O ano está no fim. E, pensando no que poderia escrever, resolvi apenas dizer OBRIGADO PELA FORÇA!
Isso mesmo! Eu inventei de criar este blog e algumas pessoas acessaram, leram os textos e artigos, algumas (poucas) comentaram ou votaram na enquete. Tudo bem...
Estou feliz porque este espaço de reflexão e partilha está no ar. Estou feliz porque algumas pessoas querem compartilhar comigo neste espaço...
Espero conseguir manter este espaço funcionando no próximo ano, porque o trabalho aumenta e o tempo sempre parece menor. Este final de ano não consegui postar nada além deste último texto de 2010...
A você twiteiro, orkuteiro, facebooqueiro, e todos os eiros que possam existir, meu abraço e desejo de um ano novo realmente novo! Novo em esperanças e atitudes, novo no desejo de transformar este mundo e de viver plenamente nossa vida compartilhando-a com os outros, pois só se é feliz de verdade nesta vida se se aprende a amar... Um ano novo mais consciente e comprometido com a luta por mudanças reais na estrutura de exclusão de tantos e tantas do nosso convívio social... Um ano novo de mais ternura e amizade, pois há tanto sofrimento e solidão, e tantas pessoas precisam descobrir ainda a beleza de estar vivo... Um ano novo de possibilidades e de sabedoria para saber escolher o caminho a seguir...
Espero poder continuar compartilhando com todos os que quiserem minhas idéias e reflexões, mas também quero ouvir o que vocês tem a dizer... Que seja um ano de diálogo, não um monólogo....
Até daqui a pouco, em 2011! Nos encontramos lá, se Deus quiser!
Um forte abraço!
Pe. Augusto Lívio
Este espaço está a serviço da reflexão sobre vários temas que sejam de interesse humano. Quero compartilhar esses pensamentos com quem desejar.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro."
QUANDO A HIPOCRISIA SE ALIA A DEMAGOGIA NO BRASIL E RIO DE JANEIRO
Fonte: Jornal de Brasília
Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília, critica o "cinismo"dos jornalistas, artistas e intelectuais ao defenderem o fim do poder paralelo dos chefes do tráfico de drogas. Guedes desafia a todos que "tanto se drogaram nas últimas décadas que venham a público assumir:
Leia o artigo na íntegra:
Leia o artigo na íntegra:
É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora por assim dizer, na vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro.
Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.
Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.
( Grifo meu: "Por isto esta mesma corja odeia a verdade descarada exposta em TROPA DE ELITE)".
Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon.
Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon.
Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.
Quanto mais glamuroso o ambiente, quanto mais supostamente intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco.
Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca - e brasileira, por extensão.
Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato !!!
Festa sem cocaína era festa careta.
As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do asfalto.
Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado terminou.
Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.
Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacuera, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.
Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.
Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacuera, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.
Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é, digamos assim, tolerado.
São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm controle sobre seus atos. Destroem famílias, arrasam lares, destroçam futuros.
São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm controle sobre seus atos. Destroem famílias, arrasam lares, destroçam futuros.
Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir:
"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro."
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes e sejam mais honestos consigo mesmos.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Rio de Janeiro: a guerra como caminho para a paz?!?!
Exatamente no dia 25 de novembro de 2010 eu fui ao cinema para assistir ao filme “Tropa de Elite 2” (apesar de não ter assistido o primeiro!). Assistindo ao telejornal, naquele mesmo dia, fiquei com a impressão de estar revendo o filme, pois havia começado a ocupação dos morros no Rio de Janeiro (ou Comunidades) que eram redutos do narcotráfico.
Uma operação articulada entre polícias, exército e sistema de inteligência executou a invasão e ocupação dessas Comunidades, realizando prisões, apreensões, com baixas (infelizmente) devido à resistência armada dos traficantes.
Entretanto, o que mais me chamou a atenção não foi o aparato militar, ou a quantidade de apreensões de drogas e armas, mas o discurso de que agora essas comunidades estão em paz, agora acabou o terror, o medo, porque os traficantes foram expulsos desses lugares. Este discurso revela que a solução (a única talvez) era realizar uma ação como esta: uma ação de guerra!
Não quero aqui criticar a ação das autoridades, pois sei que todos aqueles homens arriscaram suas vidas para cumprir a missão de ocupar as comunidade e prender os bandidos. Sei que eles fizeram todo o trabalho com o objetivo de ajudar aquelas pessoas que eram reféns dos traficantes. Sei que a ação realizada tinha como motivação fazer o bem àquelas pessoas.
