domingo, 11 de setembro de 2011

PENSANDO NA VIDA E NA MORTE


Estes últimos dias têm sido para mim marcados por situações muito desafiadoras. Pessoas próximas, amigas e conhecidas, enfrentam momentos difíceis de doenças graves e uma querida amiga faleceu. Tudo isso me tem feito pensar, então senti o desejo de escrever sobre isso tudo...

Estava me lembrando de uma conversa que tive com alguém há muito tempo atrás sobre se era bom ou não dizer a alguém que está com uma doença grave que sua vida está em risco ou, se for o caso, que sua doença não tem cura e que ela irá morrer dentro de algum tempo.

Essa pessoa dizia que era melhor não dizer nada porque a pessoa poderia ficar deprimida ou desesperada e isso pioraria seu quadro, mas eu defendia a idéia de que se fosse comigo eu gostaria de saber. Mais ainda, eu achava (e ainda acho) que tinha o direito de saber sobre meu estado, pois isso seria determinante para a qualidade de vida do tempo que me restasse.

Lembrei-me desta conversa diante das situações que tenho vivido nestes dias em contato com tanto sofrimento de pessoas próximas a mim...

Acredito que a vida é um dom, um presente que recebemos e que viver é realmente algo maravilhoso, entretanto, também sei que a vida é frágil e limitada, somos todos mortais e a realidade da morte é nossa companheira constante... diria mais, nossa companheira inseparável, mesmo que silenciosa e discretamente despercebida.
Fugir dessa realidade é negar um fato: não podemos fugir dela.

Então, precisamos saber viver cada dia, cada momento, sem cair em imediatismos, mas sabendo que nossa vida constrói também a vida dos outros, por isso não posso ser irresponsável com a minha.
Minha vida está em relação com tudo: as pessoas, as coisas, o mundo ao meu redor. Viver é, então, mais do que aproveitar o que puder sem pensar no amanhã, mas é viver bem cada momento pensando no amanhã: no meu e no de todos os demais.

Diante da realidade da morte também não quero ter medo ou fugir, pois é uma perda de tempo. Quero abraçá-la e saber acolhê-la em minha vida como um momento a mais, que não se pode evitar para sempre.
Saber que um dia vou morrer, ou, talvez, saber que tenho um tempo limitado de vida por causa de uma enfermidade, me dá a oportunidade de melhorar a qualidade do tempo que me resta, avaliar o que devo fazer com mais cuidado, procurando tirar o máximo de proveito de cada coisa.

Porém, eu sei que este modo de pensar não é o das outras pessoas. Algumas pensam assim, outras, certamente pensariam em “quebrar tudo”, “chutar o pau da barraca”, entrariam em desespero ou cairiam numa vida entregue a todos os excessos possíveis. Isto significa que diante da realidade da morte se revela a nossa verdade mais fundamental: os meus verdadeiros pensamentos, valores, a verdade de quem sou eu...

Isto não é impressionante??!! Parece que somente nesta hora, diante desta realidade certa e intransferível que é a nossa morte, é que confirmamos ou revelamos a verdade de quem nós somos.

Meu Deus, como o ser humano perde seu tempo com tantas bobagens, e nisto perde a si mesmo também! Gastamos nosso precioso tempo lutando por coisas que, no final, veremos que nada são: lutamos por cargos, por dinheiro, por sucesso, por poder, por reconhecimento, por saúde, por conforto, por tantas coisas, mas no final vemos que esquecemos o que era mais importante: dizer a quem está perto de nós que o amamos, perdoar ao invés de gastar tempo precioso odiando, andar mais devagar e saborear a beleza do que está no caminho de nossa vida (amigos, familiares, a natureza, a arte, a música, um bom livro), encher nosso coração de bons sentimentos e pensamentos que nos elevam e nos fazem ver como a vida (e a vida de cada ser) é bonita.

Lembro-me agora de Renata, uma querida amiga falecida nesses dias. Jovem ainda partiu devido a complicações de uma enfermidade que estava tratando. Lembro-me dela porque nestes dias ouvi tantas coisas bonitas sobre ela, sobre sua alegria, sua capacidade de cativar as pessoas, de aproximar os amigos, sua simplicidade, sua atenção com os outros, tantas qualidades surgiram e foram lembradas com carinho e saudade por tantas pessoas que tiveram a alegria de conhecê-la e de conviver com ela. Partindo jovem ela deixou de viver muitas coisas ainda, porém, acredito que esses testemunhos mostram que ela viveu bem aquilo que lhe foi possível e isto é o mais importante.

