terça-feira, 7 de agosto de 2012

Política e Politicagem em tempos de eleição




Estou de volta! Sei que demorei em postar novidades no blog, mas estive resistindo a escrever enquanto não tivesse pensado muito sobre o que colocaria aqui.

Quero compartilhar com vocês alguns pensamentos que tenho tido ao observar o momento atual de eleições municipais que estamos vivendo em todo o Brasil.

Vendo a correria dos candidatos, seus cabos eleitorais e equipes que se lançam apaixonadamente na campanha; observando também as perseguições, trocas de acusações e provocações entre partidos e candidatos; observando o panorama de famílias inteiras dedicadas a “carreira” política, comecei a refletir para que serve a política afinal?? Por que tudo isso? E confesso que minhas conclusões não foram muito animadas... Vamos a elas!

Ao procurar o sentido mais primordial da política descobri que ela tem uma função fundamental para podermos viver em sociedade. Sem ela viveríamos na barbárie, onde simplesmente o mais forte sobrevive e o mais fraco morre, sem leis, sem ordem, sem progresso científico, tecnológico ou econômico, sem vida em sociedade, sem possibilidade de planejamento para o futuro, pois a sobrevivência sempre olha o imediato e não tem como planejar a longo prazo... Ou seja, graças à política podemos viver em sociedade de forma organizada, civilizada e com possibilidades para todos de vida digna.

O que são a política e os cargos políticos? São meios pelos quais a sociedade se organiza delegando a algumas pessoas a responsabilidade de gerir os bens e recursos postos em comum a favor de todos, como também delegar a algumas pessoas a responsabilidade de fiscalizar e organizar o uso destes recursos por meio de leis e outros modos possíveis.

Sei que este conceito não tem a complexidade da sociologia ou da antropologia, mas é uma visão básica e primaria do que é e para que serve a política. Em outras palavras, a política com seus cargos eletivos, é um espaço de prestação de serviço à comunidade, é um doar-se em favor do bem comum. Alguém é escolhido pela sociedade para, em seu nome, governa-la, e esta pessoa abre mão de sua vida pessoal, emprego e, às vezes, do tempo com a família, para dedicar-se a esta função por um período determinado (4 anos ou 8 anos se for reeleito), sendo sustentada pela sociedade que a elegeu. Depois disto, tendo cumprido seu dever cívico, esta pessoa retorna a sua vida anterior, ao seu emprego e família, deixando a vez para que outra pessoa possa fazer este mesmo “sacrifício” em favor da comunidade.

Que visão bela dos cargos políticos não é mesmo?? Fico encantado ao pensar nisto tudo! O altruísmo, a renúncia, a dedicação, o zelo pelo bem comum, o desgaste físico e psicológico de gerir a vida de tantas pessoas e ser responsável por cada uma delas.. É um verdadeiro serviço sagrado, uma espécie de sacerdócio pelo bem de todos.

Entretanto, ao observar a realidade que me cerca, me decepciono a cada dia com o que vejo!

Vejo a política e seus cargos transformados de serviços públicos temporários em EMPREGOS VITALÍCIOS com direito a aposentadoria e tudo mais. Vejo pessoas brigando por esses empregos ao ponto de agredirem-se mutuamente (em alguns casos chegando ao assassinato!). Vejo famílias inteiras transformando a política em negócio de família, passado de geração em geração. Vejo a manipulação dos interesses do povo em benefício de grupos e segmentos em vista da manutenção do sistema e das posições. Vejo qualquer sombra de novidade ser suprimida por aqueles que fizeram da política seu meio de vida e que não querem perder seu espaço para ninguém. Vejo redes de favores políticos, listas de cargos comissionados, “doações” aos pobres, promessas genéricas e inconsistentes, tudo em vista de garantir uma estrutura que mantenha o sistema exatamente como está, ou seja, o povo a serviço da manutenção daqueles que fizeram da política seu meio de vida, ao invés de serem os políticos a serviço do bem estar de todos.

Alguém poderá me contestar e dizer: “mas fulano ou beltrano trabalhou pelo povo, ajudou muita gente, fez a cidade, o estado, o país crescer, gerando emprego, melhorando a saúde e etc”.
Eu respondo a esses da seguinte forma: não nego a boa intenção de alguns e seu esforço de promover o bem comum dentro de um sistema extremamente viciado pela ambição e pelo desejo de poder, mas a realidade é que muitos desses benefícios para o bem do povo, na verdade servem muito mais aos que controlam o sistema político, pois serve para manter o sistema exatamente como está. Cuidar da saúde, fazer algo pelo bem da sociedade, gerar empregos, fazer reajuste de salários etc, é o mínimo que eles precisam fazer para se auto-conservar em suas posições.

NÃO ACREDITO NESSES DIRCURSOS!! Não posso acreditar neles, enquanto recebem 14º salário no final do ano. Não posso acreditar neles enquanto enchem seus gabinetes de cargos comissionados, onerando os cofres públicos, para garantir seu curral eleitoral para o próximo pleito. Não posso acreditar enquanto, além de seus voluptuosos salários, recebem auxílio moradia, auxilio gabinete, auxílio disso e daquilo, o que o trabalhador comum jamais terá direito. Não posso acreditar enquanto usarem o nosso dinheiro suado para viajar e passear no exterior usando os bens públicos. Não posso acreditar enquanto nossos filhos recebem uma educação para ser mão de obra barata e qualificada e os deles vão estudar na Europa, nos EUA ou em algum outro centro de excelência acadêmica para se tornar a próxima elite dominante sucedendo seus pais. Não posso acreditar enquanto não surgir alguém que tenha coragem de romper com esse sistema e trazer algo novo. Mas como isso vai acontecer se o sistema exclui quem não faz o seu jogo?? Olhem nossas eleições municipais, aqui no nosso estado! Os mesmos nomes e grupos políticos de sempre, com os discursos de sempre e os programas de sempre! Nada de novo no horizonte! NÃO POSSO ACREDITAR!!!

Respeito e defendo o direito de todos ao engajamento e participação ativa na política. É um direito e dever democrático inalienável, porém gostaria que nosso engajamento fosse fundamentado em fazer a diferença ao invés de simplesmente trabalharmos pela manutenção do sistema. Gostaria que a ética do bem comum, do amor ao próximo, do respeito pela dignidade da pessoa humana fosse o carro chefe da práxis eleitoral. Gostaria que os que carregam o digno nome de cristãos e estão engajados no processo político abrissem um caminho diferente, um caminho para uma nova mentalidade.

