domingo, 22 de maio de 2011

Meu Deus!! Assassinaram o protuguês!!


São 21:53 da noite do domingo dia 21 de maio. Estou fazendo questão de abrir este texto com esta informação porque para mim será uma noite histórica.

Acabei de ler um artigo da revista veja (edição 2218) no qual acabo de ficar sabendo que ASSASSINARAM O PORTUGUÊS!!

Não, não é o português da padaria! Refiro-me a língua portuguesa, pois o artigo apresenta o novo “material didático” que será disponibilizado pelo MEC nas escolas públicas no qual se ensina que falar “Nós pega o peixe” não é um erro de concordância, mas “apenas”(se é que se pode dizer “apenas”) uma variante lingüística do “falante” (assim o material chama quem usa a língua falada).

Meu Deus!! O que será agora da próxima geração? Primeiro fizemos um acordo internacional com os países de língua portuguesa para aproximar as variantes desta língua: acentos caíram, o uso do hífem mudou, entre outras adaptações. Agora aparece esta “novidade” (trágica!!!) de que ao ensinar a língua portuguesa nas escolas se deve “respeitar”  as “variedades”, pois a concordância, a regência, a conjugação dos verbos, tudo isso e muito mais são apenas uma forma de expressão da língua. O importante será dominar todas as variedades de expressões e escolher a que se julgar mais adequada.

O QUE É ISSO???!!!!!!

E vem o pior: quem corrigir uma criança que fale “Os menino pega o peixe”, o próprio livro diz que esta pessoa sofre de preconceito lingüístico. É o fim mesmo...

Utilizando um discurso aparentemente de defesa dos que tem dificuldade em aprender a norma culta da gramática portuguesa, eles coroaram como virtuoso o “deixa que ele escolha o jeito que quiser falar, o importante é que se consiga comunicar”.

Lembrei-me agora do vestibular, da prova de redação... Como serão as correções de agora em diante? Ninguém mais vai ser reprovado, a não ser que entregue a prova em branco... (?)
Estou escrevendo este texto meio recortado porque estou tento um ataque de fúria... Os meus pensamentos se sucedem rapidamente e eu não consigo organizá-los bem no papel. Minha vontade, na verdade, é de ir até Brasília e pedir o meu voto de volta! Como o Congresso e o Senado deixaram uma sandice dessas passar?? Simplesmente vamos nivelar por baixo a educação de nossas crianças e jovens!!! E sabem o que vai acontecer?

“Quem tem um olho, em terra de cego é rei!” Isso mesmo! Os que não entrarem neste esqueminha da “gramática você decide” vão dominar o cenário político e econômico do país. Os defensores desta idéia sem noção afirmam que impor a língua culta como normativa para o ensino é um meio de dominação das elites. Eu respondo: ensinar este português “capenga” (troncho, sem noção, abilolado – isto aqui sim é variedade lingüística, fruto da variedade cultural) é tirar o Brasil das mãos do povo e entregá-lo a uma elite que, ao dominar a língua, dominará o acesso a cultura, a arte, a ciência, a tecnologia, e o que vai sobrar para a grande massa de brasileiros será a triste realidade de ser mão de obra barata para sustentar um sistema que, ao invés de incluir (que dizem ser a idéia dos que pensaram esta “gramática”) vai criar uma brutal exclusão.

SERÁ QUE OS PODERES PÚBLICOS NÃO ENXERGAM ISSO!! Talvez até enxerguem e queiram isso, pois é uma ótima maneira de manipular o poder e criar um sistema de controle e dominação da sociedade. Um povo que não domine sua própria língua não será capaz de aprender outras línguas, de ampliar seus horizontes culturais e críticos, de ser capaz de refletir e formar opinião de modo profundo e claro. A dominação cultural é o modo de tirar a liberdade do povo sem criar conflitos ou derramar sangue...

A língua está profundamente ligada a cultura de um povo. Ela é o meio pelo qual um povo expressa seu modo de viver e de sentir o mundo ao seu redor. Este caminho não aprimora a língua, ao contrário, ele é um atraso que deixará conseqüências por gerações inteiras dependendo do tempo que durar esta loucura...