O que me inquieta em tudo isso é outra coisa! O que me angustia é a idéia de que em alguns casos a única solução esteja (talvez) na ação armada, violenta, para se poder resolver o problema que, devemos lembrar, não é uma coisa qualquer, mas são pessoas que seguiram uma vida de crimes... Que a solução seja atirar contra essas pessoas (pois elas também atiram!), matá-las em nome do bem comum e da lei, agir com força e violência para dominar essas pessoas, para que elas não prejudiquem mais ninguém. O que me provocou confusão foi ver que religiosos rezavam para que toda esta situação se resolvesse (e a solução era que os policiais vencessem o conflito armado!); ver um dos responsáveis pela ação afirmar categoricamente: “Deus está do nosso lado! Nós vamos vencer!”
É diante de tudo isso que me pergunto: onde está a força do Evangelho? Onde está a fé na conversão? Onde estavam os cristão que não foram capazes de mudar esta situação de modo diferente? A idéia (tão criticada por muitos) que se encontra no ensinamento da Igreja Católica de que existem guerras justas agora encontra sua confirmação mórbida? Realmente para se chegar a paz será preciso passar pela guerra? Será que a violência realmente é o único caminho para se poder fazer justiça em alguns casos?
Confesso que estou confuso: como falar de amor e perdão diante do que vemos neste episódio do Rio de Janeiro? Pois falar nisso soa como omissão ou colaboração com a situação, para com aqueles que cometiam os crimes: tráfico, extorsão, dominando as comunidades pelo medo.
Como trazer a mensagem do evangelho para esta realidade se todos consideram este modo de agir (por meio da força) o melhor caminho para solucionar esses problemas, e pedem a benção de Deus para que tudo termine bem e com a vitória para os “mocinhos”?
Estou procurando respostas e não sei se as encontrarei. A necessidade de partir para uma ação como essa que assistimos pela TV para resolver o problema do crime organizado nessas comunidades revela, para mim, o fracasso do Evangelho, dos cristãos em comunicá-lo.
Essa boa notícia fica parecendo historinha para um seguimento da sociedade que não tem que enfrentar o traficante todos os dias na porta de sua casa, as brigas entre facções ou o medo constante de ser obrigado a colaborar com o acobertamento de criminosos, expondo seus filhos a um mundo violento.
Fato: os homens da polícia, exercito e demais organismos enfrentaram o problema do jeito que foram treinados para enfrentar e comprometeram suas vidas para realizar seu trabalho.
Fato: os cristãos não souberam enfrentar o problema nem foram capazes de comprometer suas vidas na busca de soluções à luz da prática evangélica.
Aparentemente a ação da secretaria de segurança pública resolveu o problema: traficantes presos ou expulsos de seus redutos, apreensão de drogas e armas, mais de sessenta mortes (até o momento em que terminei este texto). Mas, então, para que serve a mensagem do Evangelho? Se por meio da guerra se chega a paz, para que serve o Evangelho da paz?
Não tenho respostas a essas perguntas e angústias, apenas estou expondo esses pontos na esperança de chegar a alguma resposta... Ou quem sabe trocar idéias até conseguir entender o que está acontecendo...
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
O PAPA E A CAMISINHA
Esses dias, na mídia, estão fazendo o maior barulho porque o Papa Bento XVI teria liberado o uso da camisinha em uma declaração dada em um livro que será publicado nos próximos dias.
Eu não li o livro ainda, mas alguns amigos me pediram para postar algo sobre este tema, por isso me limitei aqui a apresentar o que a Igreja fala sobre o ser humano e sua sexualidade de modo breve e sobre como interpreto, dentro deste contexto, a afirmação do Papa Bento XVI sobre este assunto. Depois que eu puder ler o livro postarei algo mais concreto e substancioso.
Diante do alarde que alguns meios de comunicação estão fazendo ao afirmar que o Papa liberou a camisinha, preciso dizer que não foi isso o que Bento XVI disse, mas o que ele quis expressar foi o princípio simples da moral cristã dentro de sua compreensão sobre o ser humano e sua dignidade.
O ser humano, criado a imagem e semelhança de Deus, é chamado a viver em relações saudáveis e edificantes com outras pessoas, com a natureza e com o próprio Deus. Essa capacidade e vocação relacional também incluem a dimensão de sua sexualidade e do sexo propriamente dito.
