Julgamento no Sinédrio |
Jesus
é morto mediante dois julgamentos: um religioso e outro político.[1]
O
julgamento religioso ocorre porque Jesus entra historicamente em conflito com
os líderes religiosos de seu tempo e, por isso, será também condenando
teologicamente em nome de Deus. Ele foi acusado de blasfêmia e de ameaçar
destruir o Templo,[2]
porém ao examinarmos melhor como Jesus desenvolveu seu ministério, parece ser
mais sensato concluir que os membros da casta sacerdotal estavam irritados por
ver que Jesus se erigia em reformador religioso dos usos cultuais vigentes em
seu tempo, questionando a posição e a interpretação oficial.
Jesus diante de Pilatos |
As
acusações que os Evangelhos apresentam no processo de Jesus diante de Pilatos
permitem entrever como as autoridades romanas viam qualquer movimento suspeito:
como algo politicamente perigoso, com discursos subversivos, e como uma
possibilidade de rebelião contra a dominação romana.
O
que confirma essa perspectiva do julgamento político é que Jesus morre
crucificado como um malfeitor político. Morre com o tipo de morte que só o
poder político romano podia dar. O tipo de morte que era aplicada àqueles que
eram considerados uma ameaça para a ordem política romana.
Por
que mataram Jesus? Por seu tipo de vida, pelo que disse e pelo que fez.
As
autoridades religiosas e a aristocracia judaica julgaram e mataram Jesus em
nome de Deus, em nome da daquilo que eles achavam que era a vontade de Deus,
para manter a pax romana controlando todo e qualquer movimento que
pudesse se tornar problemático, para manter o status da religião que lhes
garantia poder e prestígio.
O
poder político também julgou e matou Jesus em nome de seu “deus”, o imperador
César, porque seu movimento foi identificado como potencialmente perigoso, para
evitar qualquer possibilidade de problemas com o seu grupo, enfim, por ele ser
considerado “inimigo de César”.
A
morte de Jesus não foi um erro. Ela foi consequência de sua vida. E a vida de
Jesus foi consequência de sua encarnação concreta, ou seja, ele encarnou-se em
um mundo e em uma história que geram exclusão e morte. Ao tomar partido em
defesa das vítimas desse mundo e dessa história, ele assumiu as consequências.
Jesus
foi morto porque ele incomodava com suas ações e com sua palavra. E quando
alguma coisa incomoda logo procuramos um jeito de nos livrarmos dela!
Foi
por tudo isso que mataram Jesus!
Resta-nos
ainda outra questão: por que Jesus morreu?
Vamos
continuar falando sobre isso na próxima postagem.
[1]
Como o objetivo desse blog é desenvolver uma reflexão acessível, não é possível
fazer uma exposição densa sobre todos os pontos desse tema. Porém, coloco a
seguir uma lista bibliográfica a partir da qual essa reflexão se desenvolve.
Fica a dica para a pesquisa dos leitores e leitoras:
- BARBAGLIO, Giuseppe. Jesus, hebreu da Galileia: pesquisa histórica. São Paulo:
Paulinas, 2011.
- HORSLEY, Richard A.; HANSON, John S.. Bandidos, profetas e messias:
movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995.
- REICKE, Bo. História
do tempo do Novo Testamento. Santo André: Academia Cristã; São Paulo:
Paulus, 2012.
- SCARDELAI, Donizete. Movimentos messiânicos no tempo de Jesus: Jesus e outros messias.
São Paulo: Paulus, 1998.
- SEGUNDO, Juan Luis. A história perdida e recuperada de Jesus de Nazaré: dos sinóticos a
Paulo. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 1997.
- SCHILLEBEECKX, Edward. Jesus, a história de um vivente. Tradução: Frederico Stein. São
Paulo: Paulus, 2008.
- SCHNEIDER, Theodor (Org.). Manual de dogmática – v.I. 2ª ed.
Petrópolis: Vozes, 2002.
- STEGEMANN, E. W.; STEGEMANN, W. História social
do protocristianismo: os primórdios no judaísmo e as comunidades de Cristo
no mundo mediterrâneo. São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Paulus, 2004.
- SOBRINO, Jon. Jesus,
o libertador: I – A história de Jesus de Nazaré. 2ª ed. Petrópolis:
Vozes, 1992.
- THEISSEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus histórico: um manual. 2ª
ed. São Paulo: Loyola, 2004.
[2]
Blasfêmia: cf. Mt 26,64; Mc 14,62; Lc 22,67; Jo 10,24. Sobre o templo: cf. Mt
26,61; Mc 14,68; Jo 2,19.
[3]
Muitos estudiosos entendem que essa atitude presente nos Evangelhos reflete o
contexto da época em que estes foram escritos. Seus autores (que escreveram
entre os anos 60 e 90 d.C. os Evangelhos) teriam procurado evitar polemizar com as autoridades
romanas, pois as comunidades já estavam sofrendo represálias da parte poder
romano. Entretanto, documentos da época e a obra de Josefo oferecem
interessantes informações sobre a personalidade e as ações de Pilatos na Judeia
entre os anos 26 e 36 d.C. que nos permitem sustentar essa linha de pensamento.
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