Meus amigos, eu faço um apelo: se você, como eu, já tomou conhecimento desta situação e, como eu, está indignado, não fique calado! Vamos manifestar nossa indignação com esta direção que estão dando a educação no nosso país. É o futuro de nossas crianças e jovens que está em jogo. Se nos calarmos agora choraremos amargamente amanhã. Precisamos resistir e reverter esta situação. Educadores, pais, amantes do saber de todos os lugares, por favor, manifestem-se. Vamos encher a internet, os jornais, todas as mídias que se tenha acesso, com nosso protesto.

Talvez alguém pense que estou sendo dramático ou exagerando o quadro. Deus queira que você esteja certo e eu totalmente (1000%) errado. Por que, do contrário, a situação poderá ser até pior do que o que eu apresentei de forma recortada acima.

P.S. : Se tiver algum erro no texto acima não é a “nova gramática” não. Ou é erro de digitação ou é erro de português mesmo...

Obrigado pela sua paciência em ler até aqui!!

Um abraço!

Augusto Lívio


Os 10 mandamentos do Casal

Estou retomando a idéia de postar alguns textos sobre do casamento... este eu achei muito simpático. Espero que gostem...



Uma equipe de psicólogos e especialistas americanos, que trabalhava em terapia conjugal, elaborou “Os Dez Mandamentos do Casal”. Eles trazem muita sabedoria para a vida e a felicidade dos casais. Afinal, é
mais fácil aprender com o erro dos outros do que com os próprios.
Adaptação: Prof. Felipe Aquino