Gostaria muito mais que os políticos de todo o nosso país, ao terminar seus mandatos nestas eleições voltassem para suas casas, para suas famílias, para suas profissões antes de seus mandatos e retomassem suas vidas comuns, iguais a qualquer brasileiro trabalhador, com a consciência do dever cumprido, dando lugar para que outros assumam a missão de gerir o bem público. Gostaria que o povo brasileiro realmente acompanhasse e interagisse com seus candidatos, não só nas campanhas, mas depois das eleições, acompanhando seu trabalho e cobrando sua disposição de exercer com dignidade e competência seu mandato.

POLÍTICA NÃO É EMPREGO VITALÍCIO!! POLÍTICA NÃO É PROFISSÃO PERPÉTUA!! POLÍTICA NÃO É NEGÓCIO DE FAMÍLIA!! POLÍTICA NÃO É CONCURSO PÚBLICO!!

Será que é preciso dizer mais alguma coisa? Será que é preciso desenhar para me fazer entender?

O mais triste é que sei que este meu texto, esta reflexão, vai ser mais uma voz perdida no vento. Infelizmente não queremos ouvir nem ver o que acontece ao nosso redor porque estamos “muito bem, obrigado”. Não enxergamos os milhões (ou seriam bilhões ou trilhões) desviados pela corrupção e que fazem falta no investimento real na educação, na saúde, na infraestrutura das nossas cidades, na segurança, na cultura etc.

Gostaria de ver a verdadeira política acontecendo, mas só o que eu vejo é a mesma e velha politicagem, reciclada, é verdade, mas sempre a mesma!


Pe. Augusto Lívio

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A desafeição religiosa de jovens e adolescentes

Entrevista especial com Pedro Ribeiro de Oliveira

“15 milhões de pessoas que se dizem sem religião, para mim, é o dado que desperta curiosidade”, afirma o sociólogo.
Confira a entrevista. 
A “insatisfação do fiel com os serviços oferecidos pela sua igreja” é, na avaliação do sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, a primeira explicação para entender os dados do censo 2010, que demonstram um declínio no número de membros das igrejas católica, luterana, presbiteriana e metodista. Segundo ele, trata-se de “uma crise das religiões tradicionais”.

Diante deste dado, Oliveira menciona que há um “problema geracional”, porque na década passada havia mais católicos com idade de zero a 29 anos do que hoje. Isso significa que as “crianças e os jovens estão deixando de ser católicos”. Se isso se mantiver, assegura, “no censo de 2020 a diminuição será maior ainda, porque vão morrendo os velhos, e as novas gerações estão mais afastadas” das igrejas tradicionais. Por outro lado, este dado não atinge as igrejas pentecostais, que apresentaram um crescimento de fiéis jovens e crianças.

Na avaliação do sociólogo, outro dado interessante é o número de jovens sem religião. “Em termos de projeção, isso é algo a ser pensado. (...) 15 milhões de pessoas que se dizem sem religião, para mim, é o dado que desperta curiosidade”, diz na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line. E dispara: “Quando eu comecei a estudar sociologia da religião, tinha como axioma que o brasileiro é religioso, ou seja, todas as religiões são boas, todas levam a Deus, e o que não pode é não ter religião. Hoje, o caso é diferente não. O fato de ter religião não é um indicador de que a pessoa seja boa, assim como o fato de ela não ter religião não significa que ela seja má. Houve uma mudança na cultura brasileira”.

Pedro Ribeiro de Oliveira (foto abaixo) é doutor em Sociologia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica. É professor do PPG em Ciências da Religião da PUC-Minas. Dentre suas obras, destacamosFé e Política: fundamentos (Aparecida: Ideias & Letras, 2004),Reforçando a rede de uma Igreja missionária (São Paulo: Paulinas, 1997) e Religião e dominação de classe (Petrópolis: Vozes, 1985).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Os dados do censo 2010, divulgados pelo IBGE, demonstram um progressivo declínio do catolicismo no país. Como o senhor interpreta esses dados? O que isso significa?
Pedro Ribeiro de Oliveira – Esses dados não estão exatamente relacionados ao proselitismo evangélico, mas sim a uma crise das religiões tradicionais. Ainda não fiz um estudo minucioso dos dados do censo, porém pude perceber que as igrejas tradicionais – católica, luterana, presbiteriana e mesmo a metodista – perderam membros em termos absolutos e não acompanharam o crescimento da população. Uma igreja que me surpreendeu nesse sentido foi a Congregação Cristã do Brasil, que era muito sólida e tinha membros praticantes. Há aí um dado no censo que obriga certa atenção, porque várias igrejas perderam membros, inclusive a Universal do Reino de Deus.

Precisamos ter presente o dado de que a perda de membros atinge várias denominações religiosas. Claro que o proselitismo tem sua importância nesse processo, mas isso ocorre principalmente por causa da insatisfação do fiel com os serviços oferecidos pela sua igreja.
No caso da Igreja Católica, minha hipótese diz respeito ao sacramento. A Igreja Católica foi se tornando, nos últimos 40 anos, mais exigente na realização dos sacramentos. Por exemplo, não se podem batizar crianças se os pais e padrinhos não fizerem um curso, não se pode casar se os noivos não tenham feito a primeira comunhão, ou um curso de noivos – acho tudo isso muito normal. Mas as pessoas deixam de frequentar a igreja por conta das exigências.

IHU On-Line – Qual o significado de o Brasil ainda ser um país majoritariamente católico, considerando que existem os praticantes e não praticantes? 
Pedro Ribeiro de Oliveira – Muitos só consideram católicos aqueles que vão à missa e comungam. Entretanto, a tradição católica brasileira nunca foi de seguir tradicionalmente o catolicismo romano. O catolicismo popular tradicional mostra muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre. Essa frase é perfeita. Quer dizer, a tradição católica sempre teve muita devoção aos santos; era uma religião familiar. Praticava-se o catolicismo em casa, com a família, geralmente a materna, e de vez em quando se frequentava a igreja para receber os sacramentos. Quer dizer, trata-se de um católico não praticante do sacramento, mas um católico praticante da devoção aos santos. Um velho teólogo que já morreu dizia: “O padre fala da ignorância religiosa do povo, e o povo também acha que o padre é ignorante na religião, porque não sabe fazer a devoção aos santos”.

Então, o catolicismo tem essa propriedade, é uma religião que comporta muita gente, e diferentes formas de ser católico, inclusive aquela dos não praticantes. De fato, o sacramento fundamental para o católico é o sacramento de entrada na vida, o batismo, e o sacramento de “saída”, que é a missa de sétimo dia. Fora isso, ele se vira muito bem com os santos.

