residem o direito e autoridade necessários para promover e dirigir todos os membros rumo às finalidades sociais; e que a multidão não tem outro dever senão o de se deixar guiar e de seguir, como um dócil rebanho, os seus Pastores”, imagem ainda impressa em muitas mentes.
Se os Padres do Concílio Vaticano II escreveram: “O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico se diferenciam essencialmente” (LG § 10), eles também enunciaram firmemente a igual dignidade de todos os batizados (§ 12). São os sacerdócios que diferem essencialmente, não os filhos de Deus!
Francisco insiste: “Mas [...] essa afirmação da igual dignidade no seio da Igreja pode provocar e justificar [...] sentimentos de indignação quando essa dignidade, afirmada em linha de princípio, não parece honrada pela instituição, pelo seu discurso, pelas suas regras, pelas suas tradições, pela sua casuística etc., em relação às aspirações que emergem legitimamente nas consciências e nas comunidades”.
É desde o seminário que os desvios ocorrem. Os seminários têm o efeito de integrar no espírito dos seminaristas um ordo, uma ordem constituída, que segue o espírito de Pio Xe que não pode deixar de recordar o Ancien Régime e as suas três ordens. E esse estado de espírito se desdobra facilmente em uma monarquia clerical que ignora que muitas questões devem ser tratadas segundo a subsidiariedade e a colegialidade (incluindo os leigos).
Por que alguns bispos mandam seus postulantes para uma instituição fora da sua diocese, embora uma parte dos estudos seja dispensada em sua própria diocese e permita que os leigos obtenham diplomas canônicos?
São inúmeros os pontos da vida das paróquias e das dioceses que deveriam envolver todos os batizados, os quais deveriam poder exercer responsabilidades de acordo com suas competências, mas são impedidos pelo espírito de poder que predomina sobre o do serviço junto a certos padres e leigos clericalizados”!
Pelo contrário, vale a pena se debruçar sobre a iniciativa significativa e exemplar do Papa Francisco na preparação dos sínodos dos bispos sobre a família e depois no sínodo sobre os jovens e a fé cristã: ao contrário do costume relativo ao clericalismo, ele pediu a participação de todos os batizados na preparação do documento de trabalho dos Padres sinodais! Uma preparação de baixo para cima! Algo jamais visto antes!
A mediação do padre não é absolutamente necessária. Ela é subordinada (à de Cristo), útil (se procede da misericórdia do Pai), mas não indispensável ao Espírito (que sopra onde quer).

3. O padre está a serviço dos batizados... mas, de fato, o poder suplanta o serviço muito frequentemente

Nos Evangelhos, os apelos de Jesus (palavras e atos) ao serviço e à caridade são numerosos demais para serem lembrados aqui. Mas talvez possamos meditar sobre a interrogação que surge depois de lavar os pés dos discípulos: “Vocês compreenderam o que acabei de fazer?” (Jo 13, 12b). Podemos ler tanto um convite à reflexão quanto uma consternação diante das resistências humanas.
A propósito de desvios do serviço em poder, vejamos a realidade dos direitos dos fiéis na Igreja. Evocarei apenas dois aspectos, a título de exemplo.
a) O direito de expressão
É um direito explicitado no Direito Canônico (formulado com o estilo que convém): “Os fiéis, segundo a ciência, a competência e a proeminência de que desfrutam, têm o direito e mesmo por vezes o dever, de manifestar aos sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja, e de a exporem aos restantes fiéis, salva a integridade da fé e dos costumes, a reverência devida aos Pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas” (c. 212 § 3). E o cânone 221 § 1 afirma que “aos fiéis compete o direito de reivindicar legitimamente os direitos de que gozam na Igreja, e de os defender no foro eclesiástico competente segundo as normas do direito”.
Ad intra, a expressão do cristão leva a evocar o sensus fidei. Este pode ser considerado, em nível pessoal, como uma capacidade de perceber a verdade da fé, recebida do Espírito Santo que “nos introduz a toda a verdade”. Em nível comunitário, embora o sensus fideie a opinião pública não sejam da mesma natureza, eles estão intimamente ligados, mas não entraremos nessa distinção aqui. Deixaremos a questão em aberto: vox populi vox Dei?
Se o direito de expressão dos fiéis na Igreja é reconhecido, individualmente ou em associação, onde ele pode ser exercido? Existem lugares de expressão e de debate na Igreja? Infelizmente, na prática, muito frequentemente, constatamos que se escutam aqueles que se optou por escutar, e se ouvem aqueles que se tem a vontade de ouvir! É o que pode acontecer nos sínodos diocesanos, que muitas vezes parecem ser lugares de reflexão e de diálogo para os fiéis. Mas eles são convocados, como conselhos, pelo bispo sobre um assunto que ele define e é ele, no fim, quem redige e promulga os decretos do sínodo e os transmite a Roma.
Assim, não é raro que os participantes nas assembleias sinodais fiquem, ao mesmo tempo, entusiasmados com a iniciativa e frustrados com a impossibilidade de discutir certas questões ou a sua omissão no documento final.
Ad extra, e apesar de padres e bispos não serem os porta-vozes dos fiéis, que absolutamente não participaram da sua nomeação, a mídia busca principalmente a palavra da hierarquia clerical do que a dos fiéis que, em sua grande parte, estão acostumados e resignados com esse fato. Assim, as declarações públicas dos leigos que tentam expressar suas diferenças são facilmente marginalizadas. Restam as redes sociais, em que, como em outros âmbitos, há de tudo, para o bem e para o mal.
b) Direitos trabalhistas
Igreja expressou-se amplamente sobre o assunto com uma rica e abundante “doutrina social”, concernente ao mundo do trabalho, aos seus papéis, às suas regras... E na prática, dentro das instituições, organizações e comunidades eclesiais? Cada vez mais, os leigos exercem – na maioria dos casos voluntariamente, mas às vezes também sob formas de emprego assalariadas – funções diversas nas instituições eclesiais. Aí frequentemente também reina o clericalismo, porque as responsabilidades importantes raramente são confiadas aos leigos, e estes, muito frequentemente, ainda permanecem em uma situação de subordinação ao clero, seja qual for o nível das suas competências e/ou da natureza religiosa ou profana da tarefa.
Inversamente, também é verdade que alguns leigos se apropriam de certas funções e não aceitam que estas sejam questionadas ou possam ter um fim.
Mais gravemente, em nome do “serviço à Igreja”, muitos abusos se perpetuam às custas dos fiéis leigos e/ou de religiosos: superação dos horários de trabalho combinados, salários muitas vezes baixos ou até inexistentes. Aliás, foi somente a partir de 1997 que os bispos franceses adotaram um “estatuto do pessoal leigo da Igreja da França”, que foi seguido, há nove anos, pela implementação das primeiras convenções coletivas em 2016 que levaram à constituição de um acordo setorial entre os representantes dos empregadores e dos sindicatos.
E, nesse mesmo ano, um artigo publicado no dia 1º de março no L’Osservatore Romano lançava um alerta sobre o trabalho “(quase) gratuito” das freiras a serviço de bispos e de cardeais. Esses fatos certamente não são uma exclusividade romana. Eles também fazem parte do clericalismo em favor de seus autores e/ou beneficiários, já que o abuso de autoridade gera uma exploração que pode se tornar sórdida.