1. Nunca irritar-se ao mesmo tempo
A todo custo evitar a explosão. Quanto mais a situação é complicada, mais a calma é necessária. Então, será preciso que um dos dois acione o mecanismo que assegure a calma de ambos, diante da situação conflitante.  É preciso convencermo-nos de que, na explosão, nada será feito de bom. Todos sabemos bem quais são os frutos de uma explosão: apenas destroços, morte e tristeza. Portanto, jamais permitir que a explosão chegue a acontecer.
2. Nunca gritar um com o outro
A não ser que a casa esteja pegando fogo. Quem tem bons argumentos não precisa gritar. Quanto mais alguém grita, menos é ouvido. Gritar é próprio daquele que é fraco moralmente e precisa impor pelos gritos aquilo que não consegue pelos argumentos e pela razão.
3. Se alguém deve ganhar na discussão, deixar que seja o outro
Perder uma discussão pode ser um ato de inteligência e de amor. Dialogar jamais será discutir, pela simples razão de que a discussão pressupõe um vencedor e um derrotado, e no diálogo não. Portanto, se por descuido nosso, o diálogo se transformar em discussão, permita que o outro “vença”, para que mais rapidamente ela termine. Discussão no casamento é sinônimo de “guerra”, de luta inglória. Que vantagem há em se ganhar uma disputa contra aquele que é a nossa própria carne? É preciso que o casal tenha a determinação de não provocar brigas; não podemos nos esquecer que basta uma pequena nuvem para esconder o Sol. Às vezes uma pequena discussão esconde por muitos dias o Sol da alegria no lar.
4. Se for inevitável chamar a atenção, fazê-lo com amor
A outra parte tem que entender que a crítica tem o objetivo de somar e não de dividir. É necessário que haja uma conversa construtiva; e essa é amorosa, sem acusações e condenações. Antes de apontarmos um defeito, é sempre aconselhável apresentar duas qualidades do outro. Isso funciona como um anestésico para que se possa fazer o curativo sem dor. E reze pelo outro antes de abordá-lo em um problema difícil. Peça a Deus que prepare o coração de seu cônjuge para receber bem o que você precisa dizer-lhe. Deus é o primeiro interessado na harmonia do casal.
5. Nunca jogar no rosto do outro os erros do passado
A pessoa é sempre maior que seus erros e ninguém gosta de ser caracterizado por seus defeitos. Toda vez que acusamos a pessoa por seus erros passados, estamos trazendo-os de volta e dificultando que ela se livre deles. Certamente não é isto que queremos para a pessoa amada. É preciso todo o cuidado para que isto não ocorra nos momentos de discussão. Nestas horas, o melhor é manter a boca fechada. Aquele que estiver mais calmo, que for mais controlado, deve ficar quieto e deixar o outro falar até que se acalme. Não revidar em palavras, senão a discussão aumenta e tudo de mau pode acontecer, em termos de ressentimentos, mágoas e dolorosas feridas. Portanto, como ensina Thomás de Kemphis, “primeiro conserva-te em paz, depois poderás pacificar os outros”.
6. A displicência com qualquer pessoa é tolerável, menos com o cônjuge
Na vida a dois, tudo pode e deve ser importante, pois a felicidade nasce das pequenas coisas. A falta de atenção para com o cônjuge é triste na vida do casal e demonstra desprezo para com o outro. Seja atento ao que ele diz, aos seus problemas e aspirações.
7. Nunca ir dormir sem ter chegado a um acordo
“Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento” (Ef 4,26b) Se isso não acontecer, no dia seguinte, o problema poderá ser bem maior. Não se pode deixar acumular problema sobre problema sem solução. Já pensou se você usasse a mesma leiteira, que já usou no dia anterior, para ferver o leite sem antes lavá-la? O leite certamente azedaria. O mesmo acontece quando acordamos sem resolver os conflitos de ontem. Os problemas da vida conjugal são normais e exigem de nós atenção e coragem para enfrentá-los, até que sejam solucionados, com dedicação e, principalmente, com amor. A atitude da avestruz (a da fuga) é a pior que existe. Deve-se buscar a solução com paz e perseverança.
8. Pelo menos uma vez ao dia, dizer ao outro uma palavra carinhosa
Muitos têm reservas enormes de ternura, mas esquecem de expressá-las em voz alta. Não basta amar o outro, é preciso dizer isto também com palavras. Especialmente para as mulheres, isto tem um efeito quase mágico. É um tônico que muda completamente o seu estado de ânimo, humor e bem-estar. Muitos homens têm dificuldade neste ponto; alguns por problemas de educação, mas a maioria porque ainda não se deu conta da sua importância. Como são importantes essas expressões de carinho que fazem o outro crescer: “eu te amo”, “você é muito importante para mim”, “sem você eu não teria conseguido vencer este problema”, “a tua presença é importante para mim”; “tuas palavras me ajudam a viver”… Diga isto ao outro com sinceridade toda vez que experimentar o auxílio edificante dele.
9. Cometendo um erro, saber admiti-lo e pedir desculpas
Admitir um erro não é humilhação. A pessoa que admite o seu erro demonstra ser honesta consigo mesma e com o outro. Quando erramos não temos duas alternativas honestas, apenas uma: reconhecer o erro, pedir perdão e procurar remediar o que fizemos de errado, com o propósito de não repeti-lo. Isto é ser humilde. Agindo assim, mesmo os nossos erros e quedas serão alavancas para o nosso amadurecimento e crescimento. Quando temos a coragem de pedir perdão, vencendo o nosso orgulho, eliminamos quase de vez o motivo do conflito no relacionamento e a paz retorna aos corações. É nobre pedir perdão!
10. Quando um não quer, dois não brigam
É a sabedoria popular que ensina isto. Será preciso então que alguém tome a iniciativa de quebrar o ciclo pernicioso que leva à briga. Tomar esta iniciativa será sempre um gesto de grandeza, maturidade e amor. E a melhor maneira será “não pôr lenha na fogueira”, isto é, não alimentar a discussão. Muitas vezes é pelo silêncio de um que a calma retorna ao coração do outro. Outras vezes será por um abraço carinhoso ou por uma palavra amiga.

FONTE: http://eventu.biz/blog/2008/08/27/reflexao-os-10-mandamentos-do-casal/



domingo, 15 de maio de 2011

APENAS OBSERVANDO... (Frei Beto)



Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do  Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. 
        Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. 
         Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?" 

        Estamos construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente  infantilizados.
         Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!
        Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
         Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” 

        A publicidade não consegue vender felicidade, então passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,  usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!"