IHU On-Line – Qual é a novidade os dados do censo apontam em relação à religião no Brasil?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Uma das novidades diz respeito à idade. Eu tive a curiosidade de sociólogo e comparei os dados de 2000 e 2010. Vi que há um problema geracional. Em 2000, havia mais católicos de zero a 29 anos, do que em 2010. Ou seja, as crianças e os jovens estão deixando de ser católicos. Então, têm mais católicos em 2010 com 30 anos ou mais. Se isso se mantiver, no censo de 2020 a diminuição será maior ainda, porque vão morrendo os velhos, e as novas gerações estão mais afastadas da instituição. É interessante porque isso atinge também o protestantismo de missão, mas não atinge as igrejas pentecostais que, ao contrário, apresentam um crescimento entre os jovens e crianças. Também não atinge os espíritas, que estão crescendo. Outro dado interessante é o crescimento de jovens entre 15 e 19 anos sem religião. As novas gerações brasileiras têm uma forma religiosa muito diferente das antigas gerações. Em termos de projeção, isso é algo a ser pensado.

IHU On-Line – Outro dado do censo é de que a Igreja Universal perdeu 10% dos fiéis. Entretanto, o crescimento das igrejas evangélicas ainda é significativo. Como avalia essa questão? A Igreja Universal tem perdido fiéis para igrejas menores, que são mais flexíveis e aceitam fiéis específicos como jovens, gays?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Tenho a impressão de que a Universal é bem aberta e não é uma igreja rígida, mas eu não a conheço suficientemente. Por outro lado, percebe-se o crescimento enorme da Assembleia de Deus, que é um pentecostalismo clássico. Ela já era a maior igreja dos evangélicos, e hoje já tem quase 50% dos evangélicos brasileiros.

O que também existe é essa difícil categoria de igrejas evangélicas não determinadas. O que será evangélica não determinada? Pode ser aquela interpretação da Fundação Getúlio Vargas, de evangélico não praticante, mas também pode ser essas igrejas novas que estão aparecendo por aí, e que eram conhecidas antigamente como igrejas eletrônicas. Não sei. Mas tudo indica a passagem de uma religião a outra: de católico a evangélico tradicional, ou pentecostal tradicional, depois a neopentecostal, depois a pentecostal não determinado e depois os sem religião. A trajetória parece demonstrar essa passagem. Ao que tudo indica, pelos dados de idade, isso vai continuar.
IHU On-Line – A que atribui essa desfiliação religiosa? A religião como instituição está deixando de ser significativa para parte dos brasileiros? Segundo o censo, de 7,28% em 2000 aumentou para 8% em 2010 o número de pessoas sem religião, cerca de 15 milhões.

Pedro Ribeiro de Oliveira –
 Penso que sim. A religião está deixando de ser significativa. 15 milhões de pessoas que se dizem sem religião, para mim, é o dado que desperta curiosidade. Quando comecei a estudar sociologia da religião, tinha como axioma que o brasileiro é religioso, ou seja, todas as religiões são boas, todas levam a Deus, e o que não pode é não ter religião. Hoje, o caso é diferente. O fato de ter religião não é um indicador de que a pessoa seja boa, assim como o fato de ela não ter religião não significa que ela seja má. Houve uma mudança na cultura brasileira. O que significa exatamente esses sem religião, eu não sei.

Gosto muito de um conceito pouco usado na sociologia, que é o de desafeição religiosa. Ou seja, a pessoa que desafeiçoa já não gosta mais de uma igreja. Quando uma pessoa se identifica no censo como católica, mesmo não praticante, ela está querendo dizer que a sua referência é aquela igreja, às vezes até por conta de uma relação afetiva com a mãe, por exemplo. Tenho impressão de que esse conceito seria central para entendermos os sem religião.
IHU On-Line – Outro dado demonstra que 64% dos pentecostais avançam em segmentos mais vulneráveis da população, nas periferias urbanas, e entre famílias que ganham até um salário mínimo, 28% recebem entre um e três salários, 42% têm ensino fundamental incompleto. A questão econômica também passa a determinar a crença, a religiosidade?
Pedro Ribeiro de Oliveira – Isso é difícil. Sem dúvida, quando se pensa que a religião tem a ver com dar um sentido para a vida, uma das grandes questões, especialmente entre os pobres, é se perguntar: “Será que Deus não gosta de mim?”, ou, “Por que eu sou pobre?”. Nesse sentido, o segmento pentecostal tem uma força grande em termos da difusão da crença, na nossa cultura, da existência dos demônios, ou seja, os demônios, os maus espíritos estão aí. Será que eles estão usando as religiões indígenas, religiões africanas, as religiões celtas que passaram para dentro do catolicismo?

Então, o mundo está cheio de demônios, mas está cheio de deuses também. Por isso, para muitos é bom ter uma religião que seja capaz de expulsar os demônios, porque passam a ter uma vida melhor. Esse discurso é encontrado nas igrejas pentecostais, e isso “pega” bem para pessoas que vivem em uma situação muito difícil, para quem é plausível se dizer que esse mundo é do diabo, que nesse mundo não é bom de viver. Então, precisa-se de uma igreja capaz de “afugentar” o diabo. Essa é a minha explicação para tanto sucesso.

IHU On-Line – O senhor concorda com a crítica de Antônio Flávio Pierucci de que há uma cultura econômica e capitalista entre as igrejas? Quais são as igrejas mais expressivas nesse processo?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Não concordo muito. Pierucci era um sociólogo muito inteligente, só que a linha dele era um pouco diferente da minha. Eu não diria que têm religiões que procuram o capitalismo, mas que há religiões que combinam melhor com a cultura capitalista. E de fato, o protestantismo, como demonstra Max Weber, combina bem com o espírito capitalista. Um grande teólogo já dizia: “O catolicismo também tentou se casar com o capitalismo, mas foi um casamento de interesse; não foi de amor”. Eu gosto muito dessa expressão. O catolicismo tem essa dificuldade com o capitalismo. O catolicismo, na sua expressão mais oficial, romana, está muito mais ligado a uma sociedade do tipo medieval e que preza mais a permanência do que a mudança, a evolução e a modernização. O protestante tem uma afinidade de que é preciso mudar, é preciso transformar, é preciso ir adiante. E o católico, quanto menos mexer, melhor será. De modo que essa questão da concorrência, a questão de acumular dinheiro não combina bem com o jeito católico de ser. Combina bem com a tradição protestante, e foi muito bem retomada pelo pentecostalismo. Então, aí sim, eu concordo que há essa afinidade.