Em conclusão

Não podemos senão aderir em pensamento, palavras e ações às injunções do nosso papa que escreve: “Tudo o que for feito para erradicar a cultura de abuso das nossas comunidades, sem uma participação ativa de todos os membros da Igreja, não conseguirá gerar as dinâmicas necessárias para uma saudável e realista transformação”; “É impossível imaginar uma conversão do agir eclesial sem a participação ativa de todos os integrantes do povo de Deus”, e ainda: “É a hora dos leigos, mas parece que o relógio parou!”.
A Igreja “é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1). A Igreja não é somente o meio, mas também a própria mensagem.
E, como escreveu Francisco: “A visibilidade e a sacramentalidade da Igreja pertencem a todo o povo de Deus (cf. LG 9-14), e não apenas a uns poucos eleitos e iluminados”.
Francisco nos chama a uma conversão radical e a uma “revolução” das práticas para todos os católicos, porque nós somos todos, mais ou menos, atingidos pela peste do clericalismo. Cinco séculos depois da Reforma Protestante, uma nova Reforma é necessária para pessoas e instituições. Ela só será possível através de Igrejas e comunidades locais das quais se deve reconhecer a diversidade sem desconhecer a universalidade na comunhão. Francisco expressa isso de uma maneira lapidar: “Não se podem dar diretrizes gerais para uma organização do povo de Deus dentro de sua vida pública”.
Essa nova Reforma, não só espiritual, mas também funcional e institucional, sine qua non, deverá se basear na promoção da dignidade dos batizados, na sua formação, na sua colaboração responsável. O sacerdócio ministerial, em todos os níveis da hierarquia clerical, cumprirá então a sua missão junto aos fiéis leigos pelo serviço essencial da comunhão e da unidade na diversidade.
Se a Igreja de Cristo realmente “subsiste” na Igreja Católica (cf. LG 8), ela deverá mostrá-la nos fatos e na reforma de suas instituições. Caso contrário, essa Igreja Católica Romana, cada vez mais desacreditada, será cada vez mais desertada pelos fiéis de Cristo; seu anúncio e sua participação no advento do Reino não serão mais audíveis e correrão fortemente o risco de passar ainda mais por outros canais.
Nota:


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

“Deus acima de todos!?”



Autoria: Marcos Maciel de Souza Araújo[1]