         O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo o condicionamento. 

        Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas... 
         Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
         Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.

 
        Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald... 
        Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:  "Estou apenas fazendo um passeio socrático". Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!”
 FREI BETTO

domingo, 8 de maio de 2011

BENDITA ÉS TU, MÃE, ENTRE AS MULHERES



No evangelho de Lucas, no capítulo primeiro, Isabel diz a Maria :”Bendita és, tu, entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre”. Nestas palavras de Isabel encontramos um belo louvor ao dom da maternidade. 
Claro que o evangelista se refere a maternidade de Maria que, com seu “ser mãe”, colabora com o projeto amoroso de Deus que quis ter uma mãe e participar de nossa humanidade como caminho de salvação para todos os seres humanos.

Deste modo, Deus revela que a maternidade é também dom de salvação para a humanidade devendo, portanto, ser tratada com respeito, dignidade e gratidão.

Inspirado neste texto quero deixar neste dia também meu louvor a todas as mulheres que assumiram este dom e vivem esta vocação em meio a alegrias e desafios...

Bentida és tu, MÃE, entre todas as mulheres, pelo dom da vida que geras em teu ventre!

Bentida és tu, MÃE, pelo teu ventre fecundo e teu seio farto de onde brotam a vida e o sustento da humanidade em qualquer língua, cultura ou religião!

Bentida és tu, MÃE, pelo amor entregue em cada gesto de cuidado, carinho, sacrifício!

Bentida és tu, MÃE, pela vida doada nas renúncias para que pudéssemos viver e crescer: horas de sono perdidas, desejos pessoais abdicados, planos alterados!

Bentida és tu, MÃE, pela dureza misturada com ternura nas horas difíceis em que precisas educar e corrigir, ensinando que não estamos sempre certos e que os erros fazem parte da vida!

Bentida és tu, MÃE, por não nos deixar crescer em teu coração, mas sempre nos amar como teus filhinhos!

Bentida és tu, MÃE, por sempre ficar ao nosso lado, mesmo quando erramos, para que não nos sintamos sozinhos e para que possamos reencontrar o caminho!

Bentida és tu, MÃE, porque mais do que com palavras, nos ensinas com a vida que o amor não é feito de boas intenções, mas de gestos concretos vividos a cada dia!

Bentida és tu, MÃE, que divides tua vida entre o trabalho e o lar, numa jornada dupla de trabalho, para ajudar a sustentar a família e dar dignidade aos teus filhos!

Bentida és tu, MÃE, que sem um companheiro, precisa ser também “pai”, redobrando os esforços para nos amar, educar e sustentar.

Bentida és tu, MÃE, e sempre serás bendita, mesmo que alguém abandone seu próprio filho ou queira tirar-lhe a vida, pois o ser MÃE é um dom, uma vocação, que existe para o bem de todos nós, indo além da dimensão biológica.

Bentida és tu, MÃE!

Pe. Augusto Lívio.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Quem é a favor e quem é contra a beatificação de João Paulo II ?

Diante de todo o movimento feito em torno da batificação do venerável Papa João Paulo II, muita coisa interessante apareceu na rede. Li grandes elogios a este homem único do final do século XX, como também li  criticas a sua beatificação diante de diversas questões que vieram a tona no início deste século XXI.

Achei interessante postar aqui pelo menos um texto de cada ponto de vista. Por isso o título desta postagem é "Os que são a favor e os que são contra a beatificação de João Paulo II"

Leia as postagens e tire sua próprias conclusões. Acho interessante podermos ver este debate, por isso o compartilho com todos vocês.

Boa reflexão!!

> A perspectiva de alguém que se opõe a beatificação de João Paulo II:

Teólogo não perdoa João Paulo II pelo ''doloroso isolamento'' de Oscar Romero

O teólogo italiano Giovanni Franzoni, que foi abade da Basílica de São Paulo Extramuros testemunhou em 2007 no Vaticano contra a beatificação de João Paulo II, a quem não perdoa pelo "doloroso isolamento" do bispo salvadorenho Óscar Arnulfo Romero, assassinado em 1980 por paramilitares enquanto rezava a missa.