IHU On-Line – Que desafios os dados do censo apresentam para a Igreja Católica brasileira?


Pedro Ribeiro de Oliveira – Diante dos dados do censo, fiquei muito curioso, e entrei no site do Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, e vi lá uma matéria dizendo que a Igreja está viva. Isso é muito interessante. A matéria informava que aumentou o número de paróquias e o número de padres. Isso é igreja viva? A paróquia é uma instituição medieval que na Idade Média era muito boa, e também foi boa para o mundo rural. Se tivesse aumentado o número de comunidades de padres, aí tudo bem, porque teria aumentado o número de padres presente ao lado do povo. Achar que aumentar o número de paróquias é aumentar a presença da igreja no mundo é um equívoco, no meu entender, de todo tamanho. E o segundo é dizer que a igreja está viva porque aumentou o número de padres. A igreja está mais clerical, porque aumentou o número de padres, mas o número de padres não representa a vitalidade para a igreja. A vitalidade da igreja sempre foi a atividade dos leigos.

Tenho impressão de que a reação oficial da Igreja Católica, pelo menos nas matérias que pude ver, é um grande equívoco em termos sociológicos, ou seja, é ainda pensar em um modelo de igreja do Concílio de Trento. A força da Igreja, de qualquer igreja, está no que os protestantes chamam de congregar, ou seja, juntar pessoas que possam participar e sentir-se igreja. Creio que a experiência mais bem sucedida na Igreja Católica foram as Comunidades Eclesiais de Base, seguida dos grupos de oração, grupos de pastorais, que hoje chamam de novas comunidades. Esses programas buscam juntar pessoas leigas que se reúnem, celebram, leem a Bíblia para, a partir disso, influenciar no mundo. Aí está a força de uma igreja, a força pentecostal. A força pentecostal das igrejas evangélicas não é o número de pastores, mas o número de obreiros, que são pessoas leigas, que têm um entusiasmo pela religião.

Trata-se da força de expandir da igreja para o mundo. Isso quer dizer: uma igreja é forte quando tem grupos de leigos que se reúnem para atuar no mundo. Hoje o que vemos é a força de atrair para dentro, ou seja, o bom católico é aquele que está na igreja. Isso aí é o definhamento da instituição. Na hora que os responsáveis pela igreja no Brasil levarem a sério esses dados geracionais, ou seja, a desafeição religiosa de jovens e adolescentes, espero que deem um recado a essa pastoral maluca que eles têm, que gasta todos os recursos para construir seminário e formar mais padres.

IHU On-Line – Como os dados do censo em relação à religião devem se manifestar na política, considerando as próximas eleições?

Pedro Ribeiro de Oliveira –
 Esse é um problema, tema para outra entrevista. Mas posso dizer que os partidos políticos se desfiguraram tanto, que agora a eleição passa a ser definida por filiação religiosa, ou entidade religiosa. Muitas pessoas votam num candidato porque ele é presidente do clube de futebol para o qual torcem. Misturam esporte e religião com partidos. Isso é uma pena para a religião, mas é pior ainda para a política. Não sei se os dados do censo serão importantes nas eleições, porque eles podem ser sempre utilizados de uma maneira ou de outra.

Essa identificação do voto político com um candidato religioso funciona em alguns casos, mas nem sempre. Por mais que o pastor diga que para sua congregação religiosa votar em tais candidatos, às vezes isso acontece, às vezes não, porque o critério religioso não determina o voto.
(Por Patricia Fachin e Luana Nyland)

sábado, 16 de junho de 2012

O nordeste e os festejos juninos

Sei que não tenho postado nada neste último mês, mas não foi por falta de assunto e, sim, por muitas tarefas...

Nestes dias entrei de folga e estou viajando pelo nordeste visitando amigos e descansando um pouco..

Neste período nossa região se transforma, porque estamos nos festejos juninos (Santo Antônio, São João e São Pedro). Nosso povo gosta de comer neste tempo comidas a base de milho, dançar quadrilha e muito forró (pé de serra especialmente), faz fogueiras em homenagem a esses santos e tudo fica bem mais colorido..

Podemos notar um sentimento de orgulho de ser nordestino e a riqueza de nossa cultura parece sempre ganhar um novo tom, com todos os processos de modernização que vivemos.

Porém, também dá pra sentir a força do capitalismo querendo transformar (em muitos lugares já transformou) esta linda festa popular em mais um produto, mais uma oportunidade para gerar lucro, pervertendo muitas vezes o sentido e a beleza dos festejos juninos.. Bandas oportunistas que não valorizam nossa rica cultura, mas apenas produzem músicas de baixíssima qualidade para o consumo imediato aproveitam este tempo para tentar galgar os degraus da fama, quadrilhas estilizadas vão se tornando empresas para vencer concursos e vamos perdendo o gosto das quadrilhas simples e populares que ensaiavam para dançar nas comunidade pelo simples prazer de dançar, tudo é feito e pensado visando o lucro e vemos os festejos que eram organizados pelas famílias, amigos e vizinhos que compartilhavam o trabalho e a comida para poder juntos conviver e festejar ir desaparecendo...

Gosto muito desta época do ano, do clima que respiramos de alegria e de convivência. Temo pela perda de tudo isso em vista do lucro e do espetáculo vazio de valores culturais.

Também este ano temos pouco milho porque atravessamos uma rigorosa seca, muitas cidades cancelaram as grandes festas por causa da falta de água. Enquanto se investem milhões de reais em festas comerciais de São João, nosso povo sertanejo espera auxílio em meio a esta seca que, infelizmente, pelas previsões, só tende a piorar.

Apesar da seca nosso povo ainda faz alguma coisa para festejar este mês porque está no seu sangue, apesar do sofrimento. Eles não precisam de megaeventos para festejar, eles se juntam com os vizinhos e fazem sua celebração.. o que eles precisam dos poderes públicos e dos empresários do entretenimento é o investimento para enfrentar a seca na esperança de que as chuvas não demorem a chegar.

Festejar este mês não é fuga dos problemas ou alienação, é celebrar nossa cultura nordestina de guerreiros que vivem em meio as violentas mudanças de clima de nossa região, que sabem viver na chuva ou na seca, que enfrentam o calor e o frio, que sabem partilhar na fartura e na falta... é festejar a esperança que nos sustenta em meio uma história de sofrimentos e abandono, é um grito de revolta que se nega a entregar-se as contrariedades da vida apontando sempre para o futuro..

Adoro este tempo de festa, de celebração religiosa e popular. Renova meu orgulho de ser nordestino, de carregar no sangue a história desta região, de fazer parte deste povo guerreiro e alegre.

