Estou acompanhando, com muito interesse, os acontecimentos
desses últimos dias sobre todas essas mobilizações que estão contagiando o
país, e levando milhares de pessoas as ruas para protestar e manifestar sua insatisfação
com a realidade política e social em que se encontra nosso Brasil.
Tenho lido, assistido e ouvido muitos posicionamentos sobre
essas manifestações, tanto de “comentaristas profissionais” como de pessoas
anônimas que estão olhando tudo isso a partir de sua realidade local.
Quero fazer aqui algumas considerações sobre o que eu penso
de tudo isto para contribuir com esse debate que está roubando até mesmo as
atenções da Copa das Confederações.
Acredito que todo este movimento não somente é lícito, mas
necessário diante do atual quadro de corrupção, desmandos e manipulações da
opinião pública para encobrir os problemas reais do nosso país. Na verdade já
existia uma insatisfação crescente no seio da sociedade brasileira,
especialmente entre os jovens, mas as pessoas permaneciam numa atitude de certa
apatia. Elas reclamavam nas conversas de calçada, ou postavam e compartilhavam
pequenas críticas nas redes sociais, mas uma mobilização real que gerasse um
efeito de pressão social não acontecia. Eu mesmo me perguntei várias vezes até
quando as pessoas vão engolir caladas toda essa realidade de descaso e
desrespeito com a população brasileira.
Parece que o problema do aumento da passagem dos transportes
públicos foi o “gatilho” que abriu as portas para que toda a insatisfação
social com o atual quadro político, todo o desejo de mudanças reais nas
estruturas políticas e sociais, todo desejo de transparência e de honestidade
nas instituições públicas viesse à tona. E o que começou como um aparente
movimento de estudantes atrás de passagens de ônibus mais acessível se
transformou num movimento que incendiou o Brasil, motivando as pessoas a irem
pra rua exercer seu direito de cobrar mudanças sociais concretas.
Especialmente os jovens entraram nessa luta porque são eles
os mais insatisfeitos ao se verem crescendo num país onde o sistema social e
político diz uma coisa, mas faz outra. A juventude é sensível a tudo isso e
agora puxa, com o vigor que lhe é próprio, esse movimento.
Outra coisa que me chamou a atenção nessas manifestações é a
evidente rejeição ao atual sistema político. Vi jovens expulsando grupos de
partidos políticos que queriam participar das passeatas com suas bandeiras e
camisas gritando que o movimento não tinha nada com os partidos políticos. Essa
atitude, para mim, revela que o olhar da juventude hoje em relação ao sistema
político atual com seus partidos é de descrédito. Os jovens, em sua maioria,
não acreditam mais nos discursos e ideologias que os atuais partidos pregam.
Não importa se são de direita, de centro ou de esquerda, simplesmente esses
partidos não conseguem representar os anseios desta nova geração. Por isso,
assisti esses mesmos jovens rasgarem e queimarem algumas das bandeiras desses
grupos políticos num ato concreto de rejeição e reprovação.
Também assistimos às cenas deploráveis de violência e de
vandalismo ocorridas em algumas dessas manifestações. Sobre isso quero
apresentar algumas reflexões. O que
estaria por trás dessas atitudes? Por que agir de maneira violenta e destruir
patrimônio público ou privado em meio aos protestos?
Acredito que parte desta violência manifesta a raiva
acumulada dentro das pessoas diante da sensação de impunidade referente aos
grandes crimes de corrupção que acompanhamos nesses últimos anos e de inércia
dos poderes públicos em resolver os sérios problemas sociais que só se agravam.
Muitas vezes, ao sentirem-se impotentes, as pessoas podem ser tomadas de uma
ira que se expressa de forma irracional, apenas compreensível para quem já
experimentou esta sensação. Então, o quebra-quebra torna-se instrumento de
catarse social, tornando-se um meio pelo qual as pessoas expressam toda sua
frustração com o sistema.
Ainda sobre essa violência nas manifestações, quero lembrar
que, infelizmente, o que também ocorre é que pessoas e grupos se aproveitam de
um momento como este para realizar realmente atos criminosos intencionais,
misturando-se com a massa reunida e tirando proveito disso para cometer crimes
como os saques que aconteceram em algumas dessas concentrações. Essas pessoas
não estão interessadas em reivindicações ou com os problemas que estão sendo apresentados
por este movimento, elas apenas querem tirar proveito da situação para ganhar
alguma coisa com isso cometendo crimes e escondendo-se atrás da multidão.
Por fim, eu também tenho outra intuição sobre esses atos de
vandalismo presentes em algumas dessas passeatas. Acredito que, em alguns
casos, essa violência é provocada também por grupos plantados estratégica e
propositalmente no meio do movimento por aqueles que estão incomodados e tem
interesse de que tudo isso não dê em nada, para fazer a opinião pública
desacreditar das reais intensões desses protestos. Deste modo, se tira a
motivação do compromisso com a participação concreta nas mudanças políticas e
sociais, deixando que os mesmo grupos de sempre mandem e desmandem no país e em
nosso destino, sem serem incomodados.
Não estou aqui defendendo os atos de violência e de
vandalismo que aconteceram nos protestos. Acredito que esses atos públicos
devem ser pacíficos e bem organizados pela sociedade civil. O que estou
querendo é trazer uma reflexão que essa situação, em meio a um tão bonito
despertar da consciência participativa do povo, especialmente dos jovens, me suscita.
Quero lançar um olhar mais profundo sobre as causas e motivações desses atos
violência e vandalismo, saindo da superficialidade que tenho visto em certos
comentários que simplesmente usam esses infelizes acontecimentos para
desacreditar esse movimento tão bonito e significativo e que eu gostaria muito
que se desdobrasse em frutos de uma nova geração mais consciente e
participativa da vida social e política deste país.
O que estamos assistindo é uma oportunidade de abrir novos
caminhos para uma real transformação de nosso sistema social e político. Apoio,
incentivo e participo deste processo. Desejo que todos possam também entrar
nele de modo consciente e responsável para construirmos juntos um Brasil cada
vez mais justo, fraterno, solidário e honesto.
Esta é minha opinião. O que você pensa de tudo isso?
Pe. Augusto Lívio
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