Dentro da visão cristã, o sexo não pode ser vivido desvinculado do amor e da abertura a vida. E, sendo assim, uma vida sexual madura traz consigo a capacidade de compromisso e de responsabilidade diante do outro com quem se compartilha algo tão íntimo e único que é o próprio corpo, sentimentos, desejos e até sonhos.
Ao afirmar que o uso do preservativo com intenção de reduzir o risco de infecção é moralmente aceitável, o Papa está olhando para este horizonte, de uma vivência sexual madura e responsável, como ele mesmo diz “mais humana”. Do mesmo modo como a Igreja não condena uma mulher que faz tratamento para problemas no útero e/ou ovários e que, para isto, precisa tomar pílulas que contém hormônios contraceptivos, pois, nestes casos, como no caso dos preservativos, o objetivo é terapêutico, não contra a possibilidade de gravidez. Nestes casos a contracepção é um efeito colateral, não o efeito desejado.
O Papa coloca o preservativo dentro desta perspectiva educativa, como uma etapa necessária para se preservar a vida enquanto se orienta um caminho de amadurecimento afetivo e sexual. Tanto é assim que ele mesmo afirma que a camisinha não é “uma solução real e moral”, mas pode, no contexto da preservação da vida, ser um “primeiro passo no sentido da moralização”.
O grande problema da Igreja com a camisinha é a banalização da sexualidade e das relações sexuais. Esta atitude de aparente liberdade na vivência da sexualidade, na verdade, tem confundido e colocado muitos diante de um mundo que não vê as pessoas, mas o que elas podem oferecer. O sexo se tornou negócio, produto de mercado, que se pode consumir sem maiores problemas. As pessoas vão se tornando objetos para dar prazer e as dimensões relacional, afetiva e humanizante deste encontro desaparecem. É neste ponto que a Igreja bate quando se opõe a camisinha, pois ela se tornou símbolo desta mentalidade reducionista do ser humano.
No contexto em que o Papa apresenta a questão do preservativo, o uso da camisinha é uma exceção, não uma regra, ao contrário do que se apregoa comumente na sociedade atual, ela deveria ser uma ajuda em caso específicos, não uma autorização para se ter relações sexuais a critério de cada um, com qualquer um, quando tiver vontade, sem nenhum senso afetivo ou moral. Isto é a banalização da sexualidade.
A camisinha não é a solução para o problema da AIDS. A solução está na educação das pessoas para o amor, para a responsabilidade diante das suas escolhas, para o respeito e a valorização da dignidade de cada pessoa em todas as suas dimensões, na educação para uma sexualidade sadia, baseada nos valores do amor, da castidade, do respeito, da fidelidade, do compromisso, da liberdade, com responsabilidade. Sem isto, por mais que se oriente o uso da camisinha, a AIDS continuará avançando. A camisinha pode ajudar, como afirmou o Papa, dentro de um processo educativo, como uma etapa diante dos riscos a saúde que são reais, mas o problema é de educação para valores que edificam e humanizam a sexualidade.
Não vamos deturpar a intenção de Bento XVI ao fazer esta declaração. Leiamos o livro e vejamos em que contexto estão suas palavras e entenderemos que ele não está “liberando” coisa nenhuma, mas está manifestando a caridade de Cristo em vista do bem e da dignidade humana em todas as suas dimensões, incluindo a sexualidade.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
O violento circo máximo (Pe. Zezinho)
Gays e lésbicas saem às ruas, protestam se afirmam, grevistas param o trânsito, MST invade terras, soltam panfletos, pressionam. A lei diz que podem, desde que não cometam crimes contra a pessoa e contra o patrimônio. Quando cometem, se o Governo quer, são processados. Se o Governo lhes é simpático, empurra-se o processo para algum longo depois. Nem por isso são chamados de obscurantistas. Entre eles há os imaturos e arruaceiros e há os sérios que têm um propósito social ou político no que fazem.
Religiosos também. Há os sérios e os tonitruantes e provocadores que exigem seus direitos aos gritos não sem alguns ataques a quem não crê do jeito deles. Isso porém, não torna todos os religiosos moderados que, contudo, defendem a vida desde o primeiro instante da concepção, indivíduos com fome de poder ou ultrapassados. O MST quer a reforma agrária, os gays querem respeito ao que sentem e os religiosos querem respeito à vida do feto.
Isto não significa que de um lado estejam os ateus e do outro os religiosos, posto que também há ateus defendendo o feto. E nem todos os que tomam a defesa da grávida são ateus. Há religiosos que apoiam a extração do feto, se a grávida estiver em risco de vida.