A reportagem é do sítio Religión Digital, 28-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

O senhor faz parte do grupo de teólogos e intelectuais que criticam a beatificação do dia 1º de maio de João Paulo II. Como nasceu essa iniciativa?
Além de querer manifestar nossa condenação à repressão do pensamento teológico católico, fiquei pessoalmente afetado pelo isolamento sofrido pelo bispo Óscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador. Eu vivia em Manágua, Nicarágua, trabalhava no centro Valdivieso, e uma freira me confiou que havia encontrado Romero em Madri, de regresso do Vaticano em 1979, destruído, aflito após a audiência com o Papa. Dizia que nunca havia se sentido tão sozinho como depois desse encontro.
Ele sempre foi um moderado, mas o fato de os campesinos que podiam tomar posse da terra após a reforma agrária terem sido encontrados com gente armada, o indignou. Por isso, pôs a disposição a emissora da diocese, em que eram denunciadas todas as atrocidades e violações dos direitos humanos, a matança de sindicalistas salvadorenhos. Inclusive o assassinato de um próximo colaborador seu. Ele levou toda essa documentação ao Vaticano.
O Papa foi frio, tomou a documentação e a pôs de lado, enquanto comentava: "Disse mil vezes que não me tragam tantos documentos que não consigo ler", e o exortou: "Trate de estar de acordo com o governo". Isso lhe deixou consternado, o destruiu.
Os esquadrões da morte não podiam matar um bispo que estava no coração do Papa. Podiam matá-lo só se estivesse isolado, abandonado.

Quais são as objeções que o senhor fez oficialmente ao Vaticano?
Como a Congregação para as Causas dos Santos anunciou que podiam ser levadas provas em favor ou contra da beatificação de Karol Wojtyla, eu resolvi, junto com outros teólogos e historiadores, enviar, com uma carta certificada, uma documentação ao vicariato de Roma, com a qual considerávamos os limites do seu pontificado. Depois de um ano e meio, me convocaram oficialmente. Fiz sete objeções fundamentais.
Em 27 anos de pontificado, após viajar por todo o mundo, cheguei à conclusão de que ele não havia feito nada para esclarecer o papel da mulher na Igreja. Ignorou a teologia feminista. Outra coisa que me tocou foram os tráficos financeiros do Vaticano. O papel deDom Paul Marcinkus, presidente do Instituto para as Obras Religiosas (IOR), que foi protegido. O pontífice violou gravemente a virtude da prudência e da força.
O Tribunal vaticano foi respeitoso comigo e me pediu que não publicasse nada até que o processo fosse concluído.
Entre as objeções figura a forma como ele tratou os casos de pedofilia?
Não. Esse é o oitavo ponto. O caso estourou depois. João Paulo II é o responsável por ter protegido o arcebispo deViena, Hans Hermann Groer, seu amigo pessoal, que teve que renunciar a pedido dos outros bispos. Um caso único. Não foi processado, simplesmente renunciou.

O senhor não acredita no milagre aprovado pelo Vaticano?
Poderia responder que sim, mas que não se deve sacralizá-los. Também poderia responder que não, não acredito nos milagres. No Evangelho, diz-se que Jesus multiplicou o pão e os peixes para dar de comer às pessoas, e que as pessoas o seguiram contentes. Depois lhes disse: "Vocês me seguem porque lhes dou de comer. Sigam-me por minha palavra". Demoliu assim o milagre.
O milagre é ambíguo. Pode enviar sinais parar atingir nossas emoções e fantasias com fatos excepcionais, mas são frutíferos se servirem para mudar. Se substituem o pão que é preciso comprar é algo ridículo.

Vê mais sombras do que luzes no pontificado?
Misturam-se duas figuras: o Papa como homem e o Papa como político. No documento que eu enviei ao Vaticano, reconheço-lhe uma atitude humana, como na segunda Guerra do Golfo, quando convidou o número dois do regime do Iraque ao Vaticano, um ato forte, e por ter clamado pela paz. Eu, pessoalmente, sou contra essas canonizações, acredito que são algo arcaico. O que conta são as perseguições do primeiro século, os mártires. Essa fábrica de santos, para os quais é preciso demonstrar um milagre, não sei. Para mim são santos os que tentaram apagar o reator de Fukushima, no Japão, sabendo que morreriam. Eles sim são santos.



