Estou de volta! Sei que demorei em postar novidades no blog, mas
estive resistindo a escrever enquanto não tivesse pensado muito sobre o que
colocaria aqui.
Quero compartilhar com vocês alguns pensamentos que tenho tido ao
observar o momento atual de eleições municipais que estamos vivendo em todo o
Brasil.
Vendo a correria dos candidatos, seus cabos eleitorais e equipes que
se lançam apaixonadamente na campanha; observando também as perseguições,
trocas de acusações e provocações entre partidos e candidatos; observando o
panorama de famílias inteiras dedicadas a “carreira” política, comecei a
refletir para que serve a política afinal?? Por que tudo isso? E confesso que
minhas conclusões não foram muito animadas... Vamos a elas!
Ao procurar o sentido mais primordial da política descobri que ela tem
uma função fundamental para podermos viver em sociedade. Sem ela viveríamos na
barbárie, onde simplesmente o mais forte sobrevive e o mais fraco morre, sem
leis, sem ordem, sem progresso científico, tecnológico ou econômico, sem vida
em sociedade, sem possibilidade de planejamento para o futuro, pois a
sobrevivência sempre olha o imediato e não tem como planejar a longo prazo...
Ou seja, graças à política podemos viver em sociedade de forma organizada,
civilizada e com possibilidades para todos de vida digna.
O que são a política e os cargos políticos? São meios pelos quais a
sociedade se organiza delegando a algumas pessoas a responsabilidade de gerir
os bens e recursos postos em comum a favor de todos, como também delegar a
algumas pessoas a responsabilidade de fiscalizar e organizar o uso destes
recursos por meio de leis e outros modos possíveis.
Sei que este conceito não tem a complexidade da sociologia ou da
antropologia, mas é uma visão básica e primaria do que é e para que serve a
política. Em outras palavras, a política com seus cargos eletivos, é um espaço de
prestação de serviço à comunidade, é um doar-se em favor do bem comum. Alguém é
escolhido pela sociedade para, em seu nome, governa-la, e esta pessoa abre mão
de sua vida pessoal, emprego e, às vezes, do tempo com a família, para
dedicar-se a esta função por um período determinado (4 anos ou 8 anos se for reeleito),
sendo sustentada pela sociedade que a elegeu. Depois disto, tendo cumprido seu
dever cívico, esta pessoa retorna a sua vida anterior, ao seu emprego e família,
deixando a vez para que outra pessoa possa fazer este mesmo “sacrifício” em
favor da comunidade.
Que visão bela dos cargos políticos não é mesmo?? Fico encantado ao
pensar nisto tudo! O altruísmo, a renúncia, a dedicação, o zelo pelo bem comum,
o desgaste físico e psicológico de gerir a vida de tantas pessoas e ser
responsável por cada uma delas.. É um verdadeiro serviço sagrado, uma espécie
de sacerdócio pelo bem de todos.
Entretanto, ao observar a realidade que me cerca, me decepciono a cada
dia com o que vejo!
Vejo a política e seus cargos transformados de serviços públicos temporários
em EMPREGOS VITALÍCIOS com direito a aposentadoria e tudo mais. Vejo pessoas
brigando por esses empregos ao ponto de agredirem-se mutuamente (em alguns
casos chegando ao assassinato!). Vejo famílias inteiras transformando a
política em negócio de família, passado de geração em geração. Vejo a
manipulação dos interesses do povo em benefício de grupos e segmentos em vista
da manutenção do sistema e das posições. Vejo qualquer sombra de novidade ser suprimida
por aqueles que fizeram da política seu meio de vida e que não querem perder
seu espaço para ninguém. Vejo redes de favores políticos, listas de cargos
comissionados, “doações” aos pobres, promessas genéricas e inconsistentes, tudo
em vista de garantir uma estrutura que mantenha o sistema exatamente como está,
ou seja, o povo a serviço da manutenção daqueles que fizeram da política seu
meio de vida, ao invés de serem os políticos a serviço do bem estar de todos.
Alguém poderá me contestar e dizer: “mas fulano ou beltrano trabalhou
pelo povo, ajudou muita gente, fez a cidade, o estado, o país crescer, gerando
emprego, melhorando a saúde e etc”.
