Esses dias, na mídia, estão fazendo o maior barulho porque o Papa Bento XVI teria liberado o uso da camisinha em uma declaração dada em um livro que será publicado nos próximos dias.
Eu não li o livro ainda, mas alguns amigos me pediram para postar algo sobre este tema, por isso me limitei aqui a apresentar o que a Igreja fala sobre o ser humano e sua sexualidade de modo breve e sobre como interpreto, dentro deste contexto, a afirmação do Papa Bento XVI sobre este assunto. Depois que eu puder ler o livro postarei algo mais concreto e substancioso.
Diante do alarde que alguns meios de comunicação estão fazendo ao afirmar que o Papa liberou a camisinha, preciso dizer que não foi isso o que Bento XVI disse, mas o que ele quis expressar foi o princípio simples da moral cristã dentro de sua compreensão sobre o ser humano e sua dignidade.
O ser humano, criado a imagem e semelhança de Deus, é chamado a viver em relações saudáveis e edificantes com outras pessoas, com a natureza e com o próprio Deus. Essa capacidade e vocação relacional também incluem a dimensão de sua sexualidade e do sexo propriamente dito.
Dentro da visão cristã, o sexo não pode ser vivido desvinculado do amor e da abertura a vida. E, sendo assim, uma vida sexual madura traz consigo a capacidade de compromisso e de responsabilidade diante do outro com quem se compartilha algo tão íntimo e único que é o próprio corpo, sentimentos, desejos e até sonhos.
Ao afirmar que o uso do preservativo com intenção de reduzir o risco de infecção é moralmente aceitável, o Papa está olhando para este horizonte, de uma vivência sexual madura e responsável, como ele mesmo diz “mais humana”. Do mesmo modo como a Igreja não condena uma mulher que faz tratamento para problemas no útero e/ou ovários e que, para isto, precisa tomar pílulas que contém hormônios contraceptivos, pois, nestes casos, como no caso dos preservativos, o objetivo é terapêutico, não contra a possibilidade de gravidez. Nestes casos a contracepção é um efeito colateral, não o efeito desejado.
O Papa coloca o preservativo dentro desta perspectiva educativa, como uma etapa necessária para se preservar a vida enquanto se orienta um caminho de amadurecimento afetivo e sexual. Tanto é assim que ele mesmo afirma que a camisinha não é “uma solução real e moral”, mas pode, no contexto da preservação da vida, ser um “primeiro passo no sentido da moralização”.
O grande problema da Igreja com a camisinha é a banalização da sexualidade e das relações sexuais. Esta atitude de aparente liberdade na vivência da sexualidade, na verdade, tem confundido e colocado muitos diante de um mundo que não vê as pessoas, mas o que elas podem oferecer. O sexo se tornou negócio, produto de mercado, que se pode consumir sem maiores problemas. As pessoas vão se tornando objetos para dar prazer e as dimensões relacional, afetiva e humanizante deste encontro desaparecem. É neste ponto que a Igreja bate quando se opõe a camisinha, pois ela se tornou símbolo desta mentalidade reducionista do ser humano.
No contexto em que o Papa apresenta a questão do preservativo, o uso da camisinha é uma exceção, não uma regra, ao contrário do que se apregoa comumente na sociedade atual, ela deveria ser uma ajuda em caso específicos, não uma autorização para se ter relações sexuais a critério de cada um, com qualquer um, quando tiver vontade, sem nenhum senso afetivo ou moral. Isto é a banalização da sexualidade.
A camisinha não é a solução para o problema da AIDS. A solução está na educação das pessoas para o amor, para a responsabilidade diante das suas escolhas, para o respeito e a valorização da dignidade de cada pessoa em todas as suas dimensões, na educação para uma sexualidade sadia, baseada nos valores do amor, da castidade, do respeito, da fidelidade, do compromisso, da liberdade, com responsabilidade. Sem isto, por mais que se oriente o uso da camisinha, a AIDS continuará avançando. A camisinha pode ajudar, como afirmou o Papa, dentro de um processo educativo, como uma etapa diante dos riscos a saúde que são reais, mas o problema é de educação para valores que edificam e humanizam a sexualidade.
Não vamos deturpar a intenção de Bento XVI ao fazer esta declaração. Leiamos o livro e vejamos em que contexto estão suas palavras e entenderemos que ele não está “liberando” coisa nenhuma, mas está manifestando a caridade de Cristo em vista do bem e da dignidade humana em todas as suas dimensões, incluindo a sexualidade.