quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Rio de Janeiro: a guerra como caminho para a paz?!?!

Exatamente no dia 25 de novembro de 2010 eu fui ao cinema para assistir ao filme “Tropa de Elite 2” (apesar de não ter assistido o primeiro!). Assistindo ao telejornal, naquele mesmo dia, fiquei com a impressão de estar revendo o filme, pois havia começado a ocupação dos morros no Rio de Janeiro (ou Comunidades) que eram redutos do narcotráfico.

Uma operação articulada entre polícias, exército e sistema de inteligência executou a invasão e ocupação dessas Comunidades, realizando prisões, apreensões, com baixas (infelizmente) devido à resistência armada dos traficantes.

Entretanto, o que mais me chamou a atenção não foi o aparato militar, ou a quantidade de apreensões de drogas e armas, mas o discurso de que agora essas comunidades estão em paz, agora acabou o terror, o medo, porque os traficantes foram expulsos desses lugares. Este discurso revela que a solução (a única talvez) era realizar uma ação como esta: uma ação de guerra!

Não quero aqui criticar a ação das autoridades, pois sei que todos aqueles homens arriscaram suas vidas para cumprir a missão de ocupar as comunidade e prender os bandidos. Sei que eles fizeram todo o trabalho com o objetivo de ajudar aquelas pessoas que eram reféns dos traficantes. Sei que a ação realizada tinha como motivação fazer o bem àquelas pessoas.

O que me inquieta em tudo isso é outra coisa! O que me angustia é a idéia de que em alguns casos a única solução esteja (talvez) na ação armada, violenta, para se poder resolver o problema que, devemos lembrar, não é uma coisa qualquer, mas são pessoas que seguiram uma vida de crimes... Que a solução seja atirar contra essas pessoas (pois elas também atiram!), matá-las em nome do bem comum e da lei, agir com força e violência para dominar essas pessoas, para que elas não prejudiquem mais ninguém. O que me provocou confusão foi ver que religiosos rezavam para que toda esta situação se resolvesse (e a solução era que os policiais vencessem o conflito armado!); ver um dos responsáveis pela ação afirmar categoricamente: “Deus está do nosso lado! Nós vamos vencer!”

É diante de tudo isso que me pergunto: onde está a força do Evangelho? Onde está a fé na conversão? Onde estavam os cristão que não foram capazes de mudar esta situação de modo diferente? A idéia (tão criticada por muitos) que se encontra no ensinamento da Igreja Católica de que existem guerras justas agora encontra sua confirmação mórbida? Realmente para se chegar a paz será preciso passar pela guerra? Será que a violência realmente é o único caminho para se poder fazer justiça em alguns casos?

Confesso que estou confuso: como falar de amor e perdão diante do que vemos neste episódio do Rio de Janeiro? Pois falar nisso soa como omissão ou colaboração com a situação, para com aqueles que cometiam os crimes: tráfico, extorsão, dominando as comunidades pelo medo.

Como trazer a mensagem do evangelho para esta realidade se todos consideram este modo de agir (por meio da força) o melhor caminho para solucionar esses problemas, e pedem a benção de Deus para que tudo termine bem e com a vitória para os “mocinhos”?

Estou procurando respostas e não sei se as encontrarei. A necessidade de partir para uma ação como essa que assistimos pela TV para resolver o problema do crime organizado nessas comunidades revela, para mim, o fracasso do Evangelho, dos cristãos em comunicá-lo.
Essa boa notícia fica parecendo historinha para um seguimento da sociedade que não tem que enfrentar o traficante todos os dias na porta de sua casa, as brigas entre facções ou o medo constante de ser obrigado a colaborar com o acobertamento de criminosos, expondo seus filhos a um mundo violento.

Fato: os homens da polícia, exercito e demais organismos enfrentaram o problema do jeito que foram treinados para enfrentar e comprometeram suas vidas para realizar seu trabalho.

Fato: os cristãos não souberam enfrentar o problema nem foram capazes de comprometer suas vidas na busca de soluções à luz da prática evangélica.

Aparentemente a ação da secretaria de segurança pública resolveu o problema: traficantes presos ou expulsos de seus redutos, apreensão de drogas e armas, mais de sessenta mortes (até o momento em que terminei este texto). Mas, então, para que serve a mensagem do Evangelho? Se por meio da guerra se chega a paz, para que serve o Evangelho da paz?

Não tenho respostas a essas perguntas e angústias, apenas estou expondo esses pontos na esperança de chegar a alguma resposta... Ou quem sabe trocar idéias até conseguir entender o que está acontecendo...


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