Nestes dias de folga quero ver as pessoas, ouvir suas histórias, dançar forró e quadrilha, comer comida de milho, conhecer e compartilhar as alegrias e lutas dos que sofrem com a seca... vou seguir meu rumo de peregrino e vamos ver o que Deus coloca em meu caminho.

Boas Festas para todos!!



segunda-feira, 7 de maio de 2012

O Estado Laico



Reflexões do ex-sub Procurador Geral da República, Claudio Fonteles
BRASILIA, sábado, 5 de maio de 2012 (ZENIT.org) - Publicamos a seguir um artigo do ex sub Procurador Geral da República, Claudio Fonteles, enviado hoje à Agência Zenit de notícias e publicado no seu próprio blog http://www.claudiofonteles.blogspot.com.br/
***
Não é de hoje, e com persistência, as grandes empresas jornalísticas de nosso País, sempre que atingem amplo espaço público questões pertinentes à defesa da vida, ou à reflexão sobre a família, vociferam, dogmáticas, em defesa do que chamam: o Estado laico

Querem estabelecer que a República laica não tolera o tratamento de assuntos religiosos, confinados, então, à consciência individual de cada uma das pessoas, e inaceitáveis à difusão pública.
Isso nada tem a ver com República laica. Conduz-nos a gritante erro essa imposição do pensar, “politicamente correto”, a que nos submete o stablishment midiático.

O consagrado Professor de Direito Constitucional José Gomes Canotilho, em sua obra Direito Constitucional – 4ª edição – a partir do estudo dos parâmetros republicanos da Constituição portuguesa de 1911, que encerrou o sistema monárquico, é correto no ensinar que:

2. República laica 
Se no tocante à estrutura organizatória da República a Constituição de 1911 não fez senão recolher as idéias do liberalismo radical (e nem todas), quanto a outros domínios tentou plasmar positivamente, em alguns artigos, o seu programa político. Um dos pontos desse programa era a defesa de república laica e democrática. O laicismo, produto ainda de uma visão individualista e racionalista, desdobrava-se em vários postulados republicanos: separação do Estado e da Igreja, igualdade de cultos, liberdade de culto, laicização do ensino, manutenção da legislação referente à extinção das ordens religiosas (cfr. art. 3º, nºs 4 a 12). O programa republicano era um programa racional e progressista: no fundo, tratava-se de consagrar constitucionalmente uma espécie de “pluralismo denominacional”, ou seja, a presença na comunidade, com iguais direitos formais de um número indefinido de colectividades religiosas, não estando nenhuma delas tituladas para desfrutar de um apoio estadual  positivo.”  (obra citada – pg. 247/8, grifei)

Portanto, Estado laico não é Estado ateu. Não é Estado que proíba sejam abordados temas religiosos no cotidiano das pessoas que nele vivem.

O Estado laico, justo porque democrático e plural, é o que garante a convivência pacífica e respeitosa dos que professam os mais variados credos, inclusive os que credo não tem.
O Estado laico, insisto, respeita as convicções religiosas e sua livre expressão.
O mesmo emérito Professor José Gomes Canotilho, já agora analisando  o tema à luz dos preceitos da Constituição portuguesa de 1976, demonstra como o texto moderno enfatiza a ampla liberdade de manifestação religiosa. De se ler:

2.2. A deslocação constitucional da “República laica
1.      A “laicidade da República”, a “República laica”, é também uma das noções ligadas à tradição republicana. Para além dos “momentos emocionais” que o laicismo republicano transporta, pode dizer-se que ele assenta principalmente em três princípios:secularização do poder político,neutralidade do Estado perante as Igrejas, liberdade de consciência, religião e culto. Todavia, a Constituição de 1976, embora herdando alguns dos princípios republicanos de 1910 (cfr. supra, Parte II, Cap. 3, E, I), não adjectivou a República Portuguesa como “República laica” e deslocou os problemas fundamentais do “laicismo” para o âmbito dos direitos fundamentais. Para além de evitar a reposição da “questão do clericalismo”, a Constituição considerou que, verdadeiramente, o que estava em causa eram problemas relativos a direitos, liberdades e garantias: liberdade de consciência, de religião e de culto, proibição de discriminação por motivos de convicções ou práticas religiosas, liberdade de organização e existência das igrejas e comunidades religiosas, liberdade de ensino da religião e o princípio da igualdade perante o Estado de todas as religiões (cfr. art. 41º).” (obra citada – pg. 410/411, grifei)            Nossa Constituição partilha dessa mesma diretriz, visto que, expressamente, no inciso VI, do artigo 5º, afirma que            “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias


O inciso VII também assegura “a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva”, e o inciso VIII não permite, seja privada, qualquer pessoa, de direitos “por motivo de crença religiosa”.
Todo esse quadro normativo – é óbvio – não enclausura religiosos, e não religiosos, no espaço único de sua privacidade.

Religiosos, e não religiosos, com as respectivas crenças, ou sem qualquer crença, têm o amplo direito de expor essas suas variadas concepções de viver na cotidiana formação da democrática sociedade. Democrática porque acolhe, incentiva e resguarda a pluralidade dos posicionamentos, e democrática, também, porque compreende ser infindável a interação humana, enquanto vida houver.

Eis preciosos ensinamentos do padre Mario de França Miranda, como expostos no seu livro: “Igreja e Sociedade”:“Hoje já se reconhece que as religiões têm algo a oferecer à sociedade civil. São elas que denunciam a marginalização a que são condenados os mais pobres, bem como as injustiças de políticas econômicas. São elas que oferecem uma esperança que sustenta e mobiliza os mais fracos. São elas que, livres de um dogmatismo doutrinário e impositivo, oferecem motivações e intuições substantivas ( e não apenas funcionais ) para as questões sujeitas ao debate público. São elas que, numa sociedade neoliberal e prisioneira de um racionalidade funcional em busca de resultados. Desmascaram a frieza burocrática e tecnocrática apontando os efeitos devastadores de certas decisões. São elas que, para além das macrossoluções milagrosas, apontam para a responsabilidade de cada um e para a imprescindível rejeição de um individualismo cômodo,sem as quais a ética na vida pública ou o problema ecológico não serão solucionados. Aqui a sabedoria religiosa talvez possa ser mais eficaz do que muitos discursos dos tecnocratas.”( pg. 139-40, grifos do autor e meu ).

E, em síntese, correta, prossegue Mario de França Miranda:“Porque a sociedade civil pode se tornar presa de ideologias totalitárias, prisioneira da lógica de resultados, ou do sistema econômico dominante, ela necessita de uma instância que a transcenda e a questione, que a desestabilize beneficamente e que a faça progredir.”( pg. 141, grifos do autor e meu ).