         No dia 28 de outubro de 2018, os brasileiros foram as urnas e elegeram, com um pouco mais de 55% dos votos válidos, o deputado Jair Bolsonaro para presidente da república. A campanha desse ano foi especialmente marcada por extremismos, que resultaram em discursos de ódio e divisões em diversas esferas da sociedade, como nas famílias e até na Igreja.
O presidente eleito representa a extrema direita e surgiu no quadro político brasileiro como uma resposta aos governos anteriores maculados pela corrupção que desencadeou uma grande crise política e econômica. Nisso se destaca o partido dos trabalhadores (PT) que, por ser o partido que estava à frente do poder executivo nacional e ter uma parte significativa dos seus líderes acusados e até presos por corrupção, acabou se tornando o grande representante dos grupos corruptos, ainda que não seja o único partido incluído e nem o que mais tem integrantes envolvidos em escândalos.
            Bolsonaro, apesar de, ao longo de sua vida política, ter feito várias declarações polêmicas e de cunho preconceituoso, homofóbico, xenofóbico, misógino e racista, fez uma campanha em nome da “moral, dos bons costumes, da família tradicional e de Deus”, para isso usou como lema de sua campanha e de sua chapa a frase “Brasil a cima de tudo e Deus acima de todos”.  
            Agora, após o resultado, parece-me que o presidente eleito continuará com o seu bordão e talvez até o torne lema pessoal de sua gestão, haja vista que já em seus discursos como presidente eleito continua a usá-lo, sempre o utilizando para finalizar os seus pronunciamentos. Essa frase se tornou como que sua assinatura após cada discurso, se tornou uma espécie de “amém” usado pelos cristãos, se tornou o ponto alto onde, ao ser pronunciada, os seus apoiadores entram em euforia.
Acredito que a primeira parte da frase “Brasil a cima de tudo”, para um presidente da república está corretamente empregada, afinal é dever dele colocar os interesses nacionais, o desenvolvimento do país e o bem comum da população como prioridade e acima de qualquer interesse ou benefício pessoal ou de terceiros. Porém até que ponto cabe a segunda parte do “Deus acima de todos”? Será que seria ético e correto sua utilização por um representante do estado? E até mesmo no discurso teológico, seria ela benéfica para os que ainda não possuem uma fé madura ou esclarecida? E, afinal, qual seria esse Deus?    
            Bom, começo respondendo a essas indagações partindo do campo político, ético e jurídico. Para isso, lembro que já em seu compromisso constitucional no dia da posse, o presidente promete “manter, defender e cumprir a constituição”, assim sendo, ele torna-se o primeiro representante desta. Partindo deste ponto, recordamos que, conforme o inciso VI do artigo 5º, bem como o inciso I do artigo 19 da Constituição Federal, o Brasil se configura como um Estado laico, logo, defende a liberdade de qualquer crença, mas não professa nenhuma e consequentemente se mantém neutro. Embora segundo o índice do IBGE de 2010, a maioria da população brasileira (estatisticamente 86,8%) se declare cristã (católicos e protestantes), existe uma parcela significativa (13,2%) que não professam a fé cristã ou até mesmo que não professam nenhuma fé[2].
Entendo que a partir do momento em que é eleito, o presidente se torna o presidente de todos os cidadãos, independente das suas concepções morais e religiosas devendo, portanto, governar para todos, sem excluir as minorias. Somando todos esses fatos, presumo que não é ético para o presidente, nas atividades do exercício do seu cargo, manter ou insistir num discurso religioso como fonte, amparo ou argumento de suas realizações. Isso, obviamente, não quer dizer que em sua intimidade ou fora das suas atividades oficiais ou em colocações que não se refiram ao governo, ele não possa professar sua fé e suas convicções, mas, pelo contrário, nessas situações ele até o deve fazer como resposta a sua fé.   
            Partindo para o campo da análise teológica, o primeiro questionamento que fazemos é a respeito de qual é o Deus que a frase se refere, afinal, mesmo no nosso país, existe uma variedade de culturas e religiões, por conseguinte, variadas imagens de Deus. No entanto, pelas declarações e pela história de fé de Bolsonaro, fica evidente que se refere ao Deus dos cristãos. Na teologia, e até mesmo na psicologia, algumas correntes defendem que a imagem que temos de Deus relaciona-se diretamente com quem somos, com o que nos tornamos ao longo da vida ou com o que aspiramos e defendemos. Por isso, quando ouço Bolsonaro afirmar sobre o “Deus acima de todos”, fico refletindo qual seria a imagem de Deus que ele tem, já que em suas famosas declarações polêmicas chegou a defender a tortura e a pena de morte, negou que existiu a ditadura no brasil e mesmo sobre essa afirmou que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”[3]; demonstrou por diversas vezes intolerância com quem pensa diferente, sobretudo com os homossexuais, chegando ao ponto de afirmar que "Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo [...]"[4]. Deixou também claro em uma entrevista o seu racismo ao afirmar que os filhos dele foram bem educados e não correria o risco de namorarem com uma negra[5], e não menos grave considerou a mulher inferior ao homem, como por exemplo quando afirmou que não empregaria uma mulher com o mesmo salário do que o dele por ser homem[6].
Para qualquer um que conhece pelo menos o básico do Evangelho, fica clara a distância de coerência entre todos esses posicionamentos e a mensagem evangélica, que defende sobretudo a dignidade humana e o respeito fraterno. Bom, talvez Bolsonaro, até pela sua trajetória militar, acostumado com o autoritarismo, com a hierarquia, com o uso da força e da violência para vencer o inimigo, tenha de fato uma visão desse Deus que está acima de todos, que está na posição do “comandante e chefe” do universo, onde todas as criaturas nada mais são do que seus comandados que devem obedecer sem qualquer tipo de questionamento, ou caso contrário receberão a punição devida.     
