terça-feira, 7 de agosto de 2012

Política e Politicagem em tempos de eleição




Estou de volta! Sei que demorei em postar novidades no blog, mas estive resistindo a escrever enquanto não tivesse pensado muito sobre o que colocaria aqui.

Quero compartilhar com vocês alguns pensamentos que tenho tido ao observar o momento atual de eleições municipais que estamos vivendo em todo o Brasil.

Vendo a correria dos candidatos, seus cabos eleitorais e equipes que se lançam apaixonadamente na campanha; observando também as perseguições, trocas de acusações e provocações entre partidos e candidatos; observando o panorama de famílias inteiras dedicadas a “carreira” política, comecei a refletir para que serve a política afinal?? Por que tudo isso? E confesso que minhas conclusões não foram muito animadas... Vamos a elas!

Ao procurar o sentido mais primordial da política descobri que ela tem uma função fundamental para podermos viver em sociedade. Sem ela viveríamos na barbárie, onde simplesmente o mais forte sobrevive e o mais fraco morre, sem leis, sem ordem, sem progresso científico, tecnológico ou econômico, sem vida em sociedade, sem possibilidade de planejamento para o futuro, pois a sobrevivência sempre olha o imediato e não tem como planejar a longo prazo... Ou seja, graças à política podemos viver em sociedade de forma organizada, civilizada e com possibilidades para todos de vida digna.

O que são a política e os cargos políticos? São meios pelos quais a sociedade se organiza delegando a algumas pessoas a responsabilidade de gerir os bens e recursos postos em comum a favor de todos, como também delegar a algumas pessoas a responsabilidade de fiscalizar e organizar o uso destes recursos por meio de leis e outros modos possíveis.

Sei que este conceito não tem a complexidade da sociologia ou da antropologia, mas é uma visão básica e primaria do que é e para que serve a política. Em outras palavras, a política com seus cargos eletivos, é um espaço de prestação de serviço à comunidade, é um doar-se em favor do bem comum. Alguém é escolhido pela sociedade para, em seu nome, governa-la, e esta pessoa abre mão de sua vida pessoal, emprego e, às vezes, do tempo com a família, para dedicar-se a esta função por um período determinado (4 anos ou 8 anos se for reeleito), sendo sustentada pela sociedade que a elegeu. Depois disto, tendo cumprido seu dever cívico, esta pessoa retorna a sua vida anterior, ao seu emprego e família, deixando a vez para que outra pessoa possa fazer este mesmo “sacrifício” em favor da comunidade.

Que visão bela dos cargos políticos não é mesmo?? Fico encantado ao pensar nisto tudo! O altruísmo, a renúncia, a dedicação, o zelo pelo bem comum, o desgaste físico e psicológico de gerir a vida de tantas pessoas e ser responsável por cada uma delas.. É um verdadeiro serviço sagrado, uma espécie de sacerdócio pelo bem de todos.

Entretanto, ao observar a realidade que me cerca, me decepciono a cada dia com o que vejo!

Vejo a política e seus cargos transformados de serviços públicos temporários em EMPREGOS VITALÍCIOS com direito a aposentadoria e tudo mais. Vejo pessoas brigando por esses empregos ao ponto de agredirem-se mutuamente (em alguns casos chegando ao assassinato!). Vejo famílias inteiras transformando a política em negócio de família, passado de geração em geração. Vejo a manipulação dos interesses do povo em benefício de grupos e segmentos em vista da manutenção do sistema e das posições. Vejo qualquer sombra de novidade ser suprimida por aqueles que fizeram da política seu meio de vida e que não querem perder seu espaço para ninguém. Vejo redes de favores políticos, listas de cargos comissionados, “doações” aos pobres, promessas genéricas e inconsistentes, tudo em vista de garantir uma estrutura que mantenha o sistema exatamente como está, ou seja, o povo a serviço da manutenção daqueles que fizeram da política seu meio de vida, ao invés de serem os políticos a serviço do bem estar de todos.