Assuntos de tamanha relevância pedem tratamento cuidadoso e responsável, pena comprometer-se a importante missão não só de informar, mas de formar a opinião pública.  

Claudio Fonteles

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Repensando a compaixão


Maria Clara Lucchetti Bingemer
Teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio
Adital

A palavra compaixão talvez seja uma das menos entendidas de todas as línguas. Normalmente é associada à pena, piedade, comiseração. Ora, não há nada mais alheio ao sentido visceral dessa palavra forte e ardente –compaixão– do que essas edulcoradas e humilhantes definições.

Compaixão é sofrer com, padecer solidariamente e em comunhão. Tem a ver com justiça e restaurar dignidades atingidas e cruelmente vulneradas. Compaixão é o sentimento que caracteriza o ser humano diante de seus irmãos em humanidade que se encontram desumanizados pela pobreza, a violência e a opressão. É o que move o coração dos justos diante da iniquidade e do sofrimento do outro. É o que enche de desejo de comungar com a dor do outro e fazê-la sua.

Perante as vítimas inocentes da injustiça, dentro de um ambiente de globalização e pluralismo como é o nosso hoje, existirá um critério de entendimento e convivência irrevogavelmente reconhecido e vinculante para todos e, neste sentido, capaz de ser reconhecido como verdadeiro? Parece-me ser compaixão a palavra-chave para encontrar a resposta. Pois ela é capaz de suscitar a memória subversiva das vítimas para fazê-las de novo ativas na história.

É este conceito-atitude que procura exprimir a necessidade de o cristianismo abandonar a sua ameaçadora autoprivatização acomodada. Compassio não é um sentimento a partir de cima ou de fora, mas a percepção do sofrimento alheio, no qual se toma parte e que eticamente obriga. Para esta compaixão, vale o imperativo categórico: "para, escuta e olha”.

A compaixão é a capacidade de partilhar o sofrimento do outro. Com efeito, o mais terrível do sofrimento não é tanto ele em si, mas a solidão que nele se experimenta. Por isso alguns teólogos contemporâneos tratam de elaborar uma memoria passionis (memória da paixão) como categoria de base de uma teologia em espaço público. Trata-se de recordar –lembrar com o coração- os sofrimentos dos outros; fazer um rememorar público do sofrimento alheio, incorporado de tal maneira ao uso público da razão que a esta imprima um selo.

A compaixão parte, portando, da universalidade da experiência do sofrimento. A partir daí entende a teologia contemporânea a necessidade de uma nova teologia política que contribua vigorosamente para uma Igreja compassiva, funcionando a "memoria passionis” como recordação provocadora que fundamenta uma nova ética.

Os que sofrem, as vítimas de todo tipo, teriam então uma autoridade. E esta autoridade seria a autoridade interior de um ethos global, de uma moral mundial, que obrigaria todos os homens anteriormente a qualquer ideologia, a qualquer entendimento. Uma moral que, por conseguinte, não pode ser posta de lado ou relativizada por nenhuma cultura e por nenhuma religião, ou igreja. Toda verdadeira mística, hoje, sobretudo após Auschwitz, não pode não ser inspirada por esse ethos. E uma política inspirada por este ethos seria mais e diferente de uma pura executora das orientações do mercado, da técnica e de suas opressões objetivas em nossos tempos de globalização. Seria, portanto, mais humanizante e libertadora.

Aquilo que a teologia política explicitará na Europa do pós-guerra, que a teologia da libertação tematizará na América Latina a partir dos anos 1970, muitos já o viviam e o vivem em suas vidas e experiências espirituais, explicitando-o em sua práxis. Referimo-nos aqui a fenômenos como o dos padres operários, na Europa dos anos 1950; a pessoas como Madeleine Delbrel, apóstola das ruas de Paris; a Simone Weil, filósofa agnóstica que a partir da dureza do trabalho da fábrica vivido em seu corpo encontra a Deus e a Jesus Cristo, já nos anos 1930, antes mesmo dos horrores da guerra. E a tantos outros e outras que já viviam e narravam o que a teologia posteriormente elaborou em estilo articulado e rigoroso.

É possível, portanto, afirmar que o critério universal da condição humana se encontra na interpelação feita pela pobreza e a dor do outro e pela compaixão que ela origina. Todo este movimento não é apenas ético, mas também místico - ou melhor, é místico porque ético e vice-versa - uma vez que na Revelação bíblica e no Cristianismo ambas as coisas não se dissociam. Só encontrando aí sua fonte de inspiração primeira e iniludível pode a Teologia não ser infiel à sua identidade e à sua missão.

[Autora de "Simone Weil - A força e a fraqueza do amor” (Ed. Rocco)].