O fato é que na sociedade brasileira há os que desejam que o aborto não seja mais visto como crime pelas nossas leis e há os que sempre o verão como crime. Mata-se uma vida de 14 ou 30 dias. E aí? Isso torna o outro um homem das cavernas? O eu é modernidade? Querer o direito de extinguir um humano que apenas começou ou defendê-lo já no seu primeiro dia de vida?
O debate que nunca é apenas racional porque se trata da apaixonada defesa de alguém que não é coisa, acaba como acabou, descambando para palavrões, adjetivos cruéis e pejorativos e acusações de ponta a ponta, tudo por conta de um feto que ainda não nasceu, mas que já é objeto de ataque ou de defesa.
Os que morreriam na Arena do Circus Maximus, aplaudidos pela civilização de morte que se tornara a Roma Imperial, voltavam-se para César que permitia sua morte e gritavam: Salve César, os que morrerão te saúdam. Hoje é a vez dos fetos gritarem pela voz de seus advogados: Salve Modernidade. Os fetos que serão extraídos te saúdam! E os modernos imperadores nada poderão fazer, porque outra civilização de morte decretou que interromper sua vida não será mais crime!
Argumento apelativo ou verdade incontestável? Querem ou não querem mudança no Código Penal? Querem ou não querem mudar o que Brasil assinou com a maioria dos países do mundo: que o feto tem o direito de nascer? Querem ou não querem, em nome da grávida que não quer ser mãe daquele determinado feto, que se pense na saúde delas e se suprima seu feto em clínicas limpas? Não há quem não sabia que aborto mal feito pode matar a grávida, mas também não há quem não saiba que aborto bem ou mal feito sempre mata o feto!
Então, sofistas até o extremo, decidem que o feto não tem direitos porque ainda não é pessoa! Rebaixado à categoria de pequeno monte de carne indesejado pela mãe, ele se torna carne humana descartável por lei, porque o bem-estar atual da pessoa adulta que o gerou é mais importante do que sua chance de se tornar pessoa. Vale o agora da mãe. O "depois" do feto não conta! Afinal é só um feto!
É o que diziam os romanos: -Afinal é só mais um escravo que morrerá! Que mais ele quer? Vai morrer com honra, no Circo Máximo! Romanos que se achavam superiores aos outros humanos não conseguiam entender que alguém, com ideais obscurantistas que não cabiam em Roma, quisesse defender um candidato às feras ou ao gládio. É que na sociedade romana havia os que tinham o direito de viver e os que simplesmente deveriam morrer. O império que se alimentava de corrupção ciladas palacianas, golpes de Estado, sedição, sedução, aliados e correligionários, pão e circo, tirara este poder dos deuses! Agora, mandava o império!
Estamos caminhando naquela direção: vale dizer: modernidade em marcha-ré! Mas adivinhem quem eles acusam de retrocesso! Quem defende o futuro!
Pe. José Fernandes de Oliveira, scj
sábado, 20 de novembro de 2010
SOMOS AMIGOS
SOMOS AMIGOS
Amigos que não se escolheram,
Amigos que não planejaram ser amigos.
Amigos por acaso,
E no acaso se tornaram amigos.
Amigos que vieram de longe,
Amigos de culturas diferentes.
Amigos com jeitos diferentes,
E, apesar das diferenças, se tornaram amigos.
Amigos que aprenderam a se conhecer,
Amigos que aprenderam a se “estranhar”.
Amigos que aprenderam a brigar,
E brigando, aprenderam a ser mais amigos.
Amigos que ainda tem muito que descobrir,
Amigos que ainda tem o que aprofundar.
Amigos que ainda precisam se abrir,
E, com o tempo, poderão ser grandes amigos.
Amigos que não passaram pelas provas de dor,
Amigos que ainda não sofreram juntos.
Amigos ainda “verdes” diante da vida,
E, mesmo assim, querendo ser verdadeiramente amigos.
Amigos que estão construindo um caminho,
Amigos que ainda não sabem do seu destino.
Amigos a mercê das incertezas da vida,
E, apesar disto, querem continuar a ser amigos.
Amigos que, um dia, não precisarão dizer mais nada,
Amigos que, em um gesto, tudo já estará entendido.
Amigos que não precisarão provar mais nada um ao outro,
Porque já saberão com certeza: SOMOS AMIGOS.