Quantas pessoas vivem até a velhice e no final não tem nada a agradecer ou a recordar que realmente tenha sido bonito, significativo, que mereça ser recordado. Quando olham para trás se perguntam: “o que fiz da minha vida?”. Isto sim é mais triste e mais terrível do que a própria morte, pois se da morte não fugimos, pois não temos poder para mudá-la, de uma vida sem sentido podemos fugir, mudar, escolher o caminho, por mais difícil que seja a vida de cada pessoa. Não escolher saber viver bem a própria vida é insanidade, é desperdiçar este presente maravilhoso que é viver.

Bem, amigos e amigas, este texto é mais um desabafo do que um pensamento bem ordenado. Sei que muitas idéias devem estar meio perdidas pelo caminho, mas penso que este assunto não dá para falar simplesmente de modo acadêmico, técnico. Quis falar de modo muito pessoal e compartilhar com vocês estes pensamentos e sentimentos.

Espero que isso ajude a vocês a refletirem sobre tudo isso também.
Vamos viver bem a vida para saber abraçar nossa morte quando ela chegar sem desespero ou pesar. Saber viver é fundamental para saber morrer..

Eu quero aprender as duas coisas. Peço a Deus que me ajude a alcançar esta graça!

Pe. Augusto Lívio.

2 comentários:

  1. Caríssimo padre, gostei muito do seu texto (desabafo). Mas, se me permite, quero também expressar minhas reflexões sobre esse tema que pra mim é motivo de inquietação.

    Pois bem, olhar a vida é como ver um quadro, é como ver uma obra de arte. Algumas pessoas gostam de arte, perdem (ou ganham) horas contemplando a beleza de um quadro, de uma estátua, de uma arte. Outras, porém nem a percebe, por vezes quando conseguem enxergar, no máximo, olham com aquele olhar de quem nega a existência, ou simplesmente "não tô entendendo!"...

    O que quero dizer é que existem várias formas de se ver o mesmo quadro; belo, feio, novo, velho, lipo, sujo... Do mesmo modo, existem várias formas de se ver e viver a vida, inclusive, de não percebê-la, de negá-la como algumas pessoas não percebem a arte.
    Entretanto, creio que só há uma forma de se enxergar a morte; não enxerga-la, não vê-la, afinal quem é que sabe o que é morrer? "quando estamos vivos, é a morte que não está presente: ao contrário, quando a morte está presente nós é que não estamos". (EPICURO, 341 a.C.)

    Ao invés de preocupar-se com a morte, o homem deve estar preocupado em ser e viver a vida, afinal não existe nenhum erro no pensamento de quem não vê nenhum problema com a morte mesmo quando esta é esperada, pois os que não vivem sofrendo com a espera da morte, não são mais estúpidos do que os outros que dispõem de tempo para temer a morte, porque “aquilo que não nos perturba quando presente, não deve afligir-nos enquanto está sendo esperado”

    Acredito que a vida é sim uma obra de arte... entretanto, também sei que algumas obras de arte não são belas, e tem o seu tempo de existência, são perecíveis da mesma foram que a vida também é.

    Contudo, negar essa realidade (perecível)não é negar um fato, não é fuga, ao contrário é mais uma forma de ser, viver e enxaergar a vida. É mais uma das várias formas de ver o mesmo quadro.

    Eu quero aprender a viver e só isso.
    Jr Paiva.

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  2. Padre Augusto,

    Realmente este é um tema que mexe muito com a gente e ficamos divididos.

    Acho que nestes casos se aplica o dito popular: "Cada caso é um caso".

    É preciso uma sabedoria do alto para lidar com estas situações.

    Aqui vale o alerta de São Tomás de Aquino, de quem sou devoto de carteirinha: " Se não sabes como tratar a ferida, é melhor não mexer nela".

    Assim como tem os fortes na fé, devemos lembrar dos fracos na fé, aos quais Deus e não nós, tem a sua Pedagogia.

    Shalom !!!

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