FONTE: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=66532

sábado, 7 de abril de 2012

A ressurreição como insurreição


(Por Leonardo Boff) 07/04/2012


Há uma questão da existência social do ser humano que atormenta o espírito e para a qual a ressurreição do Crucificado pode trazer um raio de luz: que sentido tem a morte violenta dos que tombaram pela causa da justiça e da liberdade? Que futuro têm aqueles proletários, camponeses, índios, sequestrados, torturados, assassinados pelos órgãos de segurança dos regimes despóticos e totalitários, como os nossos da América Latina, em fim, os anônimos que historicamente foram trucidados por reivindicarem seus direitos e a liberdade para si e para toda uma sociedade?
Geralmente a história é contada pelos que triunfaram e na perspectiva de seus interesses. A nossa, a brasileira, foi escrita pela mão branca. Só com o historiador mulato Capistrano de Abreu apareceu a mão negra e mulata. O sofrimento dos vencidos quem o honrará? Seus gritos caninos que sobem ao céus quem os escutará?
A ressurreição de Jesus pode nos oferecer alguma resposta. Pois, quem ressuscitou foi um destes derrotados e crucificados, Jesus, feito servo sofredor e condenado à vergonha da crucificação.
Quem ressuscitou não foi um César no auge de sua glória, nem um general no apogeu de seu poderio militar, nem um sábio na culminância de sua fama, nem um sumo-sacerdote com perfume de santidade. Quem ressuscitou foi um Crucificado, executado fora dos muros da cidade, como lembra a Carta aos Hebreus, quer dizer, na maior exclusão e infâmia social.
Mas foi ele que herdou as primícias da vida nova. Pois a ressurreição não é a reanimação de um cadáver como aquele de Lázaro. A ressurreição é a floração plena de todas as virtualidades latentes dentro de cada ser humano. Ela revela o sentido terminal da vida: a irradiação suprema do “homo absconditus” (o humano escondido) que agora se faz o “homo revelatus”(o humano revelado).
A ressurreição de Jesus mostrou que Deus tomou o partido dos vencidos. O algoz não triunfa sobre sua vítima. Deus ressuscitou a vítima e com isso não defraudou nossa sede por um mundo finalmente justo e fraterno que coloca a vida no centro e não o lucro e os interesses dos poderosos. Só ressuscitando os vencidos, fazemos justiça a eles e lhes devolvemos a vida roubada, vida agora transfigurada. Sem essa reconciliação com o passado perverso, a história permaneceria um enigma e até um absurdo.
Os injustamente executados voltarão, com a bandeira branca da vida. O verdadeiro sentido da ressurreição se mostra como insurreição contra as injustiças deste mundo que condena o justo e dá razão ao criminoso.
Agora pode começar uma nova história, com um horizonte aberto para um futuro promissor para a vida, para a sociedade e para a Terra. Dizem historiadores que o mundo antigo não conhecia o sorriso. Mostrava a gargalhada do deus Baco ou o riso maldoso do deus Pan. O sorriso, comentam, foi introduzido pelo Cristianismo por causa da alegria da Ressurreição. Só pode sorrir verdadeiramente quando se exorcizou o medo e se sabe que a grande palavra final é vida e não morte. O sorriso, portanto, é filho da Ressurreição que celebra a vitória da vida sobre a morte, testemunha o encantamento sobre a frustração e proclama o amor incondicional sobre a indiferença e o ódio.
Este fato é religioso é somente acessível mediante a ruptura da fé. Admitindo que a ressurreição realmente aconteceu intra-historicamente, então seu significado transcende o campo religioso. Ganha uma dimensão existencial, social e cósmica. Na expressão de Teilhard de Chardin, a ressurreição configura um “tremendous” de dimensões evolucionárias, pois representa uma revolução dentro da evolução.
Se o Cristianismo tem algo singular a testemunhar, então é isso: a ressurreição como uma antecipação do fim bom do universo e a irrupção dentro da história ainda em curso do “novissimus Adam” como São Paulo chama a Cristo: o “Adão novíssimo”. Portanto, não é a saudade de um passado mas a celebração de um presente.
Depois disso, cabe apenas se alegrar, festejar, ir pelos campos para abençoar os solos e as semeaduras como o faz ainda hoje Igreja Ortodoxa na manhã de Páscoa.Entoemos, pois, o Aleluia da vida nova que se manifestou dentro do velho mundo.
Leonardo Boff é autor A nossa ressurreição na morte (Vozes).


quinta-feira, 29 de março de 2012

URGENTE: PRECISAMOS PROTEGER NOSSAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES!


Escrevo este texto tendo diante de mim o artigo da Folha.com de ontem que traz a notícia de que o STJ (Superior Tribunal de Justiça), tratando sobre o tema de estupro de vulneráveis, em sua “Terceira Seção da Corte decidiu que atos sexuais com menores de 14 anos podem não ser caracterizados como estupro, de acordo com o caso.

“O tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o inocentaram com o argumento de que as crianças ‘já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data’." Ou seja, porque essas crianças já se prostituiam para sobreviver dentro de um sistema incapaz de lhes garantir o mínimo para uma vida digna, agora esta realidade se torna uma justificativa para considerar inocente quem se aproveita desta situação para explorá-las e abusar delas??

Não entendo mesmo os rumos deste país!!
Vejam: uma criança entra no mundo da prostituição não por escolha própria, mas por pressão da realidade em que se encontra. Ela, uma vez desamparada pela família e pelo Estado, vai procurar meios de sobrevivência, muitas vezes caindo na prostituição por incentivo ou influência de quem já vive desta realidade, ou pior, forçada por adultos que querem explorá-la.
Deste modo, essas crianças se tornam vítimas, exploradas por aqueles que ganham em cima de sua prostituição. E os que pagam para ter relações com elas o fazem por desejar estar com menores, mas sabem que socialmente seria considerado crime (pedofilia ou estupro, por exemplo,), por isso se escondem debaixo do sexo pago, dos meios sombrios do mundo da prostituição, para satisfazer seus desejos.

As crianças são vítimas, mesmo estando no mundo da prostituição e tendo um histórico nesta realidade, ainda assim, elas são vítimas exploradas e abusadas.

Falo como cidadão e como padre comprometido com o projeto de Deus que é um projeto de amor e de vida digna para todos. Por isso, gostaria de convidar a todos a dar apoio a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário que está empenhada em combater esta decisão do STJ.

Segundo a reportagem a ministra afirmou que “ ‘Essa decisão [do STJ] significa constituir um caminho de impunidade’ ”. Ainda a mesma reportagem apresentou que “Maria do Rosário disse ainda que vai entrar em contato com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e com o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams, para tratar do caso e buscar ‘medidas jurídicas cabíveis’. ‘Estamos revoltados, mas conscientes. Vou analisar a situação com o doutor Gurgel e com o Advogado-Geral da União para ter um posicionamento’ ".

Como cidadãos que desejam uma sociedade que proteja e promova a vida de nossas crianças e adolescentes, como cristãos comprometidos com o evangelho que nos ensina que devemos proteger os pequeninos e condena quem os prejudica, não podemos nos calar. Precisamos nos manifestar por todos os meios possíveis, pois se esta decisão se torna jurisprudência para outros casos similares teremos criado um caminho de impunidade, como disse a ministra, para aqueles que roubam dessas crianças e adolescentes o direito de crescer com dignidade.

Vamos mandar e-mails, twiters, mensagens no facebook, escrever nos blogs e em todos os meios possíveis. Vamos manifestar nossa indignação e o nosso não a esta decisão, pois se não nos manifestamos agora choraremos mais tarde a nossa omissão vendo a infância roubada e destruída de tantas crianças e adolescentes.


Um fraterno abraço!

Pe. Augusto Lívio

segunda-feira, 26 de março de 2012

Coisas que não compreendo...

Olá amigos e amigas!

Desculpem o tempo sem postagens, mas muitas atividades me tiraram do ar. Porém, estou de volta e quero comentar algo que vi neste fim de semana no fantástico e que sempre me chamou a atenção.

Acredito que vocês viram as reportagens sobre propina, desvio de dinheiro público e sobre o problema da Jampa Digital, em João Pessoa - PB.