Augusto Lívio – 12/06/2003
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Na Paulista, com uma lâmpada fluorescente
“Um grupo de cinco jovens de classe média, estudantes de um colégio particular, foi preso ontem acusado de atacar quatro pessoas na região da avenida Paulista. A polícia diz haver indícios de motivação homofóbica. As agressões foram realizadas através de chutes, socos e com bastões de lâmpadas fluorescentes.”
Se eles fossem de classe social mais baixa, certamente alguns textos que apareceriam na imprensa teriam uma cara sutilmente diferente:
“Uma quadrilha composta por menores da favela do Macaco Molhado foi presa ontem ao atacar quatro pessoas na região da avenida Paulista. A polícia diz que a motivação foi claramente homofóbica. As agressões eram feitas com chutes, socos e até com bastões de luz branca.”
Rico é jovem, pobre é bandido. Ao rico, o direito à dúvida (o que deveria ser o padrão, sem julgamentos sumários), ao pobre o tiro implacável da certeza. Um é a criança que fez coisa errada, o outro um monstro que deve ser encarcerado. O pai de um deles ontem, num momento difícil, minimizou, dizendo que eram apenas crianças que estavam chorando na delegacia, trancafiados como bandidos.
Há jornalistas e veículos de comunicação que não fazem diferenciação pelo tamanho da carteira. Se a pessoa é rica ou pobre, tratam-na da mesma forma quando acusada de um crime. Outros, não. Seja pela falta de seguir um manual de redação decente, pela inexistência de autocrítica ou pela subserviência com uma elite local, utilizam um “dois pesos, duas medidas” claramente baseada na origem social.
Tenho minhas dúvidas de como a notícia sairia se fosse diferente. Provavelmente, na hora em que o estagiário que faz a checagem das delegacias se deparasse com a informação, ouviria algo assim: – Pobre batendo em pobre? Ah, acontece todo dia, não é notícia. Além disso, é coisa deles com eles. Então, deixem que resolvam. Amigos que trabalharam em uma rádio desse Brasil grande sem porteira já ouviram algo muito parecido, mas mais cruel… É triste verificar mais uma vez que o conceito de notícia depende de qual classe social pertencem os protagonistas. Somos lenientes com os nossos semelhantes e duros com os outros.
Tempos atrás, um grupo de jovens de classe média espancou uma empregada doméstica no Rio de Janeiro. Sob justificativa de que acharam que era uma prostituta. Ah, bom, assim tudo bem… A desculpa é bastante esclarecedora. Puta pode. Assim como índio e mendigo. Lembram-se do Galdino, que morreu queimado por jovens da classe média enquanto dormia em um ponto de ônibus em Brasília? Ou a população de rua do Centro de São Paulo morta a pauladas também enquanto dormia? Até onde sabemos, apesar dos incendiários brasilienses terem sido presos, eles possuem regalias, como sair da cadeia para passear. E na capital paulista, o crime permanece impune até hoje.
Na prática, as pessoas envolvidas nos casos do Rio, São Paulo e Brasília apenas colocaram em prática o que devem ter ouvido a vida inteira: gays, prostitutas, índios e mendigos são a corja da sociedade e agem para corromper os seus valores morais e tornar a vida dos cidadãos de bem um inferno. Seres que vivem na penumbra e nos ameaçam com sua existência, que não se encaixa nos padrões estabelecidos. E por que não incluir nesse caldo as empregadas domésticas, que existem para servir?
A sociedade tem uma parcela grande de culpa em atos como esse e os dos jovens que se tornam soldados do tráfico por falta de opções e na busca por dignidade. A culpa não é só deles.
Como já disse aqui anteriormente, a diferença é que para os da classe média e alta, passamos a mão na cabeça. Para os pobres, passamos bala.
FONTE: blogdosakamoto.uol.com.br
COMO VIVER A VIDA CRISTÃ NUM MUNDO DE INJUSTIÇA E DOR?
Uma reflexão existencial
Senhor, me sinto esmagado por minha condição.
Olho para minhas mãos vazias e o que vejo? Nada para dar, nada para socorrer.
E se eu falasse? Palavras não enchem barriga.
E se eu cantasse? Música não aquece o frio.
Então, o que fazer.
Estou tão distante da dor do meu irmão que, mesmo sendo de alguma forma tocado por ela, assim mesmo, ela não passa de uma sombra que passa.
Quero gritar! Mas pra que? Desabafo minha frustração e minha dor pode até passar, mas, e a dor do meu irmão?
Trocar de lugar com ele? Isto é hipocrisia! Não trocaria de lugar se as condições me permitissem e já que elas não permitem, então, cultivo esta boa intenção e alivio minha consciência.