            Grande parte dos apoiadores de Bolsonaro parecem compartilhar da mesma visão que ele do “Deus acima de todos”. Não obstante, há um fato em peculiar que não podemos deixar passar despercebido, que é o do perfil do eleitor. De modo geral, se observou que as elites e as classes dominantes brasileiras, ou seja, o pessoal “de cima”, apoiaram a candidatura de Bolsonaro, enquanto que as pessoas mais pobres, oprimidas ou que fazem parte dos grupos de “minoria”, ou seja, o pessoal “de baixo”, decidiram se posicionar contra, o maior fato disto é que na região nordeste, que é a região mais pobre do Brasil[7], Bolsonaro foi derrotado em todos os estados e com uma diferença expressiva. Esta observação, me leva a pensar que embora para muitos pobres Deus seja “tudo na vida” deles, não é ainda esse Deus acima deles, ou pelo menos não esperam que Ele esteja, como todos os outros, acima deles, mas com eles. Me encanta muito a sabedoria do pessoal simples, pobre, marginalizados ou excluídos, pois apesar de sua pouca instrução, são capazes de falar profundamente de Deus, pois o que eles conhecem de Deus não são o que leram em livros, mas verdades de experiências de vida que tiveram com Deus, são testemunhos autênticos e verdadeiros, carregados de fé e piedade.
            Neste ponto, como acadêmico de teologia, acredito que quem opta por não ficar com o discurso do “Deus acima de todos”, se aproxima com maior sublimidade do que Deus realmente revelou a todos nós sobre Ele em toda a história do plano divino da Salvação. Ao observar a dinâmica de Deus ao decorrer de toda a Sagrada Escritura, chego à conclusão de que Deus realmente nunca quis estar acima de todos, mas que, ao contrário, quis estar e habitar entre os seus (Ex 25,8), e mais do que isso, quis estar dentro do coração do homem (Ez 36,26). O maior argumento desse querer de Deus de não ser tratado de modo excedente, é o próprio Jesus Cristo, que como nos diz o hino cristológico de Fl 2, 6-11, abriu mão de ser tratado como um Deus, e se despojou tomando a forma de escravo, ou seja, do menor entre todos.
            Por estes fatos, revelados a nós por meio das escrituras sagradas, prefiro ficar com a posição do “Deus entre nós”. De um Deus que sempre quis estar próximo e entrar na dinâmica da vida humana, que faz do homem a sua imagem e semelhança e confia a criação ao seu domínio, para que juntos, lado a lado, a governassem (Gn 1,1 – 2,25), que caminha com o seu povo (Ex 15,22 – 18,27), que estabelece a sua morada entre os seus (Ex 40,34-38). Prefiro reconhece-lo como um Deus que se fez homem igual a nós, exceto no pecado, mas que se inclina para ficar na altura do pecador (Jo 8,6-11), que mesmo sendo mestre e senhor retira seu manto, símbolo de sua dignidade, e lava os pés dos seus discípulos (Jo 13,1-20) sinal de servidão, humildade e caridade. Sobretudo, ao contemplar os atos de Jesus, que sempre se faz presente entre o povo, que dá atenção aos menos privilegiados, que devolve a dignidade a quem julgavam não ter, que nunca buscou prestígio para si, é que me dificulta e até me impede de chegar a dimensão de um Deus que dizem querer ser tratado “acima de todos”. Não consigo perceber esse Deus distante, que está o tempo todo no alto, que me faz não parecer digno de me aproximar, que fica além do véu no santo dos santos... afinal, se está acima de todos, não está perto de nós.
            Deus é simples, por isso consigo contemplar e ver a presença dele no meu irmão que é feito a imagem e semelhança Dele, que faz parte de um corpo místico, que se deifica porque Deus se humanizou. É bem verdade que Deus é e está na Glória, mas não podemos esquecer que essa Glória se manifestou sobretudo na cruz, que teve de passar pela fragilidade humana para lucra-la também à nós. E sim, Deus também é majestoso e poderoso, contudo sabemos que para Deus o poder só tem sentido quando significa serviço e caridade prestada, por essa razão, conjecturo que Deus é o maior, pois se fez o menor.
Aqui, lembro-me da Eucaristia e percebo que Ele continua a se fazer o menor, pois embora não precisasse, quer Ele continuar se fazendo presente de modo real na fragilidade e na pequenez de uma hóstia consagrada, hóstia essa que ao recebermos mesmo miseráveis como somos, nos permite entrar em comunhão com Ele, já aqui, participantes da Glória final que há de vir. Deus não está longe, mas está ao nosso lado, Deus está dentro de todos nós, Deus está no céu com os que foram salvos, por isso Ele é tão grande. Nosso abbá, nosso “paizinho”, está pertinho, está onde quer que estejamos, e é com nossa vida doada aos outros, que glorificamos a Ele que se faz presente nos nossos irmãos, mesmo os mais ínfimos.    
            Definitivamente, não gosto da frase “Deus acima de todos”, e até acho muito arriscado utilizá-la em discursos de evangelização, pois ela intrinsicamente dá uma ideia de distância, de indignidade e de opressão. Presumo que um pecador ou até mesmo quem ainda não conheceu a mensagem de Deus, ao ouvi-la fica ainda mais receoso de se aproximar por se julgar desmerecedor de algo tão elevado, o que resulta na incapacidade deste de não experimentar desse amor tão pleno e transbordante de humildade. Não utilizar e não concordar com a frase “Deus acima de todos”, não quer dizer, como alguns possam alegar, que estou querendo diminuir o tamanho de Deus, pelo contrário, creio sim, que é o maior, o mais poderoso, o mais digno de louvor, porém, assim o é por Ele ser o primeiro a entrar na dinâmica do “Quem quiser ser o maior, que seja o menor” (Lc 22,26).
            Tenho consciência clara, enquanto teólogo em formação, que é perigoso achar que podemos ver Deus só do nosso jeito, ou que Ele caiba apenas em minha visão. Por essa razão, reconheço que Ele é muito mais do que imagino ou defendo, que Ele transborda todas as minhas limitações, que Ele supera todo o meu intelecto, no entanto, confio que Ele se revela em meu coração e me permite conhece-lo para dar a conhecer. Minha teologia é o maior sinal do reconhecimento da minha incapacidade de falar perfeitamente de Deus, por isso, além da minha vida sacramental, que me comunica Deus, também recorro ao estudo para tentar fazer a minha pequena parte de evangelizador. Posso chegar até a cometer erros teológicos ou dizer asneiras, mas Deus que conhece perfeitamente o meu íntimo, sabe que a minha intenção nada mais é do que tentar mostrar aos meus irmãos o melhor caminho para entrar na dinâmica do Reino de Deus.
É urgente a nossa necessidade de conversão sincera, precisamos anunciar com nossa vida a presença de Deus entre nós, não dá para ficar apenas no discurso apontando para o alto, para alguém que está longe e esquecer dos que estão pelo caminho e ao nosso lado, por isso o meu grito de ordem é “DEUS NO CORAÇÃO DE TODOS”.   
                       



