Outro dia estava assistindo a
uma entrevista de Djamila Ribeiro sobre seu livro O que é o lugar de fala?, pela editora Letramento (2017). Ainda não
tive a oportunidade de ler o texto, mas a entrevista me chamou a atenção para o
tema e me pus a refletir sobre suas implicações também para a “fala” religiosa,
“fala” teológica, pois é uma fala que também tem um lugar. Até me recordei de
uma frase famosa do Leonardo Boff: “todo ponto de vista é a vista de um ponto.
Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a
sua visão do mundo”.[1]
Parafraseando esse pensamento, para entender o que alguém está falando é
preciso ver de onde (não só fisicamente, mas culturalmente, socialmente,
politicamente, religiosamente etc) esse alguém está falando.
Pretendo ler o livro, mas
enquanto não posso, as ideias que o conceito “lugar de fala” me provocaram pretendo
desenvolver em algumas reflexões por aqui em uma série de postagens.
Começo com a própria ideia
do “lugar de fala”. Realmente não pensamos muito nisso, mas todos nós temos um
lugar de fala. Sem exceções!
Ninguém pode dizer que é “neutro”
no sentido de conseguir contemplar todas as perspectivas em sua fala. Todo
discurso, inclusive o teológico, tem seu "lugar de fala" seja o lugar da pessoa
do teólogo, da escola teológica, da cultura em que esse pensamento é produzido
com seu tempo e contexto.
Isso tem uma primeira
consequência que é: eu, que estou escrevendo, também tenho um "lugar de fala".
Esse meu texto tem um lugar de onde ele parte, não é inocente. Isso significa
que outras pessoas, com outras perspectivas, irão lê-lo e, a partir do seu próprio "lugar de fala", vão criticá-lo, positiva ou negativamente, e tenho que entender
que esse processo sempre irá acontecer.
Você que me lê precisa saber que
os próximos textos que publicarei partirão dessa perspectiva do “lugar de fala”
para analisar algumas questões relacionadas ao discurso religioso e teológico.
Você, cara leitora e leitor,
poderão identificar meu "lugar de fala" na medida em que forem lendo
meus textos nas próximas semanas. Também vocês irão se identificar ou não com esse meu lugar,
concordar ou não com os pontos de vista que apresentarei, mas saibam que vocês
farão isso também a partir de seu próprio "lugar de fala".
Espero que essa provocação ajude
a fazermos, juntos, um interessante caminho de reflexão que nos permita tomar
consciência dessa realidade e a, se for o caso, repensarmos de onde estamos
falando, de qual “ponto de vista” estamos lendo a vida que nos cerca. Talvez chegarmos até a ter a coragem de repensarmos criticamente o nosso atual “lugar
de fala”, naquela experiência existencial e espiritual que chamamos de metanoia (palavra grega para conversão,
mudança profunda de vida, transformação radical das raízes do nosso coração com seus valores),
em vista de nos tornamos mais próximos ao ser humano sonhado por Deus, a Sua
“imagem e semelhança”.
Um abraço!
[1]
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha:
uma metáfora da condição humana. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1998, p. 9.
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