Não vou fazer análise das reportagens, pois não tenho todas as informações nem sou especialista no assunto. Desejo comentar outra coisa que essas reportagens me provocaram: por que é tão fácil para a imprensa descobrir esses crimes e torná-los públicos com evidências bem concretas e o sistema de justiça não consegue fazer o mesmo?? Será que a nossa imprensa é mais competente que o sistema de justiça do nosso país para investigar crimes?? Será que os repórteres são mais bem treinados para a investigação e levantamento de provas do que nossos policiais e investigadores??

Sempre fico admirado como só depois de uma reportagem como essa é que a justiça se manifesta e "abre investigações sobre o caso". Parece uma mágica!! É como se alguém dissesse: " Oh, meu Deus! Meu bigode está pegando fogo, mas eu não estava vendo!! Obrigado por me avisar!! Vou apagar o fogo e salvar o que sobrou!!"

É uma piada para mim esta situação. Só pode ser!! Porque não vi nem ouvi nenhuma explicação convincente sobre esta situação.

Eu tenho uma teoria (muito pessimista, para ser sincero).

Nosso sistema político: Legislativo, Executivo e Judiciário, com todos os órgãos a eles ligados, estão podres por dentro...
Existe um esquema de silêncio e acobertamento no qual a grande maioria (Deus queira que não sejam todos) está envolvida. Sabem o que acontece, participam das falcatruas, e no fim, ninguém diz ou sabe de nada. Isto porque se eu apontar para seu bigode sujo eu corro o risco de que você aponte para o meu mais cedo ou mais tarde.

Os organismos responsáveis em investigar e prender os criminosos nesses meios não podem trabalhar porque  são justamente seu superiores os responsáveis por esse sistema corrompido. Deste modo nada pode avançar porque ninguém vai dar um tiro no próprio pé..

Gostaria de descobrir um modo de enfrentar tudo isto. O sentimento de revolta, de indignação, de humilhação, de angústia e impotência que sinto me faz pensar se vale a pena acreditar que esta coisa toda que chamamos de Brasil tem jeito. Parece que todo mundo está somente preocupado em levar vantagem, pois até em meio aos pobres também encontramos muitos que querem uma fatia deste "bolo público" se tiverem a oportunidade.

Não sei mesmo o que fazer!! Uma revolução não resolve, pois quem me garante que depois os que assumem o poder não vão reproduzir os mesmos esquemas de corrupção? A história está aí para provar o que estou dizendo..

Idealizamos que queremos ser honestos, justos e bons, mas na prática, se temos a oportunidade, somos mesquinhos, egoístas e corruptos..

É claro que existem exceções! É claro que tem gente boa e decente nesse país, mas me parece que ou são minoria ou não tem coragem de enfrentar esta situação ou, talvez como eu, se sintam impotentes diante de um sistema corrupto e corruptor, que silencia os que se opõe a ele como se fossem criminosos terríveis.

Desculpem-me amigos e amigas leitores, por este desabafo, mas não podia ficar sem pelo menos dizer algo, já que não consigo fazer outra coisa no momento.

Gostaria que as pessoas que lessem este texto pensassem seriamente sobre seu papel nesta sociedade, que refletissem no que podem fazer para fazer diferente, porque se não, aquele ditado que diz "A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE", vai deixar de existir... Só nos restou a ESPERANÇA para tentar mudar esta situação, entretanto, ela esta agonizando e, mesmo sabendo que ela é a "última que morre", não esqueçamos que isso significa que um dia a ESPERANÇA pode MORRER. Temo que este dia não esteja tão longe...

Vamos procurar caminhos e salvar ainda a ESPERANÇA para ver se fazemos uma história diferente em nosso país.

Um forte e fraterno abraço!

Pe. Augusto Lívio

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Um Manifesto circulando na internet... interessante!

Olá amigos e amigas!


Sei que andei sem postar nada nestes últimos tempos, mas realmente o final de ano e início de ano estão sendo muito cheios.
Bem.. para começar o ano novo resolvi postar este manifesto que está circulando na internet e que recebi recentemente.
Achei muito interessante pelo ponto de vista que apresenta e nos convida a olhar como funciona o nosso sistema político.
Não tem a autoria, por isso não posso colocar a origem, mas disponibilizo para a reflexão de todos.. 
Boa leitura!


Manifesto:

Peço a cada destinatário para encaminhar este e-mail a um mínimo de vinte pessoas em sua lista de endereços, por sua vez, pedir a cada um daqueles a fazer o mesmo. 
Em três dias, a maioria das pessoas no Brasil terá esta mensagem. Esta é uma idéia que realmente deve ser considerada e repassada para o Povo.

Lei de Reforma do Congresso de 2012 (emenda da Constituição do Brasil)

1. O congressista receberá salario somente durante o mandato. E não terá direito a aposentadoria diferenciada em decorrência do mandato.

2. O Congresso contribui para o INSS. Todo o fundo (passado, presente e futuro) atual no fundo de aposentadoria do Congresso passará para o regime do INSS  imediatamente. O Congressista participa dos benefícios dentro do regime do INSS exatamente como todos outros brasileiros. O fundo de aposentadoria não pode ser usado para qualquer outra finalidade.

3. Congressista deve pagar para seu plano de aposentadoria, assim como todos os brasileiros.

4. Congresso deixa de votar seu próprio aumento de salário, que será objeto de plebiscito.

5. Congressista perde seu seguro atual de saúde e participa do mesmo sistema de saúde como o povo brasileiro.

6. Congressista está sujeito às mesmas leis que o povo brasileiro.

7. Servir no Congresso é uma honra, não uma carreira. Parlamentares devem servir os seus termos (não mais de 2), depois ir para casa e procurar emprego. Ex-congressista não pode ser um lobista.

8. Todos os votos serão obrigatoriamente abertos, permitindo que os eleitores fiscalizem o real desempenho dos congressistas.

9. Os deputados e senadores devem pagar transporte, pagar moradia e tudo mais como todos os que trabalham de verdade neste país.

Se cada pessoa repassar esta mensagem para um mínimo de vinte pessoas, em três dias a maioria das pessoas no Brasil receberá esta mensagem.

A hora para esta emenda na Constituição é AGORA.

É ASSIM QUE VOCÊ PODE CONSERTAR O CONGRESSO. Se você concorda com o exposto, REPASSE, Se não, basta apagar

Você é um dos meus + 20. Por favor, mantenha esta mensagem CIRCULANDO.

Este foi o e-mail que recebi e o postei tal e qual.. não sei quem começou isto, mas o conteúdo realmente nos obriga a pensa no óbvio: como nosso sistema político é "tronxo"!!!! (desculpem o nordestinês, mas não tenho palavra melhor).


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