[1] Graduando em teologia pela Faculdade Diocesana de Mossoró – FDM.

domingo, 9 de setembro de 2018

Um povo sem memória - Uma nação violenta

Pintura Traição de Judas e Pedro fere o servo Malco
Esta semana que termina foi muito intensa!
Começamos com o terror do incêndio que destruiu o Museu de História Natural do Rio de Janeiro, destruindo obras e materiais insubstituíveis no que se refere à história, à pesquisa arqueológica, à memória, à arte. Por outro lado, terminamos a semana com o trágico atentado contra a vida do candidato a presidência, Jair Bolsonaro, durante uma caminhada no interior de Minas Gerais, perpetrado por um rapaz que parece ter uma posição política radical e oposta à do candidato.
Esses acontecimentos, um abrindo a semana e o outro praticamente fechando a semana, me fizeram pensar um pouco sobre o que estamos vivendo no Brasil e o que podemos dizer, à luz da mensagem cristã, diante desse quadro...
O povo da Bíblia tem como uma de suas fortes características o “fazer memória”, o recontar para conservar, valorizando seu passado e tomando dele o significado e sentido para viver o presente e olhar para o futuro. A celebração da Páscoa Judaica, por exemplo, tem a bela característica de fazer presente o passado do seu povo, recordando sua história de escravidão, sofrimento e de como Deus agiu em seu favor. Desse modo, o povo conserva sua memória e anima sua esperança em Deus como aquele que sempre caminha com seu povo.
Guardar a memória não é um capricho, ou uma questão de valor artístico de algo. Guardar a memória é garantir a identidade, é saber de onde viemos, quem somos hoje e o porquê somos assim hoje, em que acertamos e em que erramos pelo caminho já percorrido, para podermos olhar para o futuro e vermos o que poderemos ser, o que deveremos evitar, o que aprendemos com os erros cometidos, em que precisamos mudar para amadurecermos.
 A destruição do museu é um símbolo para todos nós, um convite para não deixarmos que a nossa memória se perca, pois jamais seremos um povo realmente unido, fraterno, justo, que promove a vida e a dignidade das pessoas, se não tivermos memória do nosso passado, da nossa história. Facilmente cairemos nos mesmos erros já cometidos, escolheremos os mesmo caminhos tortos e confusos da violência e da opressão como meios para solucionar nossos problemas como país, esquecendo que esses caminhos jamais promovem o bem das pessoas.
A violência sofrida pelo candidato, já quase no final da semana, é o sinal simbólico do que afirmamos acima. Alguém acha que com violência se pode resolver o problema que lhe incomoda e parte para o ataque. Discursos de ódio e teorias da conspiração tem ganhado terreno nas redes sociais. Não se discute o que é mais simples e evidente: uma vida humana foi ameaçada pela intolerância, mesmo que tenha sido a vida de alguém que tem um discurso violento e intolerante.
Nos evangelhos é abundante a presença da temática da tolerância e do respeito. Gosto especialmente quando recomenda “pagar o mal com o bem” (cf. Rm 12,21; I Pe 3,9). Acho ousadíssimo esse conselho evangélico, difícil diante do nosso instinto de vingança revestido de uma roupagem de “justiça”. Jesus ensinou com a própria vida isso! Ele foi duro em algumas ocasiões, discutiu e atacou aqueles que faziam oposição a sua mensagem, mas nunca fechou-lhes as portas do diálogo, nem incentivou ninguém a matar em seu nome ou a usar de violência para defendê-lo. No episódio de sua prisão, quando Pedro puxa uma espada (um discípulo armado!!) para defender a vida de Jesus, o próprio Jesus o repreende afirmando que “quem vive pela espada, perece pela espada” (cf. Mt 26,51-52; Jo 18,10-11).
Não podemos, como cristãos, entrar nessa dinâmica de desrespeito pela nossa memória como povo e de acreditar que a violência é o único caminho para resolver os problemas que enfrentamos atualmente em nossos pais. A nossa atitude deve ser a da misericórdia, da justiça, do amor fraterno, da luta pela dignidade humana, assim como Jesus fez e ensinou.
Cada um de nós teremos, durante nossas breves vidas nessa existência, difíceis decisões a tomar, posturas a assumir, escolhas a fazer. Não há opção de vida que não tenha consequências para nós mesmos e para todos os que nos cercam. As escolhas de Jesus pelos pobres, pelos pecadores, pelos pequeninos, em fim, por aqueles que eram tidos por “gente má” pelas classes dominantes de seu tempo, essas escolhas tiveram consequências em sua vida: perseguição, calúnias, exclusão, violência contra sua vida. Entretanto, no devido momento, o Pai dá a resposta e coloca Jesus no posto de Senhor e Juiz da história, tornado-o um escândalo para os que o rejeitaram e perseguiram e um sinal de salvação para os que creram nEle e se deixaram transformar em suas vidas.
Esses dois acontecimentos tem revelado, nesses dias, o que há de escondido em muitos corações e, infelizmente, parece que ainda temos nos deixado levar pelos caminhos da indiferença, do descaso, do ódio e da vingança.
Mantenhamos viva a nossa memória, defendamos nossas riquezas históricas, culturais e artísticas, pois elas nos garantem o amadurecimento de nossa identidade como pessoas e como nação. Defendamos a vida e o direito de viver, independente de nossas simpatias e antipatias, mesmo que seja a vida de alguém que pode, potencialmente, ser uma ameaça para a nossa, pois a vida é um dom precioso.
Procuremos novos caminhos iluminados pela Boa Notícia de Jesus!