Eu respondo a esses da seguinte forma: não nego a boa intenção de
alguns e seu esforço de promover o bem comum dentro de um sistema extremamente
viciado pela ambição e pelo desejo de poder, mas a realidade é que muitos
desses benefícios para o bem do povo, na verdade servem muito mais aos que
controlam o sistema político, pois serve para manter o sistema exatamente como
está. Cuidar da saúde, fazer algo pelo bem da sociedade, gerar empregos, fazer
reajuste de salários etc, é o mínimo que eles precisam fazer para se auto-conservar
em suas posições.
NÃO ACREDITO NESSES DIRCURSOS!! Não posso acreditar neles, enquanto
recebem 14º salário no final do ano. Não posso acreditar neles enquanto enchem
seus gabinetes de cargos comissionados, onerando os cofres públicos, para
garantir seu curral eleitoral para o próximo pleito. Não posso acreditar
enquanto, além de seus voluptuosos salários, recebem auxílio moradia, auxilio gabinete,
auxílio disso e daquilo, o que o trabalhador comum jamais terá direito. Não
posso acreditar enquanto usarem o nosso dinheiro suado para viajar e passear no
exterior usando os bens públicos. Não posso acreditar enquanto nossos filhos
recebem uma educação para ser mão de obra barata e qualificada e os deles vão
estudar na Europa, nos EUA ou em algum outro centro de excelência acadêmica
para se tornar a próxima elite dominante sucedendo seus pais. Não posso
acreditar enquanto não surgir alguém que tenha coragem de romper com esse
sistema e trazer algo novo. Mas como isso vai acontecer se o sistema exclui
quem não faz o seu jogo?? Olhem nossas eleições municipais, aqui no nosso
estado! Os mesmos nomes e grupos políticos de sempre, com os discursos de
sempre e os programas de sempre! Nada de novo no horizonte! NÃO POSSO
ACREDITAR!!!
Respeito e defendo o direito de todos ao engajamento e participação
ativa na política. É um direito e dever democrático inalienável, porém gostaria
que nosso engajamento fosse fundamentado em fazer a diferença ao invés de
simplesmente trabalharmos pela manutenção do sistema. Gostaria que a ética do
bem comum, do amor ao próximo, do respeito pela dignidade da pessoa humana
fosse o carro chefe da práxis eleitoral. Gostaria que os que carregam o digno
nome de cristãos e estão engajados no processo político abrissem um caminho
diferente, um caminho para uma nova mentalidade.
Gostaria muito mais que os políticos de todo o nosso país, ao terminar
seus mandatos nestas eleições voltassem para suas casas, para suas famílias,
para suas profissões antes de seus mandatos e retomassem suas vidas comuns,
iguais a qualquer brasileiro trabalhador, com a consciência do dever cumprido,
dando lugar para que outros assumam a missão de gerir o bem público. Gostaria
que o povo brasileiro realmente acompanhasse e interagisse com seus candidatos,
não só nas campanhas, mas depois das eleições, acompanhando seu trabalho e
cobrando sua disposição de exercer com dignidade e competência seu mandato.
POLÍTICA NÃO É EMPREGO VITALÍCIO!! POLÍTICA NÃO É PROFISSÃO PERPÉTUA!!
POLÍTICA NÃO É NEGÓCIO DE FAMÍLIA!! POLÍTICA NÃO É CONCURSO PÚBLICO!!
Será que é preciso dizer mais alguma coisa? Será que é preciso
desenhar para me fazer entender?
O mais triste é que sei que este meu texto, esta reflexão, vai ser mais
uma voz perdida no vento. Infelizmente não queremos ouvir nem ver o que
acontece ao nosso redor porque estamos “muito bem, obrigado”. Não enxergamos os
milhões (ou seriam bilhões ou trilhões) desviados pela corrupção e que fazem
falta no investimento real na educação, na saúde, na infraestrutura das nossas
cidades, na segurança, na cultura etc.
Gostaria de ver a verdadeira política acontecendo, mas só o que eu
vejo é a mesma e velha politicagem, reciclada, é verdade, mas sempre a mesma!
Pe.
Augusto Lívio