Senhor, o que posso fazer? Será que nada posso fazer?
Olhando para Ti encontro, talvez, a resposta que procuro.
Tu não ficaste longe, não ficaste só no “verbo” das palavras. Não gritaste de longe nem “trocaste” de lugar conosco, nos colocando automaticamente bem e você, automaticamente, em sofrimento no nosso lugar.
O caminho que escolheste foi o de ficar junto, sentar junto, estar junto conosco. Comendo do mesmo prato, pisando no mesmo chão, sem trocar de lugar, mas caminhando junto e mostrando o caminho, foi assim que você fez: sofrendo junto e buscando junto a vitória sobre a dor.
Ensina-me, Senhor, a “ser junto”. Ensina-me, Senhor, a “estar junto” .
Dá-me a coragem de não ser apenas o “verbo” das palavras, mas de me tornar carne junto com meu irmão.
Não quero estar longe, mas perto, como você fez, e quem sabe, deste modo, as minhas mãos vazias se tornem serviço e partilha, não de quem está bem e dá uma “esmola”, mas de quem sofre e vive junto e junto busca promover a vida.
Ensina-me, Senhor, porque eu quero aprender!
AMÉM!
domingo, 14 de novembro de 2010
O DIREITO DO POBRE (parte III)
Da Escolástica ao período Contemporâneo
Após o período patrístico o tema do pobre vai gradualmente dando lugar ao tema da propriedade; ao tema do que é justo ou não na posse e no uso dos bens, como também nas relações de trabalho. Porém, olhando bem, o tema do direito do pobre aparece indiretamente já que ao se tratar sobre a justiça em relação aos bens em vista do bem comum e as relações de trabalho, os pobres estão incluídos.
Na escolástica destacamos S. Tomás com a reflexão sobre a justiça comutativa e a justiça distributiva. Para ele há um direito do pobre (justiça distributiva) e há um direito de propriedade (justiça comutativa), porém o proprietário não pode usar para si mesmo os bens próprios de que não necessita (supérfluo), porque os pobres têm DIREITO a eles.
Ao entrar no período contemporâneo o tema do direito do pobre ganha perfis mais plurais devido às profundas mudanças sócio-econômicas e político-estruturais pelas quais o mundo estava passando.
A Igreja vai refletindo e posicionando-se na medida em que as questões vão surgindo. O tema do “pobre” desaparece de modo explícito e só irá reaparecer com o Concílio Vaticano II, na sua inculturação na realidade Latino-Americana. As temáticas ganham contornos mais amplos e diversos, porém tendo sempre em vista aqueles que estão expostos à injustiça e a exploração.
- LEÃO XIII: Rerum Novarum (1891) – Tratando sobre a classe operária explorada dentro da revolução industrial que o mundo passava, buscando a justa medida entre capitalismo e socialismo, nas relações entre patrão e operário, entre produção e salário digno; afirma também o direito natural à propriedade, mas lembra da função social que tais bens possuem.
- PIO XI: Quadragésimo Anno (1931) – Crítica ao individualismo capitalista, à instrumentalização do Estado pelos detentores do Capital e o incentivo ao “Corporativismo Cristão” como mediação entre os indivíduos e o Estado.
- PIO XII: Seu pensamento se encontra difuso em declarações e discursos nos quais reafirma o direito natural a propriedade sem prescindir da função social dos bens; defende os pequenos agricultores que sofrem pressões violentas do sistema capitalista para abandonar o campo; defende o direito a imigração; também lança as primeiras sementes da ética ecológica: Deus confiou um patrimônio a humanidade, sua Criação.
- JOAO XXIII: Mater et Magistra (1961) – reflete sobre as tensões entre povos desenvolvidos e subdesenvolvidos; reflete sobre o êxodo rural; reflete sobre o subdesenvolvimento das nações (tema abordado pela primeira vez): nações economicamente fortes que desejam dominar as nações economicamente fracas.
Pacem in Terris (1963) – apresenta a paz fundada no respeito aos direitos naturais de todos os homens como meio para se alcançar uma solidariedade universal.
- PAULO VI: Gaudium et Spes (Vaticano II) – Tratando sobre a autonomia das realidades terrestres.
Populorum Progressio (1967) – Tratou sobre o desenvolvimento dos povos; incorporou a temática do subdesenvolvimento; apontou para a frustração do mito do desenvolvimento e para o perigo do mito das soluções violentas; convocou a solidariedade diante de 2/3 de subdesenvolvidos na humanidade.