domingo, 2 de setembro de 2018

O Evangelho da Política segundo Jesus Cristo

Estamos em tempos de eleições e algumas das frases mais comuns que escutamos entre cristãos é que “política não se discute”; “não se mistura religião com política”; “religião não tem nada a ver com política”; “política não presta, é coisa suja, o que eu quero é distância” etc...
É um tipo de reação comum diante do quadro de frustração e decepção que sentimos devido aos vários casos de corrupção que estão aparecendo a cada dia nos noticiários. As pessoas têm adotado e reforçado a ideia de que política não presta, que é uma coisa ruim e que, por isso, deveríamos nos afastar e cada um cuidar da própria vida.
Quando se tenta discutir questões relativas à política na Igreja, muitas pessoas tem a sensação de que se está tocando em algo “impuro”, que “isso” não deveria estar alí, no nosso lugar sagrado.
O problema é que desenvolvemos uma visão distorcida do que é a política e do que é a participação política na sociedade. Reduzimos a política apenas às eleições e ao sistema de governo é não percebermos o nosso papel e participação em toda essa realidade. Ignorar a política não vai mudar o fato de que é por meio da política (seja uma boa política seja uma má política) que todos nós somos governados e que é por meio dela que a vida e a morte de milhares de pessoas são decidias.
Ao nos voltarmos para os Evangelhos e observarmos a vida e as ações de Jesus, somos forçados a voltar nosso olhar para as questões políticas, pois as ações de Jesus tinham elementos políticos e provocaram reações políticas em relação a ele.
Não podemos ser ingênuos em nossa leitura das Escrituras e achar que Jesus e seus discípulos vivam a margem da realidade da Palestina no século I d.C.
O povo de Israel estava oprimido sob o controle político e econômico do Império Romano. Aconteciam revoltas populares e líderes carismáticos, movidos por sua fé no Deus de Israel, organizavam grupos de luta e resistência a essa dominação. Os camponeses sofriam com os pesados tributos e muitos perdiam suas propriedades ou eram vendidos como escravos juntamente com sua família para pagar as dívidas que só cresciam.
No campo religioso e social a vida do povo era regida pela Lei de Moises. Essa Lei era aplicada pelas lideranças religiosas que, por sua vez, deveriam manter o delicado equilíbrio entre a crescente revolta do povo e os interesses do Império Romano. O Sumo Sacerdote tinha, junto com o Grande Conselho (Sinédrio), autoridade para governar o povo judeu no que concerniam seus costumes e tradições, desde que não fizessem oposição ao controle romano.
Desse modo, os líderes religiosos acabavam colaborando para agravar a situação de exploração do povo, além de interpretar e aplicar a Lei de Moisés de forma excludente, jogando a margem religiosa uma parte da população que não se comportava segundo as normas exigidas.
Jesus nasceu, cresceu, viveu e exerceu seu ministério público dentro dessa realidade. Suas palavras e atitudes não se deram à margem desse contexto, ao contrário, elas penetravam nesse contexto, questionavam, criticavam, ofereciam outras perspectivas.
Jesus tomou posição, ou seja, partido por um lado. Não dá para transformar a sociedade sem ter uma posição clara. Os Evangelhos nos oferecem uma perspectiva da posição de Jesus. Isso não é ruim, pois é a partir de uma posição clara que qualquer pessoa pode estabelecer critérios de valor para o todo da realidade que o cerca. Ao fazer isso, Jesus atraiu para próximo de si pessoas e grupos, assim como provocou rejeição e perseguição por parte de outras pessoas e grupos.
Jesus era de uma classe social muito específica, ele era operário (carpinteiro) que vivia em uma vila pobre na Galileia chamada Nazaré. Ele conhecia bem como funcionavam as estruturas de opressão e exclusão política e religiosa de seu tempo.
Ao exercer seu ministério, Jesus mostrou suas posições e valores na prática: andava próximo das pessoas que foram excluídas do sistema social, econômico e religioso ajudando-as a recuperar sua dignidade e sua esperança; criticou os ricos e poderosos de seu tempo por sua ambição, por não reconhecer naqueles que eles exploravam seres humanos que tinham o direito de viver com respeito e dignidade; reinterpretou o discurso religioso que condenava e excluía as pessoas que não se encaixavam nas exigências legalistas das lideranças religiosas, resgatando essas pessoas de uma atitude de medo e distanciamento de Deus por acreditarem que eram indignas de se aproximar de Dele etc.
Para aquelas pessoas que defendem o discurso de que Jesus “veio para salvar a todos”, quero afirmar que é verdade, Ele veio para salvar a todos! Entretanto, ele oferece essa salvação a partir de uma posição clara, do lugar de quem sente na pele e na vida o peso da opressão e da exclusão. Por isso ele aparece exigente com os ricos e poderosos, paciente e compassivo com os pequeninos e fracos. Para ambos Ele oferece a salvação, mas não nas mesmas condições.
Essas posições de Jesus eram posições políticas porque questionavam, criticavam e denunciavam o que estava acontecendo ao seu redor. No Evangelho segundo Lucas encontramos uma lista de “ais” dirigida aos que exploravam o povo e se apoiavam em suas riquezas (cf. Lc 6,24-26); ao criticar o Templo e suas autoridades no Evangelho segundo Mateus (cf. Mt 23,13-31), Jesus denuncia desautoriza a forma como eles interpretavam as Escrituras e oprimiam o povo; ao fazer curas em dia de sábado, que era proibido segundo a interpretação corrente da Lei de Moises (cf. Mt 12,1-14), Jesus oferece outra interpretação baseada na misericórdia e na justiça, devolvendo o direito das pessoas poderem se aproximar de Deus sem medo.  
Desse modo, um forte grupo de opositores o perseguiu até conseguir condená-lo a morte (cf. Mc 3,6). Essa perseguição não foi gratuita, não foi por uma antipatia subjetiva, mas foi porque as posições de Jesus incomodaram, ameaçaram posições de poder e de privilégios, desmascararam aos falsos discursos, desnudando mecanismos de controle e de exploração.
Acho muito estranho que muitos cristãos, nesse momento em que nos encontramos no Brasil, afastem-se da política e deixem que a “sorte” ou o “destino” resolva a situação. Precisamos olhar para Jesus, ao qual seguimos e de quem recebemos o nome de cristãos, e procurar entender quais foram suas posições e escolhas para aprendermos a nos colocar também politicamente nesse contexto atual.
Precisamos ser capazes de olhar para além de nossos interesses pessoais e pensarmos nos pequeninos e pobres que são os que mais sofrem quando não se busca o bem comum no sistema político. Precisamos nos posicionar de modo que, especialmente, aqueles que não tem acesso aos recursos necessários para sobreviver possam ter suas vidas e direitos defendidos. Precisamos dar voz e vez para aqueles que, sozinhos, não têm como serem ouvidos nas suas necessidades.
Precisamos entender que, assumindo uma posição ou ficando indiferentes, sempre tomamos uma posição e, desse modo, sempre expressamos o que pensamos e o que defendemos. Todas as escolhas que fazemos diante das decisões relativas a nossa vida em sociedade são posições políticas e tem consequências e, mesmo não escolhendo um lado, já se está fazendo uma escolha e assumindo uma posição.
 Assumir uma posição, escolher um lado, não significa que estaremos sempre certos ou que acertaremos sempre em nossas escolhas, mas significa que estamos buscando caminhos para melhorar nossa vida em sociedade (ou talvez não, se estivermos sendo movidos pelo desejo de poder e ambição). O importante é entendermos que se temos uma posição clara sabemos onde estamos e podemos enxergar melhor para onde vamos caminhando
Jesus tinha uma posição juntamente com seus discípulos, as autoridades romanas tinha uma posição, as autoridades judaicas também tinham sua posição. No embate entre essas posições, Jesus foi morto para que sua voz não mais incomodasse. Entretanto, Deus ressuscitou Jesus e sua voz continua a ecoar entre nós até os dias atuais. Deus também tomou partido, tomou partido por Jesus e contra os que o condenaram injustamente. Deus também tem posições!
Que cada um de nós possa meditar à luz do Evangelho nesses tempos de campanha e de eleições. Que cada um de nós procure fazer suas escolhas olhando para as escolhas de Jesus, buscando aprender com Ele o que pode ser realmente bom para todos, começando por aquilo que promova a vida e a dignidade dos pobres e excluídos. Cada pessoa é livre para se posicionar politicamente, mas se somos cristãos, não podemos nos posicionar sem considerar as escolhas de Jesus, pois são elas que devem iluminar as nossas escolhas políticas também.
Nenhum de nós tem 100% de certeza de fazer as escolhas corretas, podemos errar em nossas escolhas políticas, mas se a intenção continuar iluminada pelo caminho e escolhas de Jesus, podemos sempre recomeçar, pois Jesus nos ensinou que no caminho, se a gente errar, existe a conversão e a misericórdia do “Abbá” (“painho do céu”).
         