> A perspectiva de alguém que é a farvor da beatificação de João Paulo II:

Um liberal que gosta do beato João Paulo II

"Os santos não foram perfeitos. Eles foram humanos. você não tem que concordar com tudo o que um santo disse ou escreveu para admirá-lo/la. A meu ver, qualquer pessoa que visita a cela da prisão do seu suposto assassino e perdoa esse homem é um santo".

A opinião é do jesuíta norte-americano James Martin, editor de cultura da revista dos jesuítas dos EUA, America. Martin é autor de best-selllers dos EUA como My Life with the Saints [Minha vida com os santos] (2006) e The Jesuit Guide to (Almost) Everything: A Spirituality for Real Life [O guia jesuíta para (quase) tudo: Uma espiritualidade para a vida real] (2010).

O artigo foi publicado no blog In All Things, do sítio da revista America, 26-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Eu sou um católico "liberal". Também sou um admirador do Beato João Paulo II.
Essas duas coisas podem parecer contraditórias, especialmente com a crescente consternação, em alguns círculos, com relação à perceptível "pressa" da sua beatificação. Em suma: a Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano renunciou ao período de espera normal de cinco anos antes de começar o seu processo ou "causa". Embora isso não seja sem precedentes (a causa da Madre Teresa também foi acelerada), o espaço entre a sua morte e a sua beatificação certamente o é.

Houve também preocupações legítimas sobre se ele merece ser homenageado em função daquilo que são vistos como os seus erros como papa. Além das queixas vociferantes sobre o tratamento dado por ele às crises dos abusos sexuais em todo o mundo, muitos se opuseram ao seu antigo apoio ao fundador agora desacreditado da Legião de Cristo, o padre Marcial Maciel, que mais tarde foi revelado como um dos piores de todos padres abusadores. (Defensores respondem que João Paulo fez o que pôde com relação ao abuso; que ele era idoso e doente; e que ele foi enganado por Maciel).

Quanto à pressa, e como alguém que tem escrito sobre os santos, eu sou a favor de que cada candidato seja sujeito ao mesmo cuidadoso processo de análise. Por um lado, é injusto favorecer alguém simplesmente porque ele ou ela é mais conhecido/a. Por outro lado, pode dar a impressão de que tudo está sendo feito da forma mais rápida (especialmente quando alguns dos que supervisionam o processo foram colocados em seus cargos pelo próprio candidato), possivelmente manchando a reputação do santo para as gerações futuras.

Por outro lado, o Vaticano é muito claro ao responder à vontade do povo, milhões dos quais são devotos do Papa João Paulo II ("Santo subito!", gritavam eles em seu funeral). Como a Madre Teresa, ele é objeto do que os teólogos chamam de "devoção popular". Ironicamente, algumas das mesmas pessoas preocupadas com a pressa da canonização são aquelas que também acreditam que o Vaticano precisa "ouvir" mais cuidado e mais frequentemente a voz do "Povo de Deus". Então: eles estão ouvindo.

Mais importante ainda, um milagre atribuído à intercessão do falecido Papa (isto é, às suas orações do seu posto no céu a Deus) foi autenticado pelo Vaticano. Assim, Deus parece estar em favor da pressa. Isso deveria servir como trunfo para a maioria das preocupações das pessoas.

Quanto a divergências sobre o seu papado, eu mesmo tinha minhas diferenças com o Papa João Paulo II, tecnicamente meu ex-chefe. (Quem não discorda do chefe de vez em quando?). Ele nem sempre foi o maior fã da Companhia de Jesus (também conhecida como os Jesuítas, a minha ordem religiosa), embora algumas de suas suspeitas parecem ter se originado junto a alguns de seus assessores.