Octogésim Adveniens – Não se preocupa em oferecer modelos de sociedade para resolver os problemas da sociedade atual; incentiva as comunidades de base; questiona a civilização industrial e as bases que oferece aos sistemas capitalista e comunista; faz a primeira referência ao problema ecológico do meio ambiente dentro de um documento do magistério.
- JOÃO PAULO II[1]: discurso na República Dominicana (1979) – fala sobre os pobres como agentes de sua própria promoção.
Discurso em Puebla – fala dos bispos como defensores da dignidade humana; sobre o compromisso preferencial, não exclusivo, pelos pobres; sobre o cuidado com os radicalismos e as ambigüidades (correntes verticalistas e horizontalistas); sobre a responsabilidade dos leigos no processo de transformação das estruturas sociais injustas; sobre a violação dos direitos dos trabalhadores.
Redemptoris Hominis (1979) – retoma o tema ecológico; fala sobre a sociedade consumista; sobre as exigências éticas da justiça e do respeito a dignidade do homem; sobre um humanismo novo; sobre a estreita relação entre a justiça e a paz.
Visita ao Brasil (1980) – em seus discursos fala sobre a necessidade de reformas, mas não como fruto do desenvolvimento econômico; sobre o repúdio a violência como meio para conseguir mudanças (luta de classes); sobre a missão social da Igreja: Pastoral Social; sobre a convergência de esforços para se alcançar a “civilização do amor”; sobre a defesa da pessoa humana em seus direitos fundamentais; sobre o direito a propriedade e sua função social.
Laborem Exercens (1981) – Trata sobre o tema do trabalho humano e o homem do trabalho.
- BIBLIOGRAFIA:
BIGO, Pierre; ÁVIA, Fernando Bastos. Fé cristã e o compromisso social: elementos para uma reflexão sobre a América Latina à luz da Doutrina Social da Igreja. 2a ed., São Paulo: Paulinas, pp. 159-227, 1983.
[1] Sobre o pensamento de João Paulo II o livro trata somente até o ano de 1981, pois obra base deste trabalho foi editada neste período. Por isso as referências se restringirão ao período da obra.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
O DIREITO DO POBRE (parte II)
PATRÍSTICA
O pensamento dos padres é audacioso neste tema do direito do pobre. Eles entendem que a riqueza pertence aos pobres e aquele que a possui é apenas seu administrador.
- “Não deverás repelir o indigente. Terás tudo em comum com o teu irmão e não dirás que um bem é teu, porque, se se partilham os bens imortais, quanto mais devem ser partilhados os bens passageiros” (Doutrina dos Doze Apóstolos, sec. II).
- “Aquele que despoja um homem de sua roupa é ladrão. O que não veste a nudez do indigente, quando pode fazê-lo, merecerá outro nome? O pão que guardas em tua despensa pertence ao faminto, como pertence ao nu o agasalho que escondes em teus armários. O sapato que apodrece em tuas gavetas pertence ao descalço, ao miserável a prata que ocultas”. (S. Basílio).
- “Não é teu o bem que distribuis ao pobre. Devolves a ele apenas a parte do que lhe pertence, porque usurpas para ti sozinho aquilo que foi dado a todos, para o uso de todos. A terra pertence a todos. Não apenas aos ricos”.(S. Ambrósio).
Os padres não negam o direito a propriedade, mas revelam-lhe seu sentido. O mundo foi criado por Deus como um dom para todos, porém o pecado distorceu esta relação e, por isso, o uso comum dos bens da criação tornou-se impossível devido o egoísmo no coração humano. Por isso, o que era de direito natural (a apropriação social) decaiu para a apropriação pessoal (derrogação da lei natural devido o pecado).
- “A terra foi dada em comum a todos os homens; ninguém considere próprio aquilo que, além do necessário, foi retirado do acervo comum por meio da violência” (S. Basílio).
- “O uso comum de tudo que há neste mundo destinava-se a todos, porém, devido à iniqüidade, um disse que isto era seu e outro disse que aquilo era dele e assim fez-se a divisão entre os mortais” (S. Clemente).
- “A natureza produziu seus bens em profusão, oferecendo-os em comum a todos. Deus ordenou que tudo fosse produzido, gerado, de maneira a servir de alimento a todos e a terra fosse como propriedade comum de todos. O bem privado é assim fruto de usurpação” (S. Ambrósio).
- “Se desses do que é teu, seria liberalidade; como dás do que é dele (Jesus presente no pobre), é uma simples restituição” (S. Agostinho).