Desejo a todos um caminho de eleições iluminado pela Boa Notícia de Jesus para construirmos juntos o que Jesus ensinou, um mundo de irmãos e irmãs, de fraternidade, justiça e paz! 
“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo 10,10b)

domingo, 26 de agosto de 2018

Papa Francisco fala sobre os casos de abuso nos Estados Unidos

             O Papa Francisco publicou nesse último dia 20/08/2018 uma carta a todo Povo de Deus manifestando-se sobre as denúncias de abusos cometidos por religiosos nos Estados Unidos por aproximadamente 70 anos, atingindo cerca de 1.000 pessoas. 
              Na postagem desta semana resolvi reproduzir a carta, pois é uma carta significativa e que se posiciona com seriedade diante dessa situação tão dramática.



CARTA DO PAPA FRANCISCO
AO POVO DE DEUS



«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele» (1 Co 12, 26). Estas palavras de São Paulo ressoam com força no meu coração ao constatar mais uma vez o sofrimento vivido por muitos menores por causa de abusos sexuais, de poder e de consciência cometidos por um número notável de clérigos e pessoas consagradas. Um crime que gera profundas feridas de dor e impotência, em primeiro lugar nas vítimas, mas também em suas famílias e na inteira comunidade, tanto entre os crentes como entre os não-crentes. Olhando para o passado, nunca será suficiente o que se faça para pedir perdão e procurar reparar o dano causado. Olhando para o futuro, nunca será pouco tudo o que for feito para gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas. A dor das vítimas e das suas famílias é também a nossa dor, por isso é preciso reafirmar mais uma vez o nosso compromisso em garantir a protecção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade.

1. Um membro sofre?

Nestes últimos dias, um relatório foi divulgado detalhando aquilo que vivenciaram pelo menos 1.000 sobreviventes, vítimas de abuso sexual, de poder e de consciência, nas mãos de sacerdotes por aproximadamente setenta anos. Embora seja possível dizer que a maioria dos casos corresponde ao passado, contudo, ao longo do tempo, conhecemos a dor de muitas das vítimas e constamos que as feridas nunca desaparecem e nos obrigam a condenar veementemente essas atrocidades, bem como unir esforços para erradicar essa cultura da morte; as feridas “nunca prescrevem”. A dor dessas vítimas é um gemido que clama ao céu, que alcança a alma e que, por muito tempo, foi ignorado, emudecido ou silenciado. Mas seu grito foi mais forte do que todas as medidas que tentaram silenciá-lo ou, inclusive, que procuraram resolvê-lo com decisões que aumentaram a gravidade caindo na cumplicidade. Clamor que o Senhor ouviu, demonstrando, mais uma vez, de que lado Ele quer estar. O cântico de Maria não se equivoca e continua a se sussurrar ao longo da história, porque o Senhor se lembra da promessa que fez a nossos pais: «dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 51-53), e sentimos vergonha quando percebemos que o nosso estilo de vida contradisse e contradiz aquilo que proclamamos com a nossa voz.

Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós negligenciamos e abandonamos os pequenos. Faço minhas as palavras do então Cardeal Ratzinger quando, na Via Sacra escrita para a Sexta-feira Santa de 2005, uniu-se ao grito de dor de tantas vítimas, afirmando com força: «Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência!... A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrieeleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)» (Nona Estação).

2. Todos os outros membros sofrem com ele.

A dimensão e a gravidade dos acontecimentos obrigam a assumir esse facto de maneira global e comunitária. Embora seja importante e necessário em qualquer caminho de conversão tomar conhecimento do que aconteceu, isso, em si, não basta. Hoje, como Povo de Deus, somos desafiados a assumir a dor de nossos irmãos feridos na sua carne e no seu espírito. Se no passado a omissão pôde tornar-se uma forma de resposta, hoje queremos que seja a solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, a tornar-se o nosso modo de fazer a história do presente e do futuro, num âmbito onde os conflitos, tensões e, especialmente, as vítimas de todo o tipo de abuso possam encontrar uma mão estendida que as proteja e resgate da sua dor (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 228). Essa solidariedade exige que, por nossa vez, denunciemos tudo o que possa comprometer a integridade de qualquer pessoa. Uma solidariedade que exige a luta contra todas as formas de corrupção, especialmente a espiritual «porque trata-se duma cegueira cómoda e autossuficiente, em que tudo acaba por parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas subtis de autorreferencialidade, já que “também Satanás se disfarça em anjo de luz” (2 Cor 11, 14)» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 165). O chamado de Paulo para sofrer com quem sofre é o melhor antídoto contra qualquer tentativa de continuar reproduzindo entre nós as palavras de Caim: «Sou, porventura, o guardião do meu irmão?» (Gn 4, 9).

