quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O violento circo máximo (Pe. Zezinho)

Gays e lésbicas saem às ruas, protestam se afirmam, grevistas param o trânsito, MST invade terras, soltam panfletos, pressionam. A lei diz que podem, desde que não cometam crimes contra a pessoa e contra o patrimônio. Quando cometem, se o Governo quer, são processados. Se o Governo lhes é simpático, empurra-se o processo para algum longo depois. Nem por isso são chamados de obscurantistas. Entre eles há os imaturos e arruaceiros e há os sérios que têm um propósito social ou político no que fazem.

Religiosos também. Há os sérios e os tonitruantes e provocadores que exigem seus direitos aos gritos não sem alguns ataques a quem não crê do jeito deles. Isso porém, não torna todos os religiosos moderados que, contudo, defendem a vida desde o primeiro instante da concepção, indivíduos com fome de poder ou ultrapassados. O MST quer a reforma agrária, os gays querem respeito ao que sentem e os religiosos querem respeito à vida do feto.

Isto não significa que de um lado estejam os ateus e do outro os religiosos, posto que também há ateus defendendo o feto. E nem todos os que tomam a defesa da grávida são ateus. Há religiosos que apoiam a extração do feto, se a grávida estiver em risco de vida.

O fato é que na sociedade brasileira há os que desejam que o aborto não seja mais visto como crime pelas nossas leis e há os que sempre o verão como crime. Mata-se uma vida de 14 ou 30 dias. E aí? Isso torna o outro um homem das cavernas? O eu é modernidade? Querer o direito de extinguir um humano que apenas começou ou defendê-lo já no seu primeiro dia de vida?

O debate que nunca é apenas racional porque se trata da apaixonada defesa de alguém que não é coisa, acaba como acabou, descambando para palavrões, adjetivos cruéis e pejorativos e acusações de ponta a ponta, tudo por conta de um feto que ainda não nasceu, mas que já é objeto de ataque ou de defesa.

Os que morreriam na Arena do Circus Maximus, aplaudidos pela civilização de morte que se tornara a Roma Imperial, voltavam-se para César que permitia sua morte e gritavam: Salve César, os que morrerão te saúdam. Hoje é a vez dos fetos gritarem pela voz de seus advogados: Salve Modernidade. Os fetos que serão extraídos te saúdam! E os modernos imperadores nada poderão fazer, porque outra civilização de morte decretou que interromper sua vida não será mais crime!

Argumento apelativo ou verdade incontestável? Querem ou não querem mudança no Código Penal? Querem ou não querem mudar o que Brasil assinou com a maioria dos países do mundo: que o feto tem o direito de nascer? Querem ou não querem, em nome da grávida que não quer ser mãe daquele determinado feto, que se pense na saúde delas e se suprima seu feto em clínicas limpas? Não há quem não sabia que aborto mal feito pode matar a grávida, mas também não há quem não saiba que aborto bem ou mal feito sempre mata o feto!

Então, sofistas até o extremo, decidem que o feto não tem direitos porque ainda não é pessoa! Rebaixado à categoria de pequeno monte de carne indesejado pela mãe, ele se torna carne humana descartável por lei, porque o bem-estar atual da pessoa adulta que o gerou é mais importante do que sua chance de se tornar pessoa. Vale o agora da mãe. O "depois" do feto não conta! Afinal é só um feto!

É o que diziam os romanos: -Afinal é só mais um escravo que morrerá! Que mais ele quer? Vai morrer com honra, no Circo Máximo! Romanos que se achavam superiores aos outros humanos não conseguiam entender que alguém, com ideais obscurantistas que não cabiam em Roma, quisesse defender um candidato às feras ou ao gládio. É que na sociedade romana havia os que tinham o direito de viver e os que simplesmente deveriam morrer. O império que se alimentava de corrupção ciladas palacianas, golpes de Estado, sedição, sedução, aliados e correligionários, pão e circo, tirara este poder dos deuses! Agora, mandava o império!

Estamos caminhando naquela direção: vale dizer: modernidade em marcha-ré! Mas adivinhem quem eles acusam de retrocesso! Quem defende o futuro!

Pe. José Fernandes de Oliveira, scj



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