Todos estes textos querem dizer “... que a propriedade privada não constitui para ninguém um direito incondicional e absoluto. Ninguém tem o direito de reservar para seu uso exclusivo aquilo que é supérfluo. Quando a outros falta o necessário” (Populorum Pogressio, n. 23).
BIGO, Pierre; ÁVIA, Fernando Bastos. Fé cristã e o compromisso social: elementos para uma reflexão sobre a América Latina à luz da Doutrina Social da Igreja. 2a ed., São Paulo: Paulinas, pp. 159-227, 1983.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
O DIREITO DO POBRE (parte I)
Vou começar a postar, por partes, este texto sobre O DIREITO DO POBRE. De maneira breve, partiremos da reflexão bíblica, passando pela patrística e pela escolástica, para chegar na doutrina social da Igreja hoje. O texto que tomo por base estará explicitado no final de cada postagem. Espero que os leitores gostem.
O DIREITO DO POBRE (parte I)
O pobre tornou-se tema central na reflexão teológica pós-conciliar na América Latina a partir de Medelín. A situação de sofrimento e opressão sob regimes autoritários levou grande número de teólogos a procurar respostas, a partir da Revelação, para esta realidade. Seguindo a inspiração do Concílio Vaticano II de “retorno as fontes”, uma riqueza inestimável dentro da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja foi reavivada no diz respeito a compreensão a partir da fé sobre o direito do pobre.
Ø Antigo Testamento
Começando pelas escrituras encontramos uma profunda consciência solidária diante do pobre e de suas necessidades já no Antigo Testamento: Respeito e bem ao próximo (Ex 20, 15-17); justiça no contrato de trabalho e no comércio (Dt 24,14-15); direito de justiça a todos, inclusive o estrangeiro (Dt 24, 17-18).
Os profetas denunciam que o culto e a vida religiosa sem justiça aos pobres são vazios, inúteis, e Deus se aborrece deles: Am 5, 21-24; Is 1, 11-17; 58, 3-11; Mq 6, 6-8; Jr 7, 4-7.
É evidente o condicionamento entre a aliança divina e o respeito pelo direito do pobre dentro da tradição do A.T.
Ø Novo Testamento
Aqui encontramos Jesus que proclama o direito do pobre, mas também proclama o amor que realiza este direito, indo muito além das exigências da justiça. Por exemplo: usar os bens transitórios para um dia alcançar os bens eternos (Lc 16, 10-12); não se pode servir a dois senhores (Lc 16, 13).
Os pobres são cidadãos do Reino com mais facilidade que os ricos, pois estes são estranhos ao Reino, pois a riqueza cega, é uma verdadeira forma de idolatria. A saída para os ricos é partilhar “as riquezas injustas” (Lc 16, 9.11): injustas porque foram mal adquiridas (Lc 19, 1-10), ou porque excedem as verdadeiras necessidades de seus detentores.
O N.T. nos mostra que Cristo é pobre, e é o pobre que nos julgará (Mt 25, 31-46; Tg 5, 1.4).
O pobre numa visão positiva: tanto o A.T. como o N.T. apresentam o “ser pobre” também como uma atitude espiritual, sendo aquele que se contenta com o necessário para viver, que é humilde, que não confia nas riquezas nem exige direitos diante de Deus. Por isso são os prediletos de Deus, como Maria anuncia no Magnificat (Lc 1,52-53). Deus escolheu os pobres (Tg 2, 5), tanto é que para ser discípulo de Jesus a pobreza é uma condição apresentada nos evangelhos(/mt 19,16-30; Mc 10,17-31; Lc 18,18-30). Temos, então, duas perspectivas: os pobres que o são porque deixaram tudo para dar um testemunho ao mundo dentro do discipulado de Jesus; e temos os pobres que o são porque partilham de seus bens mantendo apenas o necessário para viver (Lc 6,20.24).
BIGO, Pierre; ÁVIA, Fernando Bastos. Fé cristã e o compromisso social: elementos para uma reflexão sobre a América Latina à luz da Doutrina Social da Igreja. 2a ed., São Paulo: Paulinas, pp. 159-227, 1983.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Calem a boca, nordestinos! (Por José Barbosa Junior)
A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.
Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra… outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.
Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”.
Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos “amigos” Houaiss e Aurélio) do nosso país.
E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!
Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!
E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.
Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.
Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…
Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…
E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…
Ah! Nordestinos…
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.
Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!
Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!
Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário… coisa da melhor qualidade!
Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso… mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!
Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.
Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”
Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!
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