Quando, em um movimento sem precedentes em 1981, ele repentinamente removeu Pedro Arrupe, o amado superior-geral dos jesuítas, do seu posto, um grande número de jesuítas ficaram desanimados e irritados. João Paulo, suspeito com o trabalho dos jesuítas na "teologia da libertação" (uma abordagem que enfatiza a libertação dos pobres do sofrimento, como Jesus tinha), aparentemente foi informado por alguns conselheiros de que os jesuítas seriam desobedientes após a sua demissão pública de Arrupe . Nós não o fomos. Ao longo dos anos, várias fontes me disseram que João Paulo ficou surpreso com a nossa fidelidade – e satisfeito. Ele mudou sua opinião sobre os jesuítas. Anos depois, ele visitou o adoentado Arrupe antes da morte do jesuíta. (Aliás, eu acredito que o Padre Arrupe foi um santo).

No entanto, eu sou um admirador de João Paulo, uma pessoa a quem o filósofo Hegel sem dúvida chamaria de uma figura "histórico-mundial". Como pode ser isso? Para explicá-lo, deixe-me indicar duas coisas que têm estado largamente ausentes de alguns dos comentários críticos.

Primeiro, os santos não foram perfeitos. Eles foram humanos. A santidade sempre tem o seu lar na humanidade. E os santos, profundamente conscientes de suas próprias faltas, seriam os primeiros a admitir isso. A santidade não significa perfeição. A noção de que um santo comete erros – até mesmo grandes – parece não ter ocorrido a poucas pessoas. Errar, afinal, é humano. Seus defensores podem admitir que João Paulo foi humano e cometeu erros – até mesmo grandes? E seus críticos podes perdoá-lo pelos erros que fez durante o seu tempo na Terra?

Segundo, e talvez de forma mais importante, você não tem que concordar com tudo o que um santo disse ou escreveu para admirá-lo/la. Um dos meus santos preferidos éThomas More, mártir inglês do século XVI, que a maioria das pessoas conhecem da peça (e do filme) O Homem que Não Vendeu sua Alma. Mas eu não concordo – para dizer o mínimo – com o seu apoio à queima indiscriminada de "hereges" (ou seja, de não cristãos). Nisso, nós nos dividimos.

Uma autoridade do Vaticano afirmou recentemente que o Papa Bento XVI está beatificando seu antecessor por quem ele era como pessoa, não pelo que ele fez durante o seu papado. Em suma, ele não está sendo nomeado "beato" por suas decisões como Papa. Isso faz sentido. A beatificação (e, posteriormente, a canonização) não significa que tudo o que ele fez como Papa esteja agora de algum modo além da crítica. (Nada mais do que tudo o que São Thomas More fez está além da crítica: será que devemos acreditar que os hereges devem ser queimados porque More foi canonizado?). Por outro lado, essa linha de pensamento é um pouco mistificadora: porque você não pode separar as ações de uma pessoa da sua vida pessoal.

Mas a ênfase sobre a vida pessoal é importante. A Igreja beatifica um cristão, não um administrador. Sob essa luz, João Paulo II claramente merece ser um beato e, posteriormente, um santo. Karol Wojtyla, certamente levou uma vida de "santidade heróica", como diz a frase tradicional. Ele foi fiel a Deus em situações extremas (nazismo, comunismo, consumismo). Ele foi um "evangelista" incansável, isto é, um promotor do Evangelho, mesmo em face de uma enfermidade grave. E ele trabalhou ardentemente pelos pobres do mundo, como Jesus pediu que seus seguidores fizessem.

O novo beato era orante, destemido e zeloso. Foi, em suma, santo. E, a meu ver, qualquer pessoa que visita a cela da prisão do seu suposto assassino e perdoa esse homem é um santo.

Assim, depois de sua beatificação, eu vou rezar para o falecido Papa por sua intercessão. Do seu lugar no céu, ele vai entender se eu nem sempre concordei com ele sobre cada questão ou decisão. Ele não vai estar preocupado com isso. De fato, na companhia de Jesus, de Maria e dos santos, essa será a última coisa que Karol Wojtyla vai estar pensando.
Beato João Paulo II, rogai por mim.




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