Alguém poderá me contestar e dizer: “mas fulano ou beltrano trabalhou pelo povo, ajudou muita gente, fez a cidade, o estado, o país crescer, gerando emprego, melhorando a saúde e etc”.
Eu respondo a esses da seguinte forma: não nego a boa intenção de alguns e seu esforço de promover o bem comum dentro de um sistema extremamente viciado pela ambição e pelo desejo de poder, mas a realidade é que muitos desses benefícios para o bem do povo, na verdade servem muito mais aos que controlam o sistema político, pois serve para manter o sistema exatamente como está. Cuidar da saúde, fazer algo pelo bem da sociedade, gerar empregos, fazer reajuste de salários etc, é o mínimo que eles precisam fazer para se auto-conservar em suas posições.

NÃO ACREDITO NESSES DIRCURSOS!! Não posso acreditar neles, enquanto recebem 14º salário no final do ano. Não posso acreditar neles enquanto enchem seus gabinetes de cargos comissionados, onerando os cofres públicos, para garantir seu curral eleitoral para o próximo pleito. Não posso acreditar enquanto, além de seus voluptuosos salários, recebem auxílio moradia, auxilio gabinete, auxílio disso e daquilo, o que o trabalhador comum jamais terá direito. Não posso acreditar enquanto usarem o nosso dinheiro suado para viajar e passear no exterior usando os bens públicos. Não posso acreditar enquanto nossos filhos recebem uma educação para ser mão de obra barata e qualificada e os deles vão estudar na Europa, nos EUA ou em algum outro centro de excelência acadêmica para se tornar a próxima elite dominante sucedendo seus pais. Não posso acreditar enquanto não surgir alguém que tenha coragem de romper com esse sistema e trazer algo novo. Mas como isso vai acontecer se o sistema exclui quem não faz o seu jogo?? Olhem nossas eleições municipais, aqui no nosso estado! Os mesmos nomes e grupos políticos de sempre, com os discursos de sempre e os programas de sempre! Nada de novo no horizonte! NÃO POSSO ACREDITAR!!!

Respeito e defendo o direito de todos ao engajamento e participação ativa na política. É um direito e dever democrático inalienável, porém gostaria que nosso engajamento fosse fundamentado em fazer a diferença ao invés de simplesmente trabalharmos pela manutenção do sistema. Gostaria que a ética do bem comum, do amor ao próximo, do respeito pela dignidade da pessoa humana fosse o carro chefe da práxis eleitoral. Gostaria que os que carregam o digno nome de cristãos e estão engajados no processo político abrissem um caminho diferente, um caminho para uma nova mentalidade.

Gostaria muito mais que os políticos de todo o nosso país, ao terminar seus mandatos nestas eleições voltassem para suas casas, para suas famílias, para suas profissões antes de seus mandatos e retomassem suas vidas comuns, iguais a qualquer brasileiro trabalhador, com a consciência do dever cumprido, dando lugar para que outros assumam a missão de gerir o bem público. Gostaria que o povo brasileiro realmente acompanhasse e interagisse com seus candidatos, não só nas campanhas, mas depois das eleições, acompanhando seu trabalho e cobrando sua disposição de exercer com dignidade e competência seu mandato.

POLÍTICA NÃO É EMPREGO VITALÍCIO!! POLÍTICA NÃO É PROFISSÃO PERPÉTUA!! POLÍTICA NÃO É NEGÓCIO DE FAMÍLIA!! POLÍTICA NÃO É CONCURSO PÚBLICO!!

Será que é preciso dizer mais alguma coisa? Será que é preciso desenhar para me fazer entender?

O mais triste é que sei que este meu texto, esta reflexão, vai ser mais uma voz perdida no vento. Infelizmente não queremos ouvir nem ver o que acontece ao nosso redor porque estamos “muito bem, obrigado”. Não enxergamos os milhões (ou seriam bilhões ou trilhões) desviados pela corrupção e que fazem falta no investimento real na educação, na saúde, na infraestrutura das nossas cidades, na segurança, na cultura etc.

Gostaria de ver a verdadeira política acontecendo, mas só o que eu vejo é a mesma e velha politicagem, reciclada, é verdade, mas sempre a mesma!


Pe. Augusto Lívio

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