Reconheço o esforço e o trabalho que são feitos em diferentes partes do mundo para garantir e gerar as mediações necessárias que proporcionem segurança e protejam a integridade de crianças e de adultos em situação de vulnerabilidade, bem como a implementação da “tolerância zero” e de modos de prestar contas por parte de todos aqueles que realizem ou acobertem esses crimes. Tardamos em aplicar essas medidas e sanções tão necessárias, mas confio que elas ajudarão a garantir uma maior cultura do cuidado no presente e no futuro.

Juntamente com esses esforços, é necessário que cada batizado se sinta envolvido na transformação eclesial e social de que tanto necessitamos. Tal transformação exige conversão pessoal e comunitária, e nos leva dirigir os olhos na mesma direção do olhar do Senhor. São João Paulo II assim o dizia: «se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 49). Aprender a olhar para onde o Senhor olha, estar onde o Senhor quer que estejamos, converter o coração na Sua presença. Para isso nos ajudarão a oração e a penitência. Convido todo o Povo Santo fiel de Deus ao exercício penitencial da oração e do jejum, seguindo o mandato do Senhor[1], que desperte a nossa consciência, a nossa solidariedade e o compromisso com uma cultura do cuidado e o “nunca mais” a qualquer tipo e forma de abuso.

É impossível imaginar uma conversão do agir eclesial sem a participação activa de todos os membros do Povo de Deus. Além disso, toda vez que tentamos suplantar, silenciar, ignorar, reduzir em pequenas elites o povo de Deus, construímos comunidades, planos, ênfases teológicas, espiritualidades e estruturas sem raízes, sem memória, sem rostos, sem corpos, enfim, sem vidas[2]. Isto se manifesta claramente num modo anômalo de entender a autoridade na Igreja - tão comum em muitas comunidades onde ocorreram as condutas de abuso sexual, de poder e de consciência - como é o clericalismo, aquela «atitude que não só anula a personalidade dos cristãos, mas tende também a diminuir e a subestimar a graça batismal que o Espírito Santo pôs no coração do nosso povo»[3]. O clericalismo, favorecido tanto pelos próprios sacerdotes como pelos leigos, gera uma ruptura no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que denunciamos hoje. Dizer não ao abuso, é dizer energicamente não a qualquer forma de clericalismo.

É sempre bom lembrar que o Senhor, «na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 6). Portanto, a única maneira de respondermos a esse mal que prejudicou tantas vidas é vivê-lo como uma tarefa que nos envolve e corresponde a todos como Povo de Deus. 

Essa consciência de nos sentirmos parte de um povo e de uma história comum nos permitirá reconhecer nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de se deixar renovar a partir de dentro. Tudo o que for feito para erradicar a cultura do abuso em nossas comunidades, sem a participação activa de todos os membros da Igreja, não será capaz de gerar as dinâmicas necessárias para uma transformação saudável e realista. A dimensão penitencial do jejum e da oração ajudar-nos-á, como Povo de Deus, a nos colocar diante do Senhor e de nossos irmãos feridos, como pecadores que imploram o perdão e a graça da vergonha e da conversão e, assim, podermos elaborar acções que criem dinâmicas em sintonia com o Evangelho. Porque «sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo actual» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 11).

É imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos, e inclusive por todos aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis. Peçamos perdão pelos pecados, nossos e dos outros. A consciência do pecado nos ajuda a reconhecer os erros, delitos e feridas geradas no passado e permite nos abrir e nos comprometer mais com o presente num caminho de conversão renovada.

Da mesma forma, a penitência e a oração nos ajudarão a sensibilizar os nossos olhos e os nossos corações para o sofrimento alheio e a superar o afã de domínio e controle que muitas vezes se torna a raiz desses males. Que o jejum e a oração despertem os nossos ouvidos para a dor silenciada em crianças, jovens e pessoas com necessidades especiais. Jejum que nos dá fome e sede de justiça e nos encoraja a caminhar na verdade, dando apoio a todas as medidas judiciais que sejam necessárias. Um jejum que nos sacuda e nos leve ao compromisso com a verdade e na caridade com todos os homens de boa vontade e com a sociedade em geral, para lutar contra qualquer tipo de abuso de poder, sexual e de consciência.
Desta forma, poderemos tornar transparente a vocação para a qual fomos chamados a ser «um sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano» (Conc. Ecum. Vat. II, Lumen gentium, 1).

«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele», disse-nos São Paulo. Através da atitude de oração e penitência, poderemos entrar em sintonia pessoal e comunitária com essa exortação, para que cresça em nós o dom da compaixão, justiça, prevenção e reparação. Maria soube estar ao pé da cruz de seu Filho. Não o fez de uma maneira qualquer, mas permaneceu firme de pé e ao seu lado. Com essa postura, Ela manifesta o seu modo de estar na vida. Quando experimentamos a desolação que nos produz essas chagas eclesiais, com Maria nos fará bem «insistir mais na oração» (cf. S. Inácio de Loiola, Exercícios Espirituais, 319), procurando crescer mais no amor e na fidelidade à Igreja. Ela, a primeira discípula, nos ensina a todos os discípulos como somos convidados a enfrentar o sofrimento do inocente, sem evasões ou pusilanimidade. Olhar para Maria é aprender a descobrir onde e como o discípulo de Cristo deve estar.

Que o Espírito Santo nos dê a graça da conversão e da unção interior para poder expressar, diante desses crimes de abuso, a nossa compunção e a nossa decisão de lutar com coragem.

Francisco

Cidade do Vaticano, 20 de Agosto de 2018.


[1] «Esta espécie de demónios não se expulsa senão à força de oração e de jejum» Mt 17, 21.
[2] Cf. Carta do Santo Padre Francisco ao Povo de Deus que peregrina no Chile, 31 de Maio de 2018.

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